Holocenologia

Por Arthur Soffiati

/

10/02/2022

Arthur Soffiati

Intelectual por vocação e ofício, ecólogo militante, pioneiro da área de História Ambiental no país

Vivemos na época geológica chamada Holoceno, que deriva do grego holos (todo ou inteiro) e kainos (inteiramente recente). A palavra expressa o insustentável orgulho do ser humano consigo mesmo e com suas obras. Não vivemos num tempo inteiramente recente nem inteiramente passado. A duração do Holoceno ainda é muito curta. Estima-se que tenha apenas 11.700 anos. A Terra tem 4.500 bilhões de anos. O ser humano, na forma em que o conhecemos hoje, existe a cerca de 200 mil anos.

O Pleistoceno, época anterior à atual, foi dominada por intensas oscilações climáticas. Ora muito frio (as glaciações), ora quente (os intervalos entre as glaciações). Talvez, o Holoceno seja um intervalo interglacial. Pode ser que a Terra volte a congelar num novo tempo glacial. Talvez estejamos ainda no Pleistoceno a caminho de uma nova glaciação. Vivemos um período em que a Terra está mais quente e que pode ser substituído por novo período muito frio. A tendência atual é de aquecimento progressivo como resultado das ações humanas.

No fim do Pleistoceno e início do Holoceno, espécies vegetais e animais se extinguiram pela radical mudança do clima. O mamute, o dente de sabre, o mastodonte não se adaptaram ao aquecimento do planeta. O hemisfério norte estava coberto de gelo até a Espanha, mais ou menos, enquanto que, no hemisfério sul chovia muito. As florestas tropicais eram bem maiores. Onde hoje é o deserto do Saara, estendia-se uma grande floresta.

Com a mudança do clima, alguns grupos humanos que, como todos os outros, viviam da coleta, da pesca e da caça, passaram a domesticar plantas e animais, criando a agricultura e o pastoreio. Foi uma resposta ao desafio lançado pelas mudanças climáticas. Essas novas atividade permitiram que tais grupos adotassem um modo de vida sedentário. As doenças transmissíveis se tornaram mais comuns e perigosas, pois, estabelecidos num lugar, o acúmulo de lixo e de pessoas favoreceu a transmissão de micro-organismos patogênicos. Em grupos que sempre se movimentavam, as doenças transmissíveis eram menos frequentes. Nunca a humanidade viveu de forma tão fixa e tão móvel como hoje. As grandes cidades do mundo promovem aglomerações e os meios de transporte cada vez mais rápidos transportam organismos patogênicos, como o vírus da covid-19, a todos os lugares da Terra.

Mas não se pense que o clima no Holoceno permaneceu estável o tempo todo. Além das oscilações anuais que marcam as quatro estações do hemisfério norte e as duas do hemisfério sul, houve períodos longos mais quentes ou mais frios que o atual. No início do Holoceno, as temperaturas eram muito baixas. O nível dos oceanos situava-se até cem metros abaixo do atual, mais ou menos. Muitas das atuais ilhas eram então ligadas, formando pontes que permitiram grupos humanos provenientes da Ásia povoarem a Austrália e a América. As temperaturas começaram a subir, derretendo geleiras nos continentes e elevando o nível dos oceanos. As terras mais baixas foram inundadas e as terras altas se transformaram em ilhas, como a Inglaterra e o Japão.

O ponto de calor mais alto no hemisfério norte ocorreu por volta de 6.500 anos antes do presente. Outro foi registrado entre 4.500 e 4000 antes do presente. Os menores foram registrados em 3.000, 2.000, 1.000 antes do presente e, atualmente, a partir de 1850. Entre eles, houve intervalos frios, como entre 6 e 5 mil, 3.200, 2.500, 1.800 e de 1.400 a 1.700 antes do presente.

