Hoje vivemos em todo o município de Guarapari as consequências do crescimento desordenado que gera um enorme caos urbano. Lembro-me durante a minha infância na Olaria, de todas alinhas de ônibus que a cidade possuía e que não passavam de dez. Os bairros pareciam longe uns dos outros, mas mesmo com essa distância o convívio era pacífico e harmonioso entre todos.
Após os anos 80 a cidade se desconfigurou. A promessa de emprego fácil na construção civil gerou um enorme êxodo migratório que não foi promovido por quem buscava um emprego, uma melhor oportunidade de vida, mas pela ganância de empresários que visavam apenas os lucros, não se importando com o caos que se implantava na periferia. Vários bairros surgiram, grande parte deles de invasões e hoje se tornou uma enorme dificuldade saber os limites de cada bairro. Todo esse caos parece ter um enorme incentivo dos políticos locais que não regularizam a situação, pois se torna mais “fácil” manipular o caos que administrar e legislar coisas regulamentadas, pois essas não permitem os “favores políticos”. Muitos vereadores passaram toda sua vida parlamentar dando nome a ruas, ou mudando os de muitas, gerando mais confusão ainda. Os nomes de ruas só deveriam ser alterados por assembleia com 2/3 dos votos das associações de moradores do local e os das ruas de loteamentos mais antigos, como o Balneário Jacumém, que é o início da Praia do Morro e todo o restante do bairro deveriam manter seus nomes originais. Um projeto de lei poderia propor isso.
A cidade hoje conta com mais de 30 bairros e grande parte deles sem nenhuma infraestrutura urbana e ou sanitária. Alguns ainda não possuem se quer rede de abastecimento de água como é o caso do extremo Norte, na região de Village do Sol, onde a comunidade depende de poços, alguns contaminados, pois não há rede de esgoto e as fossas são a única alternativa, contaminando o lençol e por consequência a água consumida. Essa semana a comunidade de Santa Arinda recebeu água tratada e encanada. Isso soa como inconcebível em pleno século XXI, mas é justificado pelas concessionárias dos serviços públicos, como CESAN e ESCELSA que não são bairros regulamentados, mas em muitos chega o carnê do IPTU, do IPVA, mas não chega a encomenda daquela compra on line. Ficou difícil saber os limites de cada bairro, onde termina um e começa e outro, o que complica no planejamento de ações estratégicas e políticas públicas. No extremo Sul, a comunidade de Condados vive o caos dos problemas fundiários e sanitários que agravam também os problemas ambientais. O bairro Camurugí, um dos mais antigos de Guarapari, na região central, não tem até hoje linha de ônibus que atenda o bairro com eficácia. São dois por dia. O Recreio Atlântico, também muito antigo, está abandonado desde sempre e as autoridades fingem que não existe. Ou seja, são os mesmos problemas de norte a sul, de leste a oeste e o mesmo descaso tanto na Prefeitura quanto na Câmara que acham bom negar cidadania, ou leva-la a conta gotas a cada ano eleitoral.
*O mapa é referente a divisão dos bairros de Guarapari feito pelo Instituto Jones Santos Neves. Disponível no site: ijsn.es.gov.br