O Prêmio Nobel que ainda não temos

Por Vera Murányi Kiss

/

19/10/2021

Vera Murányi Kiss

Concebido por Alfred Nobel, o Prêmio que leva seu nome, foi entregue pela primeira vez em 1901, sob a administração da Fundação Nobel, criada para este fim. Entre o ano de sua criação e 2020, tendo promovida 120 edições do Prêmio, o laureado reconhecimento foi concedido 603 vezes a 934 pessoas e 28 organizações. É motivo de reflexão o fato de que, apesar da qualidade de suas instituições acadêmicas e científicas e da riqueza de sua literatura e cultura, o Brasil jamais tenha sido laureado, ao contrário dos demais países dos BRICs (Rússia, Índia e China) e de vários vizinhos do continente latino-americano: Chile, Argentina, Colômbia, Guatemala, México, Peru e Venezuela.

Não falta mérito aos brasileiros: Machado de Assis, Jorge Amado e Lygia Fagundes Teles, na Literatura, César Lattes, reconhecido como o verdadeiro descobridor da partícula subatômica méson Pi, na Física, e Carlos Chagas, responsável pela descoberta da doença que leva seu nome, na Medicina. São apenas alguns exemplos do potencial do Brasil, também expresso em numerosos escritores de talento e sucesso e em trabalhos e pesquisas, como as centenas inscritas ao longo das 20 edições do Prêmio Péter Murányi, que, no melhor espírito da valorização da Ciência e do Conhecimento, reconhece iniciativas voltadas à melhoria da qualidade da vida das populações em desenvolvimento.

Mesmo sem que um dos maiores prêmios globais seja uma meta, podemos refletir como estamos, ao longo de todo esse tempo, reconhecendo e prestigiando nossos próprios talentos, e atuando no campo científico e de P&D. Nesse sentido, cabe buscar indicadores confiáveis e ter consciência de que, apesar dos avanços, ainda precisamos investir mais nas diversas áreas do conhecimento.

No Índice Global de Inovação (IGI), que acaba de ser divulgado, em comparação com o ranking de 2020, o Brasil avançou cinco posições em 2021, estando agora no 57º lugar, entre 132 nações. Considerando o impacto da pandemia em nossa economia, bem como as muitas outras adversidades, às quais foram submetidos, o desempenho mostra a resiliência de nossos pesquisadores, que continuaram produzindo mesmo em meio à maior crise sanitária do último século.

Contudo, é importante destacar que as políticas públicas ainda precisam ser melhoradas. Para que nossos pesquisadores e acadêmicos possam igualar-se ao desempenho de seus pares internacionais é necessário, por exemplo, mais incentivo ao desenvolvimento da ciência e pesquisa, fomento crescente e constante de bolsas de estudo em pós-graduação, maior divulgação dos trabalhos e intercâmbio com universidades e centros de pesquisa internacionais.

Uma possibilidade para que nossa pesquisa se concretize mais fortemente em produtos e serviços é o incremento de parcerias com a iniciativa privada, ou seja, com o Segundo Setor.

Seria oportuna, também, maior integração das políticas públicas com o trabalho do Terceiro Setor no campo de P&D. O Brasil conta com fundações e institutos que se dedicam ao incentivo e ao reconhecimento da pesquisa e da ciência, concedendo bolsas e promovendo prêmios de alto nível, dentre outras iniciativas. Esses atores da sociedade civil dão contribuições consistentes, incluindo impactos de transformação positiva no âmbito da sociedade e de comunidades específicas.

O desenvolvimento da ciência e da pesquisa certamente contribuirá muito para a recuperação sócio-econômica, crescimento sustentado, inclusão social e ascensão de nossa economia ao patamar de renda alta. Essas são as reais prioridades. Se, em consequência, ganharmos nosso primeiro Nobel, será ótimo, mas o foco crucial é a qualidade da vida e o bem-estar da população brasileira.

plugins premium WordPress