Essas oscilações climáticas foram naturais e ocorreram quando a humanidade era bem menor e vivia em grupos distanciados. Os deslocamento eram feitos a pé, a cavalo e de embarcações rústicas se comparadas às atuais. Se, entre 10 e 7 mil anos antes do presente, alguns grupos inventaram a agricultura, o pastoreio, a cestaria, a cerâmica, o polimento da pedra, a metalurgia e a tecelagem, entre 3.200 e 3.000, alguns grupos de agricultores e pastores erigiram as duas primeiras chamadas civilizações: a mesopotâmica, no delta formado pelos rios Tigre e Eufrates, e a egípcia, ao longo do rio Nilo. Outras mais vão se erigir depois. O aquecimento médio do planeta permitiu que grupos humanos passassem a viver da agricultura e do pastoreio, que inventassem os sistemas de escrita, que se dedicassem a grandes construções, como templos, palácios e sepulturas.

No hemisfério sul, o pico de calor foi alcançado em 5.100 anos antes do presente. O mar subiu e invadiu as terras costeiras baixas. Entre os rios Guaxindiba e Macaé, existia uma área baixa de tabuleiros banhada pelo rio Paraíba do Sul. O mar invadiu seu leito e submergiu essa área baixa de tabuleiros até Itereré e cercanias da lagoa de Cima. Essa antiga baixada se transformou numa área oceânica rasa. O mesmo aconteceu com a Região dos Lagos. Enquanto erguiam-se as primeiras civilizações na Ásia e no Egito, a planície dos Goytacazes não existia. Sua área estava submersa. Campos não poderia ser construído. Muito menos São João da Barra.

O pequeno período quente do hemisfério norte, entre 900 e 1.300 d. C., representou um estímulo à economia. Áreas úmidas secaram. O clima favoreceu a expansão da atividade agropastoril. Os excedentes da produção permitiram que um grupo os transformasse em mercadoria, criando assim o que conhecemos por capitalismo ou modo de produção capitalista. Os sistemas de produção anteriores produziam bens para o consumo, permitindo que o excedente alimentasse um pequeno grupo de comerciantes que ficavam na dependência de uma economia voltada para atender às necessidades básicas da população, mesmo havendo distribuição desigual de bens.

A novidade trazida pelo capitalismo foi transformar bem de uso em bem de troca. Em outras palavras, o que era necessário para a alimentação e para o uso passou a ser vendido para gerar lucro. Como a produção para uso se mostrou limitada, os comerciantes começaram a montar sistemas de produção e criaram a indústria moderna. Aos poucos, tanto a produção das terras e das manufaturas foram subordinadas aos interesses do lucro.

A Europa ocidental dependia muito de produtos orientais que eram vendidos por comerciantes muçulmanos a venezianos, que, por sua vez, vendiam aos comerciantes europeus, que finalmente vendiam aos consumidores. O preço final só era acessível, praticamente, a pessoas ricas. Mas, se os europeus conseguissem dominar os centros fornecedores da Ásia diretamente, eliminando os intermediários, os produtos ficariam mais baratos para compra e para venda.

A busca de lucros e de acumulação de riquezas impulsionou Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra a buscarem outro caminho entre Europa ocidental e Ásia para apropriação das fontes asiáticas de produção. Foi o que ficou conhecido como expansão marítima da Europa ocidental, movimento que começou no início do século XV com a conquista progressiva das costas atlânticas da África e com a chegada à Índia. Esse processo levou os europeus a chegarem à América do Norte, com Cristóvão Colombo em 1492, e à América do Sul, com Pedro Álvares Cabral, em 1500. Começava o processo de integração do mundo pelo que hoje se conhece por globalização.

Enquanto os europeus do ocidente se lançavam ao mar, os povos americanos se organizavam em grupos que viviam da coleta, pesca e caça, grupos que já praticavam a agricultura e produziam artefatos cerâmicos e grupos que desenvolveram cidades, metalurgia e impérios, como os maias, os incas e os astecas. Mas a economia desses povos era de subsistência, para o uso, embora existisse um comércio que nunca dominou a economia agropastoril.

A economia capitalista foi construindo a globalização progressivamente, dominando outros continentes além do europeu, escravizando povos africanos para trabalharem na América do Norte e do Sul. Catequizaram os povos pioneiros da América, da África, da Ásia e da Oceania para transformá-los em europeus fora da Europa e para otimizar a economia capitalista em todo o planeta em prol do centro do mundo, considerado pelos europeus como sendo a Europa ocidental. Houve povos de outros continentes que já haviam desenvolvido culturas avançadas e estruturadas, como Japão, China, Índia, mundo islâmico, incas e astecas. A resistência desses povos a uma cultura estranha era maior, mas eles acabaram sucumbindo ao capitalismo. Não se pode afirmar que a Europa uniformizou o mundo, mas deu a ele uma unidade básica para que todas áreas se integrassem na globalização mantendo o mínimo de suas características originais.

