Zovico lembrou que cirurgias foram suspensas devido ao agravamento da pandemia / Foto: Ana Salles
Mais de 2,5 mil pessoas aguardam na fila para realizar cirurgia bariátrica no Espírito Santo. Há pacientes esperando há cinco anos uma oportunidade de realizar o procedimento. Os dados foram apresentados pelo médico José Tarcisio Barroso Zovico, cirurgião do aparelho digestivo e coordenador do serviço de cirurgia bariátrica do Hospital Evangélico, de Vila Velha. Ele participou de reunião extraordinária da Comissão de Saúde realizada nesta terça-feira (23).
Segundo o especialista, três centros realizam cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Espírito Santo: o Hospital Evangélico de Vila Velha; o Hospital das Clínicas (Hospital Universitário – Hucam), em Vitória; e o Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim. Em Cachoeiro, os dados da fila de espera não estão compilados, mas o hospital realiza cerca de 30 cirurgias bariátricas por mês.
O Hucam tem realizado uma média de oito cirurgias por mês e tem uma fila de cerca de 850 a 900 pacientes. Esses pacientes estão inscritos no programa desde 2018. Atualmente, por conta da pandemia de Covid-19, as inscrições estão fechadas.
Já o Hospital Evangélico de Vila Velha tem 1.670 pessoas aguardando a oportunidade. Estão sendo chamados pacientes inscritos em março de 2016, portanto, pessoas que esperam há cinco anos para serem operadas. As inscrições no hospital também estão fechadas.
Além das 1.670 pessoas confirmadas na fila de espera, há 4,2 mil no banco inativo, ou seja, pacientes com os quais o hospital não conseguiu contato no último censo realizado, mas que podem ser reintegrados ao programa caso demonstrem interesse. “Estamos com uma demanda reprimida absurda”, frisou o coordenador do serviço.
Covid
O médico salientou a importância da cirurgia bariátrica, principalmente nesse momento de pandemia de Covid-19, em que já foi constatado que a obesidade e as doenças relacionadas a ela – como diabetes e hipertensão – são fatores de risco para o agravamento da infecção. Além disso, Zovico ressaltou que a doença também é fator de risco para vários tipos de câncer, como o de intestino, de mama e pâncreas, por exemplo.
O cirurgião explicou que a cirurgia é o tratamento indicado para pacientes com obesidade grau III, que são aqueles com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40, e para os com obesidade grau II (IMC acima de 35), com outras doenças associadas. “A obesidade é uma pandemia. É uma doença que afeta todas as camadas sociais, todas as idades e ambos os sexos”.
O especialista salientou, ainda, que as cirurgias estavam sendo realizadas com toda segurança e nenhum paciente operado pelo programa do Hospital Evangélico de Vila Velha teve complicações decorrentes de infecção pelo novo coronavírus. Atualmente, as cirurgias estão suspensas devido ao agravamento da pandemia.
“Não tivemos conhecimento de nenhum paciente nosso, que já realizou cirurgia bariátrica, que a infecção por coronavírus tenha evoluído. No ano passado, já fomos muito penalizados pela suspensão das cirurgias eletivas. Agora voltamos a suspender as cirurgias. O paciente fica adoecendo na fila de espera e correndo risco de pegar o coronavírus”, disse.
Secretaria de Saúde
O convidado solicitou à comissão uma intervenção na Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para que o programa de cuidado ao paciente obeso seja retomado pela pasta. De acordo com o médico, havia no governo anterior uma servidora que fazia essa interlocução entre os serviços de cirurgia bariátrica e a secretaria, mas, atualmente, não há ninguém responsável pelo tema.
Ele também relatou que é necessária a criação de mais um centro para atender à região norte do estado e um hospital de Colatina havia manifestado interesse em abrir o programa, mas o assunto teria sido abandonado pela Sesa. “A secretaria precisa chamar para si essa responsabilidade de organização dos centros, para que mais um centro seja criado no norte do estado”, disse. “Nossa principal solicitação é que a Comissão de Saúde faça uma intervenção para que essa linha de cuidado ao obeso possa acontecer”, solicitou.
O presidente do colegiado, deputado Doutor Hércules (MDB), afirmou que a comissão agendará uma audiência com o secretário de Saúde, Nésio Fernandes, para tratar da demanda.