A situação das duas principais avenidas de Lagoa Funda, em Marataízes, é o retrato perfeito do descaso que podem atingir contribuintes e cidadãos em nosso país.
A Avenida Domingos Martins, no pequeno trecho que corta o bairro, é absoluta precariedade. Nossa principal via de acesso, assim como todas as outras, permanece há décadas sem pavimentação. Dizem as más línguas que, nos registros oficiais, ela é tida como asfaltada, sem que se saiba onde foi parar a verba destinada à obra. Não sabemos se a informação é verdadeira, porque autoridade nenhuma se digna a prestar esclarecimentos a nós, humildes contribuintes do lugar. Mas, se é, trata-se de um caso em que a lama política transcendeu a metáfora para derramar-se concretamente sobre a nossa singela avenida, triste festival de buracos e barro. Um escândalo à espera de denúncia.
Na avenida Atlântica, à beira-mar, a situação não difere muito. Logo após ficar dois longos anos em obra para o calçamento de seus humildes dois quilômetros de extensão, ela ruiu inteiramente, destroçada pela falta de planejamento de outra obra que pretendia – e não se pode dizer que tenha conseguido – consertar os estragos do mar na Praia Central. Mal e porcamente recuperada, a nossa beira-mar é um descalabro, com sua plaquinha vexatória, improvisada por moradores: “Cuidado, rua desmoronando”.
Com isso, viver em Lagoa Funda é desfrutar de uma grande aventura todos os dias. Enduro melhor não há. Nos dias secos, a poeira sobe pelas ruas esburacadas e sem calçamento e, levada pelo vento, alcança até as partes mais altas do bairro. Mas é com os temporais que a emoção aumenta. A lama toma conta de tudo, de todas as ruas, das pernas corajosas dos pedestres, dos ônibus e carros, da alma da gente. A chuva transforma Lagoa Funda em um mangue.
Assim sobrevivemos neste que podia ser um confortável recanto maratimba, que recuso-me a chamar de Nova Marataízes, pois de novidade, aqui, nada encontramos – nem ruas pavimentadas, nem rede de esgoto, nem iluminação e coleta de lixo eficientes. Não sei se é porque somos poucos eleitores. Mas é como se pertencêssemos a um município em penúria, e não a esta Marataízes que arrecada anualmente mais de R$ 30 milhões apenas com os royalties do petróleo.
Assim é viver em Lagoa Funda: é permanecer isolada a poucos metros do centro da cidade. É desanimar de construir, investir, empreender. É afundar-se diariamente na desesperança e na falta de confiança nas autoridades. É quase arrepender-se todos os dias de ter escolhido este lugar. O que nos salva é a mania de ser otimista, e teimar em acreditar que, qualquer dia, os políticos conseguirão ver como é vergonhoso para o seu currículo ter um bairro assim bem no centro de sua cidade.