Comunidade quilombola Monte Alegre encerra projeto de valorização do patrimônio imaterial

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Redação

O projeto contou com patrocínio da ES Gás, por meio da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (Foto: Luan Volpato)

No último sábado (25), aconteceu o encerramento do projeto Memórias do Quilombo Monte Alegre, que desde agosto vinha sendo realizado na comunidade quilombola de mesmo nome, no interior de Cachoeiro de Itapemirim. Por meio da iniciativa, buscou-se transmitir aos jovens locais conhecimentos sobre o caxambu – expressão de origem afro-brasileira embalada por versos cantados e batidas de tambores – e sobre a história do grupo de caxambu Santa Cruz, certificado como patrimônio imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Por meio da oralidade e da prática, todos os ensinamentos foram transmitidos pelas mestras de caxambu do quilombo: Maria Laurinda Adão, Adevalmira Adão Felipe, Geralda Nogueira Calixto e Neuza Gomes Ventura, que também integram rodas de conversa entre os idosos da comunidade. Pontuadas por lições de vida e histórias que remontam ao período da escravatura no Brasil, os encontros com as crianças sempre culminam com as palmas, os cantos, as danças e os batuques da tradicional roda de caxambu. As oficinas foram mediadas pela contadora de histórias Maria Elvira Tavares Costa e pela professora Luciene Carla Correia Francelino.

Essa edição de encerramento do projeto contou com a visita de diversos grupos: Caxambu Alegria de Viver, de Vargem Alegre; Caxambu do Horizonte, de Alegre; Caxambu da Família Rosa, de Muqui; Jongo Mestre Bento, de Itapemirim; Bate Flechas de São Sebastião, de Jacu; e a Capoeira Filhos da Princesa do Sul, de Cachoeiro.

“Isso enriquece demais o projeto, pois promove a interação entre grupos que, apesar de praticarem o mesmo folguedo, possuem particularidades na sua forma de organização e de apresentação”, afirma Genildo Coelho Hautequestt Filho, arquiteto, produtor e coordenador de projetos da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense. “Sem dúvida é um trabalho que se encerra de forma muito positiva, fortalecendo os integrantes desses grupos que representam o que a história do sul do estado tem de mais valioso”, acrescenta.

O projeto Memórias do Quilombo Monte Alegre conta com patrocínio da ES Gás, viabilizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (LICC), da Secretaria da Cultura (Secult).

A iniciativa buscou transmitir aos jovens locais conhecimentos sobre o caxambu (Foto: Luan Volpato)

A iniciativa buscou transmitir aos jovens locais conhecimentos sobre o caxambu (Foto: Luan Volpato)

Integração

Outro projeto que está, paralelamente, em andamento em Monte Alegre é o Ponto de Memória Quilombola, que também se baseia na premissa de levar às novas gerações todos os ensinamentos a respeito da história da comunidade e de seus antepassados, bem como ensinamentos acerca do caxambu. 

A iniciativa promove o fortalecimento do grupo de caxambu Santa Cruz, hoje comandado pela mestra Maria Laurinda Adão, tendo em perspectiva a continuidade das tradições por meio das crianças e dos adolescentes locais, que precisam passar por esse processo de compreensão e de amadurecimento a fim de dar seguimento ao trabalho que vem sendo realizado.

“Tendo incentivos como esse é que a gente vai conseguir passar nossos conhecimentos aos jovens. Eles se interessam muito pela história do quilombo e pelas rodas de caxambu, e precisamos mesmo de momentos assim, de reunião com eles”, ressalta Maria Laurinda Adão.

O projeto Ponto de Memória Quilombola é realizado com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), da Secult.

 Maria Laurinda e a comenda (Divulgação)

Em reconhecimento por sua longa trajetória de vida dedicada à cultura, às tradições de seu povo e, sobretudo, à luta em defesa da população negra, a mestra Maria Laurinda Adão recebeu a Comenda Domingos Martins, na noite da última sexta-feira (24), durante sessão solene em homenagem às mulheres negras na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, em Vitória – evento que integrou a programação da 1ª Jornada Antirracista, uma iniciativa da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos.

Bisneta de escravizados, Maria Laurinda Adão nasceu em 1943 no Quilombo Monte Alegre, distrito de Pacotuba, Cachoeiro de Itapemirim, onde reside até hoje. É mestra de caxambu, parteira, coveira, líder comunitária, mãe de santo, ativista e uma das maiores representantes da identidade e da cultura negra no Espírito Santo e no Brasil. 

Há mais de 60 anos, está à frente do grupo de caxambu Santa Cruz e detém o título de Patrimônio Vivo de Cachoeiro de Itapemirim, recebido em 2010, por meio da Lei Mestre João Inácio. Sua importante trajetória de vida já foi registrada no documentário “Todas as faces de Maria” (2012) – projeto que se transformou em um livro de mesmo nome no ano seguinte e, posteriormente, em exposição fotográfica, exibida em Vitória, Santa Leopoldina, Santiago (Chile) e Cachoeiro de Itapemirim, entre 2014 e 2016.

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