O historiador britânico Arnold Toynbee escreveu na década de 1950:

O que será destacado como acontecimento eminente do nosso tempo por historiadores futuros, talvez daqui a séculos, olhando para a primeira metade do século XX e tentando ver suas atividades e experiências naquela proporção justa que por vezes a perspectiva no tempo revela? Não creio que seja qualquer desses acontecimentos sensacionais, trágicos ou catastróficos da economia ou política, que ocupam as manchetes dos jornais e o campo das nossas mentes; nem guerras, revoluções, massacres, deportações, fome, fartura ou inflação, mas algo de que temos apenas vaga consciência e que seria difícil transformarmos em manchetes. Historiadores futuros dirão, penso eu, que o grande acontecimento do século XX foi o impacto da civilização ocidental sobre todas as outras sociedades vivas no mundo daquele época1.

A previsão de Toynbee está correta em parte. A história da globalização está sendo revista. Forma-se um outro olhar sobre a história da África e da escravização. As mulheres estão escrevendo sua história por sua própria ótica. Negros e índios estão adotando uma atitude mais ativa. Japão, Coreia, China, Índia, Rússia e Estados Unidos são hoje polos da globalização. Mais até do que a Europa, que busca se unir para não perder de todo sua posição. Por outro lado, os jornais continuam com postura muito bairrista, estampando manchetes sobre o cotidiano de suas províncias e frivolidades das colunas sociais.

Foi em A humanidade e a mãe Terra, seu último livro, que Toynbee analisou uma questão crucial da globalização: o choque da humanidade globalizada com a natureza2. Entendo que esta é a grande questão do século XXI. A humanidade e a economia capitalista criaram uma cultura de exploração ilimitada da natureza desde o século XV, acentuando-a com a revolução industrial do fim do século XVIII. Em resumo, essa cultura acreditou na inesgotabilidade da natureza e na sua capacidade ilimitada de absorver resíduos dos processos de produção. O resultado foi a atual crise ambiental, que vinha se avolumando a séculos, mas que se tornou crucial nas últimas três décadas do século XX.

Essa crise planetária foi rejeitada por muito tempo pelo humanismo liberal e socialista como uma ilusão criada por ambientalistas desejosos de retardar o progresso e o desenvolvimento. Cinquenta anos depois da Conferência de Estocolmo, o primeiro evento público internacional para discutir a questão ambiental, governos, empresários e povo em geral começam a admitir a crise ambiental, mas com tendência a reduzi-la às mudanças climáticas. Segundo o Centro Resiliência de Estocolmo, a crise apresenta dez manifestações, no mínimo, relacionadas de forma complexa, sendo que algumas já ultrapassaram os limites de resiliência.

Os dez indicadores da crise ambiental da atualidade, que se distingue de crises anteriores por ser global como a economia que a gerou, são:

1- Mudanças climáticas: já ultrapassaram o limite de resiliência;

2- Acidificação dos oceanos: tangencia os limites de resiliência

3- Poluição química: embora dentro dos limites, avoluma-se perigosamente;

4- Ciclo de nitrogênio: já ultrapassou os limites;

5- Ciclo de fósforo: aquém dos limites, mas crescendo vertiginosamente;

6- Água doce: em limite perigoso;

7- Conversão de terras: consiste em transformar ecossistemas nativos em ecossistemas antrópicos, como lavouras, pastos e cidades. Ganha aceleração progressiva;

8- Empobrecimento da biodiversidade: já ultrapassou os limites e continua avançando perigosamente;

9- Poluição do ar: ainda dentro dos limites de resiliência;

10- Destruição da camada de ozônio: já esteve em níveis mais críticos.

