Séculos XX e XXI
A colonização da bacia em moldes europeus resultou na supressão de quase toda a vegetação nativa por uma economia inicial de extrativismo que se beneficiou da lenha e da madeira. Houve também a queimada em larga escala para abrir espaço à agropecuária. Há o extrativismo de pedras em Cachoeiro de Itapemirim. As principais lavouras aí cultivadas foram a cana-de-açúcar e o café. Hoje, ao lado da agropecuária, deve-se acrescentar a urbanização desordenada, sendo ilustrador o caso de Cachoeiro do Itapemirim, mas não o único. Há o projeto "Rio Vida Reflorescer", desenvolvido pela Citágua em parceria com a Pastoral Ecológica, Secretaria de Estado de Agricultura e Secretaria Municipal de Agricultura de Cachoeiro de Itapemirim. O projeto tem como principal objetivo a proteção de nascentes no município e o reflorestamento do seu entorno, de forma a aumentar a oferta de água e melhorar a qualidade desse bem tão necessário à vida, envolvendo sempre a comunidade e as escolas da região. Seus objetivos são: a recuperação de nascentes; a recuperação de dez áreas de mata ciliar com três hectares cada uma; a construção de aproximadamente três mil metros de cerca; o plantio de dez mil mudas de árvores nativas e frutíferas; e a mobilização e sensibilização ambiental das comunidades envolvidas no projeto.
É preciso mais. Urge reflorestar nascentes, áreas de preservação permanente, a criação de Unidades de Conservação, aumento da biodiversidade terrestre e aquática. A bacia já está infestada por espécies exóticas, sendo difícil retirá-las. Cumpre também a melhoria da qualidade de água, com a implantação de redes coletoras de esgoto e estações de tratamento terciário.
Em 20 de julho de 2006, foi criado o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Itapemirim, com a finalidade, como é da competência dos Comitês de Bacia, de diagnosticar o estado da bacia e de planejar e promover sua recuperação. Aos olhos de um historiador ambiental que trabalha diretamente com as relações dos grupos humanos com o ambiente, e não apenas com as suas representações, há dois momentos na história social da bacia do Itapemirim e de todas as bacias da América: 1- relações das sociedades pioneiras (nativas) com os ecossistemas e 2- relações das sociedades de origem europeia com os ecossistemas. No primeiro momento, a economia de subsistência dos povos nativos permitiu uma relação de equilíbrio com a natureza. No segundo momento, a economia de mercado trazida e implantada pela colonização europeia provocou desequilíbrios, como o desmatamento, a erosão, a turbidez, o assoreamento, a introdução de espécies exóticas aquáticas e terrestres, os barramentos e a alteração drástica do regime hídrico dos rios.
É grande a fragmentação florestal no âmbito da bacia, a extinção regional de espécies, a erosão, o barramento dos rios para fins agropecuários e geração de energia elétrica, a urbanização e o desequilíbrio do regime hídrico dos cursos d’água. As enchentes e as estiagens tornam-se cada vez mais destruidoras, tanto pelas mudanças ambientais quanto pela ocupação do espaço por lavouras, pastos e cidades.
Seca severa no rio Itapemirim em Cachoeiro de Itapemirim, Foto: Kelly Pinheiro
Enchente severa do rio Itapemirim em Cachoeiro de Itapemirim. Foto de Kelly Pinheiro
As pesquisas organizadas por Marcelo Passamani e Sérgio Lucena Mendes (Espécies da fauna ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo. Vitória: Instituto de Pesquisas da Mata Altântica, 2007); efetuadas por Luisa Maria Sarmento-Soares e Ronaldo Fernando Martins-Pinheiro (A fauna de peixes nas bacias do sul do Espírito Santo, Brasil. Sitientibus série Ciências Biológicas 13: 10.13102/scb218) mostram espécies que existem na Região Sudeste. Contudo, é preciso considerar as espécies endêmicas, ou seja, aquelas que só ocorrem em ambientes restritos. Ainda de ambos é outro importante estudo (Contribuição ao conhecimento das bacias hidrográficas do Espírito Santo (Novembro de 2012). Um grupo de cientistas divulgou recentemente um estudo sobre anfíbios raros e endêmicos no sul do Espírito Santo, na bacia
do Itapemirim (OLIVEIRA, Jane C. F., SANTOS, Rafael dos, BARROS, Lorena P. Vasconcelos, LEITE, Mateus, QUAIOTO, Bárbara Risse Quaioto, MILITÃO, Cátia Moura Militão, FATORELLI, Pedro, BELMOCH, Flávia A. L. Belmoch, POMBAL JR, José P. Pombal e ROCHA, Carlos Frederico Duarte. Amphibians of Serra das Torres Natural Monument: a reservoir of biodiversity in the Atlantic Forest of southeastern Brazil. Biota Neotropica 21(3): e20201085, 2020).