A humanidade como a conhecemos constituiu-se na África, há cerca de 200 mil anos. O manguezal, como ecossistema, já existia muito tempo antes. Ele resulta de plantas completas que se adaptaram à água salobra formada pelo encontro da água doce dos rios com a a água salgada do mar, consistindo no que estuários. Mas os manguezais não crescem apenas em estuários. Também podem se formar em praias e lagoas que mantém contato com o mar desde que na zona tropical.
Costuma-se localizar a origem do ecossistema manguezal no Sudeste Asiático, há 60 milhões anos, aproximadamente. Desse ponto, ele navegou, através de suas sementes (propágulos), para leste e oeste, alcançando e colonizando todas as costas intertropicais. Devemos lembrar que os continentes eram mais próximos naquela época do que hoje, permitindo que a viagem fosse menos longa. No decorrer dela, o manguezal foi se diversificando com novas espécies. Hoje, em todo o mundo intertropical, o ecossistema está representado pelos gêneros Rhizophora e Avicennia. O manguezal promoveu uma das globalizações anteriores à do ocidente.
Desde sua origem como ecossistema, o manguezal cumpre serviços ambientais importantes sem a mínima consciência de sua função. Ele produz alimentos para a fauna aquática, terrestre e alada, tanto em seu interior quanto a jusante, no mar. É ambiente propício à reprodução da fauna aquática, principalmente. Protege a zona costeira contra ventos, marés e ressacas. Agora, descobre-se que o manguezal estoca consideráveis volumes de gás carbônico, contribuindo para combater o efeito-estufa.
Os grupos humanos também se beneficiam dos manguezais. Em primeiro lugar, eles são atraídos pelos alimentos vivos que habitam o manguezal, como moluscos, crustáceos e peixes, além de aves e mamíferos. Não é casual a ocorrência de sambaquis ao lado de manguezais. Aliás, a arqueologia é a ciência humana que mais contribui para demonstrar a importância do manguezal para grupos sociais em todos os continentes na zona tropical. São esqueletos de pessoas e de animais; ferramentas de pedra e artefatos de cerâmica nas bordas de manguezais, atestando a presença humana junto ao ecossistema e sua dependência em relação a ele.
Sabemos que as civilizações situadas inteira ou parcialmente no âmbito da zona tropical costeira mantiveram contato com manguezais. Num contexto em que já se praticava a agricultura e o pastoreio, a cerâmica, a tecelagem e a metalurgia, o extrativismo de um modo geral e especificamente em manguezais passou a ter segundo plano nessas sociedades complexas. Essa marginalização dos manguezais, deixados a pescadores dependentes total ou parcialmente do extrativismo, explica a ausência de informações.
Os manguezais acabam sendo registrados como risco à navegação e como fornecedores de lenha e de madeira para mastros e construções. Para viajantes, o manguezal surpreende e encanta por ser uma floresta costeira crescendo dentro d’água. Árvores em ambiente alagado não era novidade para nenhum povo. As florestas em pântanos e banhados eram comuns. O que causava surpresa eram floresta na beira do mar, crescendo em água salobra e com estranha anatomia.
Civilizações inteiras se desenvolveram junto a manguezais. No entanto, não encontramos referências documentais sobre eles e registros pictóricos nessas civilizações. Não conhecemos figuras de espécies de mangue entre as culturas mesopotâmica, egípcia, hinduísta, chinesa, japonesa, indochinesa, andina, maia e asteca.
Nenhuma informação no Périplo do mar Vermelho e no Périplo de Hanon, roteiros náuticos sobre o oceano Índico e o oeste da África. Megástenes, nascido na Ásia Menor, viveu entre cerca de 350 e 290 a. C. Ele atuou como embaixador dos Selêucidas, um dos reinos sucessores do Império de Alexandre, na Índia. Parece ter conhecido o superdelta do Ganges e outros rios, que se misturam a ele. Ali, existe uma das mais notáveis áreas de manguezal do planeta. Ele escreveu um livro sobre a Índia os manguezais. Pena que tenha se perdido.
Em sua “Geografia”, o grego Estrabão (c. 64-24 a.C.) transcreve vários trechos escritos por Eratóstenes (276-194 a.C.). Um deles, refere-se ao ecossistema manguezal: “…ao longo da costa oeste do mar Vermelho (golfo Pérsico), no fundo da água crescem árvores como o loureiro e a oliveira. Quando o mar recua, as árvores são vistas em sua totalidade, e quando está alto elas ficam às vezes totalmente cobertas. Isto é particularmente notável porque a costa atrás delas não tem árvores”.
Outra referência foi deixada pelo poeta latino Virgílio (70-19 a.C), em sua “Geórgicas” “… o próprio Oceano gera florestas na Índia (…) até o fim do mundo (…) aquelas pessoas não sejam vagarosas com a aljava, suas flechas não podem ir além do topo das árvores.”