Os dentes do vampiro

Por Rodrigo Alves de Carvalho

/

05/08/2024

Rodrigo Alves de Carvalho

Jornalista, escritor e poeta

Conde Drácula, o temível mestre das trevas, famoso vampiro secular que aterrorizou e aterroriza inocentes seres notívagos até hoje, se encontrou com Vladmir, sua mais recente aquisição vampiresca.

— Escravo de minhas presas sanguinárias, por que estás amuado? Saia! Vá beber o sangue quente que corre nas veias dos incautos!

— Sabe o que é seu conde, esse negócio de vampiro não deu muito certo.

— Como assim criatura infeliz? Te transformei em um ser das trevas para que alcançasse a imortalidade e agora diz que não deu certo?

— Olha seu conde, no começo eu até que estava gostando, o senhor mordeu meu pescoço e disse que iria me transformar num vampiro também.

— Sim.

— Mas, depois que as duas presas dos meus dentes começaram a crescer, achei muito desconfortável. Eu não parava de passar a língua. Eu ficava nervoso de tanto que passava a língua nas minhas presas.

— Isso era só falta de costume, criatura ridícula!

— Eu sei. Depois de um tempo me acostumei um pouco com os dois dentões pontudos e aí finalmente já poderia sair de noite para chupar sangue das pessoas. Mas foi nessa hora que os problemas realmente aconteceram.

— Quais problemas pupilo incompetente?

— Eu não tinha a menor vontade de chupar sangue. Sabe, negócio nojento! E mais, morder uma pessoa parecia um ato tão violento e sem sentido!

— Mas você é um vampiro!

— Eu sei, eu sei, mas não tinha nada a ver comigo. Para falar a verdade sempre tive um certo nojo por sangue. Toda vez que via algum machucado sangrando me dava vontade de vomitar. Por isso, não conseguia gostar do bendito sangue de jeito nenhum!

— Você é uma vergonha para nossa classe. Sujeito imprestável. Se não se alimentar de sangue irá desfalecer e morrerá para sempre!

— Ah, mas isso não é o único problema.

— Por que criatura ordinária?

— Porque decidi após várias tentativas frustradas de chupar sangue das pessoas e não ter a menor vontade de beber aquele líquido viscoso e vermelho, que iria retirar as presas.

— Como assim?

— Fui num dentista e pedi para arrancar os dois dentões de vampiro. Pelo menos resolvi o problema da língua que ficava passando nas presas.

— E por que agora estás aí todo amuado e moribundo se escondendo pelos cantos, amarelado e esquelético?

— É que depois que arranquei as duas presas, começou a me dar uma vontade louca e viciante de experimentar um sanguinho tirado na hora!