Cientistas ainda apontam a excessiva produção de artefatos plásticos, que já inundam os oceanos, e o uso de impermeabilizantes, como pedras, concreto, asfalto e alumínio. Eles não apenas dificultam a infiltração de água no solo como também acumulam calor.

Com relação às mudanças climáticas, elas são cada vez mais perceptíveis, embora ainda negligenciadas pelos governos, empresários e população. Fica fácil perceber o perigo da pandemia causada polo coronavírus porque ela está presente de forma contínua e prolongada no mundo todo, causando internações e mortes. Os fenômenos climáticos extremos não se manifestam o tempo todo e em todo o espaço terrestre. Com base em estudos científicos, pode-se afirmar que:

1- Os gases derivados de ações humanas acentuaram o efeito estufa. Existe um envoltório natural de gases em torno da Terra necessário para conservar calor e garantir a existência da vida. Sem ele, o calor se dissiparia no espaço, tornando a superfície terrestre muito fria. Contudo, o espessamento desse envoltório com a emissão de gases derivados de atividades econômicas, aumenta o calor na superfície do planeta, tanto nos mares quanto nos continentes, e causa transformações estruturais no complexo sistema atmosférico. O principal gás causador do efeito estufa é o carbônico. Ele provém da combustão de carvão mineral, petróleo e gás natural, mas não apenas. A poluição das águas e os grandes rebanhos de gado conferem a ele expressiva contribuição.

2- O espessamento desse envoltório está tornando a Terra mais quente e mais seca. Com os raios infravermelhos represados pelo envoltório de gases do enfeito-estufa, a superfície terrestre se aquece a provoca evaporação das águas continentais e marinhas. Hoje, há um enorme volume de água em estado gasoso na atmosfera, afetando principalmente as águas continentais e criando ambientais áridos com a colaboração de transformações efetuadas no solo, como desmatamento, campos agropecuários, represas e cidades. As secas do Centro-Sudeste do Brasil agravam-se ano após ano. Além da grande evaporação, que causa redução da umidade relativa do ar, as represas alteram o regime hídrico dos rios. A agropecuária e as cidades consomem muita água, transferindo-a para outros lugares. Mas altas temperaturas têm sido registradas no Antártico (18º em janeiro de 2021), na Sibéria (38°C na cidade de Verkhoiansk).

3- Incêndios. Com o aumento severo das estiagens, os ambientes recobertos com vegetação nativa ou cultivada se ressecam e se tornam propícios a queimadas. Pode haver combustão espontânea no início de incêndios, mas as queimadas para limpeza de terreno e criminosas são as principais responsáveis pelos grandes incêndios que assolam a Austrália, a Turquia, o Canadá, os Estados Unidos, o Brasil e outros países.

4- Chuvas atípicas. Os fenômenos meteorológicos, como El Niño, La Niña, zonas de convergência, zonas de alta e de baixa pressão continuam existindo, mas de forma potencializada. Assim, a água acumulada na atmosfera em estado gasoso se precipita na forma de temporais arrasadores com um evento de resfriamento. No Sudeste do Brasil, as chuvas de 2020 destruíram cidades na rota da Zona de Convergência do Atlântico Sul. Em 2021, as chuvas no Nordeste da Amazônia elevaram o nível dos rios e índices nunca registrados. Ainda em 2021, uma chuva intensa destruiu grande parte da cidade de Atami no Japão, a grande Zhengzhou, na província chinesa de Henan, recebeu, em três dias de 2021, um volume de chuvas correspondentes a um ano. Nesse mesmo ano, o noroeste da Europa também sofreu com violentas tempestades que destruíram cidades e mataram pessoas.

5- Tempestades de vento. No Caribe e no sul dos Estados Unidos, é comum ocorrerem furacões. A quantidade vem diminuindo e a intensidade vem aumentando. Esses furações arrasam cidades, acentuando mais ainda as desigualdades sociais em países como Haiti. Deslocamentos de temperatura provocam ventos como os furacões. Na Ásia, essas tempestades de vento são chamadas de tufões. Alguns deles podem levantar areia e poeira.

