Fósseis de dinossauro de 80 milhões de anos encontrados por acaso em rodovia de São Paulo

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Paleontólogos foram acionados depois que trabalhadores das obras de duplicação na BR-153, no interior de São Paulo, encontraram o primeiro fóssil — Foto: DIVULGAÇÃO / WILLIAM NAVA via BBC

Fósseis de dinossauro foram encontrados durante obras de duplicação da rodovia BR-153, no quilômetro 85, em Mirassol, no interior de São Paulo, no fim de semana. A suspeita é de que o material encontrado seja de um titanossauro, espécie que viveu no período cretáceo, conhecido como período final da "Era dos dinossauros", há 80 milhões de anos.

Segundo paleontólogos, foram encontrados um fragmento de fêmur de cerca de 80 centímetros, um úmero (osso da perna dianteira), uma vértebra caudal e um dente de dinossauro. Os fragmentos estavam a cerca de dez metros de profundidade e levaram aproximadamente dez horas para serem extraídos.

"Eles estavam em um barranco que estava sendo escavado. Por estarem próximos, acreditamos que sejam todos de um mesmo animal, com exceção do dente, que foi encontrado a 30 metros dos demais", diz o paleontólogo William Nava, responsável pelo Museu de Paleontologia de Marília, que ajudou no trabalho de retirada dos fósseis.

Os fragmentos foram levados para o Museu de Paleontologia Pedro Candolo, em Uchoa, também no interior paulista, para que paleontólogos pesquisem qual a espécie do fóssil. O trabalho de análise deve durar em torno de um ano.

"A gente começou a fazer a preparação dos fósseis, que é a remoção total do bloco de rocha onde eles estão inseridos, assim teremos acesso total aos ossos para identificar quais suas características. Depois disso, os comparamos com outros fósseis do mesmo grupo e assim vemos se é de alguma espécie já conhecida ou até mesmo de uma espécie inédita", explica Fabiano Vidoi Iori, paleontólogo do Museu Pedro Candolo.

Detalhe de dois ossos — o fêmur (à esquerda) e o úmero (à direita) —, encontrados a cerca de dez metros de profundidade — Foto: DIVULGAÇÃO / WILLIAM NAVA via BBC

Ainda, de acordo com os paleontólogos, o mais provável é que os fósseis pertençam ao grupo de titanossauros Saurópodes – quadrúpedes, de pescoço longo, herbívoros e que viveram predominantemente na América do Sul. Esses animais teriam, aproximadamente, de 12 a 15 metros de comprimento, e pesavam entre 10 e 15 toneladas.

O encontro

Um primeiro fóssil foi encontrado por funcionários da concessionária Triunfo Transbrasiliana, responsável pelas obras de duplicação na BR-153, no interior de São Paulo.

Durante a escavação de um barranco, há 15 dias, os trabalhadores desconfiaram de uma rocha esbranquiçada e buscaram informações com paleontólogos da região.

"Inicialmente, eles achavam que se tratava de uma formação mineral. Pedi para eles me enviarem fotos para que eu pudesse analisar, e logo percebi que se tratava de um fóssil de dinossauro", recorda Nava.

Acredita-se que os fósseis sejam de um titanossauro, espécie que viveu no período cretáceo, há 80 milhões de anos — Foto: HUGO CAFASSO via BBC

O local foi isolado e preservado. A Agência Nacional de Mineração – ANM e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente – IBAMA, foram notificadas sobre a descoberta e uma força-tarefa foi montada no último sábado para a retirada do material.

"É um trabalho minucioso e demorado porque precisamos preservar o máximo possível do fóssil e também termos cuidado porque era uma área de barranco. Quando escavamos a rocha encontrada pelos trabalhadores, logo nos deparamos com mais dois fragmentos fósseis. Apesar da profundidade, eles estavam muito bem preservados", acrescenta Nava.

Além dos paleontólogos, engenheiros da concessionária que realiza as obras na rodovia e a Polícia Rodoviária Federal também acompanharam as escavações, para garantir a segurança dos especialistas que trabalhavam no local.

Importância

Para os paleontólogos, os achados históricos são importantes para ajudar a desenhar o cenário em que esses animais viviam há milhões de anos no interior do Estado de São Paulo – área onde é muito comum o encontro de fósseis.

 

Os fragmentos levaram aproximadamente dez horas para serem extraídos — e o trabalho de análise deve durar agora em torno de um ano — Foto: DIVULGAÇÃO / WILLIAM NAVA via BBC

"Os estudos sobre a paleofauna da região vêm se ampliando bastante, assim como a descoberta de novos sítios fossilíferos. Um achado como esse não só amplia a área de ocorrência de materiais de titanossauros na região, como permite conhecer melhor a diversidade desse grupo e como ele interagia com os outros animais já descoberto na nossa região", acrescenta Iori.

Outras descobertas

Essa não é a primeira vez que trabalhadores encontram fósseis de dinossauro durante obras de duplicação em rodovias paulistas.

Em outubro do ano passado, partes do fêmur e da costela de um dinossauro que viveu há pelo menos 65 milhões de anos foram encontradas na Rodovia Rachid Rayes (SP-333), na altura do km-341, em Marília (SP). O fóssil estava a cinco metros de profundidade e foi localizado por funcionários da Entrevias Concessionária de Rodovias, enquanto eles faziam a escavação de um talude às margens da pista.

Quatro meses antes, as obras de duplicação da Rodovia Dona Leonor Mendes de Barros (SP-333), na divisa entre Marília e Júlio Mesquita, interior de São Paulo, tiveram que ser paralisadas depois que trabalhadores encontraram um fóssil da pata de um titanossauro.

Já neste ano, pesquisadores descobriram uma espécie inédita de dinossauro-anão que viveu na região de São José do Rio Preto, também no interior de São Paulo. Chamado de Ibirania parva, um titanossauro do grupo saurópode, com cinco a seis metros de comprimento e herbívoro. Ele foi considerado o primeiro dinossauro-anão das Américas.

A descoberta foi proveniente de um trabalho realizado desde 1999 sendo publicado na revista científica internacional Ameghiniana.

Também em setembro de 2022, pesquisadores publicaram na mesma revista a descoberta de uma espécie inédita de rã que viveu com dinossauros, há 90 milhões de anos. A descoberta dos fósseis foi durante as obras de duplicação da rodovia Comendador Pedro Monteleone (SP-351), em 2011.

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