Nos últimos dez mil anos, época denominada de Holoceno pelos geólogos, consolidaram-se os sete grandes conjuntos naturais correspondentes ao território atualmente denominado Brasil: Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica, Campos do Sul e Zona Costeira. Povos provenientes da Ásia ocuparam a América do círculo polar Ártico à Patagônia. Esses povos desenvolveram modos de vida distintos mas adaptados aos diversos ecossistemas encontrados.
Grandes rios drenam os territórios das Américas. Nos ambientes com florestas, como Amazônia e Mata Atlântica, a mata escondia os rios nas partes mais fechadas. A água das chuvas, mesmo intensas, corriam para os rios até o mar. A mata retinha grande parte dessa água nos períodos chuvosos e a liberava nos períodos de estiagem. A pulsação dos rios era equilibrada. Em vez de enchentes e secas, devemos falar em cheias e estiagens. A mata também retinha o solo, reduzindo a erosão e o assoreamento dos rios.
No ambientes sem florestas densas, como no Cerrado, na Caatinga e nos Campos do Sul, matas ciliares se desenvolviam em margens de rios e lagos por conta da maior umidade. No Pantanal, formava-se como que uma grande lagoa reunindo as águas que desciam das partes altas. Nas planícies fluviomarinhas, também.
Havia fenômenos extraordinários de cheias e de estiagens? Sim, havia, mas eles eram previsíveis. Podia-se falar em cheias e estiagens decenais e seculares. Nas lendas dos povos que chegaram primeiro à América, há relatos de dilúvios e de estiagens que marcaram época.
Deve-se considerar ainda que esses povos desenvolveram modos de vida em equilíbrio com os ecossistemas. Os desmatamentos eram pequenos e reversíveis. As aldeias eram constituídas de casas coletivas feitas com material facilmente removível. Em caso de cheias extraordinárias, era possível deixar as habitações durante o tempo das águas e voltar a elas no tempo da estiagem. Era possível mesmo mudar as casas de lugar. Era um paraíso harmônico? Não. Havia desequilíbrios, mas de pequena monta.
O clima do mundo mudava muito lentamente, com a sucessão de longos períodos quentes e frios. O equilíbrio de gases na atmosfera criava ambientes previsíveis na Terra. Mas tudo começa a mudar com a emergência da economia de mercado na Europa ocidental durante o século XI. A América e a Austrália eram desconhecidas dos europeus. A ligação entre extremo oriente e extremo ocidente era feita pelos muçulmanos.
Quando os europeus chegaram à América, dois mundos bem diferentes se encontraram. De um lado, europeus representados por espanhóis e portugueses queriam explorar a natureza e os povos americanos para obter riquezas que gerassem lucros e poder político. Grandes impérios foram criados nas Américas. Seus primeiros habitantes ou foram obrigados a trabalhar em atividades que lhes eram estranhas ou foram aculturados ou foram obrigados a fugir para locais de difícil acesso ou foram mortos.
A natureza passou a ser explorada de forma distinta daquela que os povos nativos praticavam. Eles coletavam, pescavam e caçavam nos limites de uma economia de subsistência. Os europeus, por outro lado, exploravam a natureza para a obtenção de lucros. É bastante elucidativo o diálogo entre o missionário francês Jean de Léry e um velho índio tupinambá em meados do século XVI. Ambos não se entendiam. Léry não entendia os índios por sua falta de ambição. O índio não entendia os europeus por seu desejo de acumular bens.
Os dois primeiros biomas (grandes conjuntos naturais com unidade interna) do futuro Brasil a serem explorados pelos portugueses foram a zona costeira e a Mata Atlântica. Não podia ser diferente. Os europeus não tinham como explorar o interior porque havia a grande barreira representada pela natureza e pelo temor em relação aos povos indígenas.
Não encontrando metais preciosos na terra que lhes cabia, assim como os espanhóis os encontraram nas suas terras, de acordo com o Tratado de Tordesilhas (1494), os portugueses primeiramente exploraram o pau-brasil. Para eles, as conquistas no oceano índico rendiam muito mais. Como eles já plantavam cana nas ilhas da Madeira, Porto Santo e Açores, aproveitaram esse conhecimento para cultivar cana no Brasil. Para o plantio em escala comercial, a Mata Atlântica representava um obstáculo a ser superado.
A Mata Atlântica, no século XVI, estendia-se por um milhão de quilômetros quadrados, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte (que ainda não existiam com esses nomes), fazendo conexões com os Campos do Sul, o Cerrado, a Caatinga e a Amazônia. A Mata Atlântica começou a ser derrubada. A abundância de águas fluviais, de florestas e de terras levou os europeus a desenvolverem a síndrome da inesgotabilidade. Segundo essa síndrome, a natureza podia ser explorada infinitamente, sem o risco de acabar.