Uma mulher internada em estado de coma há quase 21 anos pode ter sido uma criança desaparecida em 1976, em Guarapari, no Espírito Santo. Apelidada de Clarinha, ela está em um leito do Hospital da Polícia Militar de Vitória desde que foi atropelada por um ônibus, em 2000.
Clarinha deu entrada na unidade de saúde sem documentos pessoais. Várias formas de identificar a paciente foram tentadas durante as últimas duas décadas, todas sem sucesso. Mas, no ano passado, novos exames fizeram aumentar a expectativa pela descoberta da identidade da mulher.
Um grupo de papiloscopistas da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) em atuação no Espírito Santo tomou conhecimento do caso e entrou em contato com o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), que vinha atuando na tentativa de descobrir quem é Clarinha.
A equipe utilizou uma técnica de comparação facial, com buscas em bancos de dados de pessoas desaparecidas com características físicas semelhantes às de Clarinha, explicou o MPES, por meio de nota.
A partir desse trabalho, os papiloscopistas chegaram a uma criança de 1 ano e 9 meses de idade desaparecida em Guarapari, em 1976. Na época do desaparecimento, a família da menina, que é de Minas Gerais, passava férias no Espírito Santo.
Clarinha aparenta ter cerca de 40 anos, de acordo com o MPES. Essa idade é considerada compatível com a da criança sequestrada quando passeava em família pelas praias de Guarapari.
Novos procedimentos foram realizados para comparar as semelhanças físicas entre a menina desaparecida e Clarinha. Um exame de reconhecimento facial foi feito por uma empresa paranaense especializada neste tipo de trabalho, a pedido do MPES. O resultado confirmou que as imagens de Clarinha e a da criança desaparecida em 1976 são compatíveis.
Uma outra etapa do processo de identificação está em andamento. O MPES requisitou o perfil genético de Clarinha a um laboratório. Material genético da paciente também foi enviado para a Polícia Civil de Minas Gerais, que mantém arquivados os dados dos pais da criança desaparecida em Guarapari.
Os materiais coletados de Clarinha e da menina que sumiu em 1976 serão comparados. "O Ministério Público capixaba solicitou a comparação entre os perfis genéticos e, nesse momento, aguarda o resultado dos procedimentos adotados pela Polícia Civil mineira", informou o MPES.
Tentativas de identificação
Clarinha foi atropelada em uma avenida movimentada no centro de Vitória. De acordo com testemunhas, ela fugia de um perseguidor não identificado.
Inicialmente, a paciente foi levada para o antigo Hospital São Lucas, na capital capixaba, e passou por diversas cirurgias. Posteriormente ela foi encaminhada para o Hospital da PM e desde então vive em estado vegetativo, sendo tratada pelo corpo médico e enfermeiros.
Em 2016, uma reportagem do Fantástico deu novo ânimo para quem tentava descobrir a verdadeira identidade de Clarinha. Após a veiculação, 102 famílias procuraram o MPES tentando identificar a paciente como uma possível parente desaparecida.
Desse total, 22 casos avançaram por terem apresentado dados similares ao perfil de Clarinha ou fotos parecidas com a paciente. Em seguida, testes de DNA foram feitos mas os resultados mostraram-se incompatíveis para traços familiares.
Agora, tanto o MPES quanto os profissionais do Hospital da Polícia Militar, em Vitória, estão na expectativa de que o mistério sobre a identidade de Clarinha finalmente seja desvendado.