Cidade de 1,4 mil anos é descoberta embaixo de cinzas

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Vista da área de escavação na Praça de Domiciano, adjacente ao centro político da cidade romana

Um distrito de 1,4 mil anos na antiga cidade de Éfesos, composto por um ambiente comercial e gastronômico bizantino, foi escavado na Turquia embaixo de uma camada de cinzas. O local incrivelmente bem preservado fora destruído por incêndio em 614 ou 615 d.C.

A área do município foi encontrada durante escavações neste ano de 2022 por arqueólogos da Academia Austríaca de Ciências, que divulgaram o achado no último dia 28 de outubro. O lugar recém-descoberto fica na Praça Domiciano, adjacente ao centro político da cidade romana, a Alta Ágora.

As investigações fazem parte de um grande projeto de pesquisa sobre as mudanças de Éfeso entre o Império Romano e a Antiguidade Tardia. Sabine Ladstätter, a responsável pelas escavações desde 2009, conta em comunicado que o bom estado de conservação dos achados foi completamente inesperado, “bem como o tempo exato da destruição e as implicações para a história urbana que podem ser derivadas disso”.

Restos de cerâmica encontrados nas escavações em Éfeso - Foto: OeAW-OeAI/Niki Gail

Restos de cerâmica encontrados nas escavações em Éfeso — Foto: OeAW-OeAI/Niki Gail

A equipe se focou em investigar uma estrutura composta por várias instalações comerciais que cobrem uma área de cerca de 170 m². Moedas antigas ali encontradas provam que o complexo esteve em funcionamento até 614 ou 615 d.C. Ao todo, eram 700 moedas de cobre e quatro de ouro.

Havia salas conservadas com até 3,4 metros de altura, completamente seladas por uma camada de destruição maciça. Entre elas, uma cozinha, uma despensa, uma taberna, uma loja de lembranças de peregrinos cristãos e uma oficina com uma área de vendas anexa.

Pesquisador Nikolaus Schindel analisando os achados de moeda - Foto:  OeAW-OeAI/Niki Gail

Pesquisador Nikolaus Schindel analisando os achados de moeda — Foto: OeAW-OeAI/Niki Gail

Nessas salas havia milhares de peças de cerâmica, incluindo taças inteiras com restos de mariscos como berbigão (Anomalocardia brasiliana) ou ostras, bem como ânforas recheadas com peixe cavala (Acanthocybium solandri) salgado.

Também foram encontradas 600 pequenas garrafas vendidas aos peregrinos cristãos e que podiam ser usadas no pescoço. Havia ainda joias de ouro, caroços de pêssegos, amêndoas e azeitonas, mas também ervilhas e legumes carbonizados.

“Os achados arqueológicos nos mostram uma destruição por um incêndio maciço que deve ter sido repentino, dramático e importante”, disse Ladstätter. “Não será mais possível determinar o dia exato da destruição, mas a avaliação das frutas encontradas pelo menos esclarecerá a estação do ano.”

Foi encontrada uma grande quantidade de ânforas, algumas de Éfeso (marrom), outras importadas do norte da África (bege) - Foto:  © OeAW-OeAI/Niki Gail

Foi encontrada uma grande quantidade de ânforas, algumas de Éfeso (marrom), outras importadas do norte da África (bege) — Foto: © OeAW-OeAI/Niki Gail

Os pesquisadores não encontraram indícios de que um terremoto teria devastado Éfeso, pois as paredes não mudaram, nem os pisos subiram e não havia nenhum resto humano. No entanto, várias pontas de flechas e pontas de lança indicaram que houve um conflito militar.

Xícaras usadas para beber vinho encontradas em Éfeso - Foto:  © OeAW-OeAI/Niki Gail

Xícaras usadas para beber vinho encontradas em Éfeso — Foto: © OeAW-OeAI/Niki Gail

Moedas da mesma época das de Éfeso foram achadas em Sardes, a cerca de 100 quilômetros, comprovando destruição dentro desta cidade turca. Esses itens monetários foram associados a invasões do oeste da Ásia Menor pelos sassânidas persas, mas isso ainda é contestado por estudos.

“Embora até agora tenha sido possível observar a partir de evidências arqueológicas que a cidade se tornou menor aos trancos e barrancos no século 7 e o padrão de vida caiu significativamente, as razões para isso não eram claras”, afirma a especialista.

Como a circulação de moedas despencou, caindo para um nível muito mais baixo do que nos séculos anteriores, provavelmente teremos que vincular esse capítulo na história urbana de Éfeso com as guerras sassânidas, de acordo com Ladstätter.

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