6- Ondas de frio. É um erro negar o aquecimento global diante de massas de ar frio. Os desequilíbrios na atmosfera tanto podem provocar massas de ar quente quanto ondas de frio. A que varreu o cone sul da América do Sul em julho/agosto de 2021 trouxe geada e neve, que podem ser atrativo turístico, mas também matam pessoas, animais e plantas. Segundo previsões, a tendência é o aumento de ondas de frio em lugares em que predominam temperaturas amenas. Quem está acostumado com calor, recebe temperaturas baixas com impaciência.

7- Ressacas. O efeito estufa aquece a atmosfera e a superfície da Terra, tanto nos continentes quanto nos mares. As calotas de gelo estão derretendo com o aumento das temperaturas e o nível do mar está se elevando. As terras baixas nos continentes e nas ilhas estão sofrendo com o aumento do nível do mar, como na zona costeira e nas ilhas baixas como no Kiribati, Maldivas, Fiji, Palau, Micronésia, Salomão. As ilhas Kale, Rapita, Rehana, Kakatina e Zollies – não habitadas – já submergiram. Áreas como Veneza, grande parte da costa da Galícia, a costa leste e nordeste do Brasil já sofrem com a elevação do nível do mar e com as ressacas. Que são oriundas de tempestades. No pico da maior elevação do nível marinho, em 5.100 antes do presente, essas áreas do Brasil foram todas submersas. As atuais praias charmosas do Brasil deixaram de existir.

Aqueles que recentemente se convenceram da gravidade da crise ambiental dizem que é preciso mudar a matriz energética. De que é preciso substituir os combustíveis fósseis e a energia nuclear pela hidroeletricidade, para a energia eólica e solar. De acordo, mas mudar a matriz energética inclui ainda a hidroeletricidade, uma forma de geração de energia que exige barramento de rios, obra das mais impactantes em termos ambientais. Mesmo excluindo os rios da mudança na matriz energética, os ventos, o sol e a biomassa não dariam conta de mover a mais devoradora civilização de energia que se desenvolveu no Holoceno. Hoje, ela está globalizada.

Portanto, não basta mudar a matriz energética. É preciso também mudar o sistema produtivo, a publicidade, os meios de transporte, as cidades, a alimentação e as formas de pensar. Não bastam fórmulas simples, como “menos é mais”. A mudança tão necessária depende de empenho, esforço e tempo. Para retornarmos aos padrões naturais do Holoceno, estimo que dispomos de 80 anos pela frente. A globalização capitalista se processou em 600 anos. Os ingredientes formadores da crise foram se acumulando ao longo de seis séculos e só foram percebidos com clareza no último meio século. A crise se assemelha àquelas doenças que corroem a pessoa sem que ela perceba. Quando os sintomas se manifestam, já é tarde.

Diante dos sintomas da crise, os cientistas buscam conceitos. Eles gostam de conceitos, como se eles não só explicassem, mas também funcionassem como terapia. Eles se enfileiram: gaia, pegada ecológica, resiliência, ciência do sistema terra, antropoceno e até capitaloceno. Estamos diante de um conjunto de fatores que caracterizam uma crise ambiental inédita porque de origem antrópica e global. No Holoceno, registramos crises naturais e antrópicas. Estas sempre foram localizadas e quase sempre reversíveis. A atual poderá recrudescer ou retroceder por ação humana ou natural. Trata-se de um crise. Não se encontra no registro fóssil crise com nome próprio. Não estamos no Antropoceno, mas na crise conjuntural ou estrutural do Holoceno. Ela passará de uma forma ou de outra. Voltaremos ao Holoceno ou entraremos em outro época, período ou era.

Capitaloceno é conceito de quem se contenta apenas com a parte conceitual. Ciência do sistema Terra parece uma proposta adequada para efetuar-se o diagnóstico e promover a terapia para o planeta. Precisamos nos movimentar com mais intimidada no Holoceno, tanto nas ciências da natureza quanto nas ciências humanas. A realidade mudou profundamente, mas continuamos examinando o mundo com instrumentos e métodos do século XIX, notadamente as ciências humanas, que não querem reconhecer as forças da natureza.

Carecemos de uma holocenologia, que integre ciências interessadas em estudar o estado atual do mundo em suas múltiplas dimensões. Dimensões que se integram e se complementam de forma complexa.

plugins premium WordPress