Jorge morava numa casinha meia água com teto de zinco. A casa de Jorge ficava tão quente no verão, que fazia uma sauna parecer câmara fria.
Jorge detestava o calor de sua casa. Tentou colocar ventiladores, mas apenas espalhava o mormaço; tentou jogar água com uma mangueirinha sobre o telhado, porém, só gastava água e o calor não diminuía.
Sua casa parecia um inferno de tão quente naquele final de dezembro e início de janeiro.
Jorge sentia inveja dos peixes.
Os peixes viviam nas águas e provavelmente não sentiam calor.
Por isso, Jorge queria ser um peixe.
Com suas minguadas economias, conseguiu comprar uma piscina.
Dessas piscinas plásticas para crianças.
Mas, não colocou a piscina no quintal, mas sim, bem no centro de sua sala.
Ficava o dia inteiro deitado na piscina com a água até o pescoço, se refrescando. E podia a casa com teto de zinco estar pegando fogo, para Jorge, a água o protegia, pois se sentia um peixe.
Sua vontade de virar um peixe era tanta, que comentou com os amigos que um dia, iria para o Amazonas e se transformaria num Boto.
Por enquanto, Jorge estava satisfeito com sua piscina e nos dias de folga do final de ano, não saia de dentro da água.
Assistia TV, comia e dormia dentro da piscina, só saia para ir ao banheiro.
Na noite da virada do ano, Jorge acabou dormindo na piscina e sua cabeça foi para dentro d’água, ficou submerso durante toda noite, e aos poucos, se transformou em um peixe, mas não em um Boto como queria e sim, em um grande Pacu.
No outro dia, os amigos chegaram em sua casa para desejarem feliz ano novo, mas não encontraram Jorge, que dizia ir para o Amazonas virar um Boto.
Encontraram apenas o Pacu nadando alegre dentro da piscina.
Os amigos foram categóricos:
— Já que o Jorge foi para o Amazonas virar Boto, não vai se importar se a gente assar esse Pacu, para nosso almoço de ano novo.
P.S.: Quero agradecer e desejar a todos os editores, redatores, jornalistas e, principalmente, a todos os leitores, Boas Festas e um feliz 2024!