Quem diria que o antigo e famoso mimeógrafo, que deixava a mão da gente toda lambuzada de carbono arroxeado, fosse precisar de uma autorização especial da aduana do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro? E que ninguém duvide, que só com documentação timbrada, o pobre mimeografo conseguirá sair do Brasil com destino a uma missão especial no Qatar, e ainda por cima em plena Copa do Mundo de Futebol. Em que mundo estamos vivendo?
Mas apesar de ser ressuscitado da nossa pré-história tupiniquim, e hoje ser visto como jurássico por uma nação contaminada pela falta de memória, o tal mimeografo parece que voltou para ficar. Só que dessa vez, foi promovido à categoria de maquinário estratégico de segurança nacional, com a função espinhosa de auxiliar em eventuais blackouts de alta tecnologia, envolvendo informação secreta.
Quando chegou a notícia que para conseguir sair do pais, o pobre diacho precisava de guia especial de exportação, alguém gritou no fundo da sala: “Raspa com uma faquinha a placa de identificação do mimeógrafo. Pra não deixar rastro! É melhor prevenir, do que remediar! ” Claro! É que sem procedência nem data, o passado fica morto de maneira definitiva. Já ficaram encobertas pela poeira do passado, ou sepultadas sob montanhas de tralharia em armazéns de ferro velho, as recordações do bendito mimeógrafo, no roda-roda da manivela dos movimentos estudantis e sindicalistas dos anos 60 e 70, na heroica missão de panfletagem, que ainda fazia sentido naqueles tempos em que o pais era inocente e romântico. No final das contas, pouco a pouco foram aposentando o incômodo mimeografo, e acabamos assistindo pela primeira vez uma Copa do Mundo a cores pela tv, e conquistamos definitivamente a posse e guarda da Taça Jules Rimet, até aquela jóia de ouro ser roubada, na noite do dia 19 de dezembro de 1983. O roubo aconteceu no prédio da CBF, na Rua da Alfândega, 70, centro do Rio de Janeiro. Oh, mundo cão!
Mas indo direto ao assunto, a verdadeira razão de ressuscitar o velho mimeografo, foi um problema ocorrido com um lote de pendrives, todos de 1 Terabyte, levado clandestinamente para o Catar. O misterioso pacote de pendrives tinha memória suficiente para armazenar toda a história do Brasil, desde a Proclamação da República em 1889, até o resultado das últimas eleições presidenciais, e simplesmente desapareceu com a ajuda e um “tapete mágico das arábias”, durante a primeira partida do Brasil na Copa. E todo mundo achando que o mais grave era a contusão do Neymar, enquanto escafedeu-se com a ajuda de Aladim, um volume imenso de documentos da nossa história republicana, com publicações oficiais, gravações, decretos, listas de votação do TSE, listas de Whatsapp, todas as “fake News”, segredos de 100 anos, ufa!…. Nem vale a pena perder tempo para listar a maçaroca de documentos que estavam ali armazenados nos benditos pendrives de 1T.
Não demorou muito para que a notícia logo se espalhasse pelo Lago Sul da capital federal, com ecos na Avenida Paulista, e nos shopping-centers da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Reunião pra cá, reunião pra lá, e o planalto de pernas pro alto, diante do risco iminente da operação Pendrive Copa Brasil cair na mão de malfeitores, sob o risco de nossa soberania ser ameaçada por algum ato de terrorismo informático.
E foi assim, que o tal mimeografo entrou pela janela na Esplanada dos Ministérios, com um truque digno do Homem Aranha, com suas teias montadas às pressas, e oito mimeógrafos sendo consertados em turnos de 24 horas, por especialistas escalados em diferentes regiões do pais. A ordem era clara! O mimeógrafo acima de tudo! E a essa altura da novela dos pendrives abduzidos no Catar, ninguém vai querer perder o trem da história, e colocar a cabeça a prêmio.
Veio como um raio divino, a ordem de uma missão ultrassecreta engendrada pelo GSI, com a informação de que os tais pendrives estariam disponíveis para cópia em papel, logo após fosse confirmada a classificação do Brasil para as oitavas de final. Era inquestionável a estratégia de utilizar o velho mimeografo na missão de recuperar toda a documentação perdida. Ainda por cima, com o funcionamento mecânico do mimeografo, evita-se que alguma impressora Wi-Fi possa ser invadida em um cyber ataque. E mesmo que gaste papel, carbono, álcool, e espalhe as malditas manchas arroxeadas por todo o corpo, a confiabilidade da nossa amada quinquilharia revolucionária, tornou-se infalível diante dos olhos do poder.
Com tudo já planejado para trazer de volta ao Brasil duas toneladas e meia de cópias mimeografadas no Catar, por sorte tivemos o apoio de uma companhia aérea do meio oriente, que gentilmente disponibilizou um avião Cargo para o transporte exclusivo da montanha de papeleiro copiada dos pendrives. E pronto! Parece que tudo foi resolvido. Ao menos por enquanto! Mas agora tem uma coisa que está me intrigando bastante. É que esta manhã, fui procurar meus pendrives na gaveta da minha escrivaninha, e eles também desapareceram. Quem teria interesse em roubar os meus pendrives? Seja como for, vou dar uma olhadinha no Mercado Livre e ver se já compro logo um mimeógrafo reciclado.