
De tudo, ficam duas lições: a primeira é de que Toninho precisa afinar melhor o seu violino, que tem cordas dissonantes na gestão da Prefeitura – Ilustração/Redes Sociais
Em política, um passo em falso pode comprometer todo trabalho desenvolvido por meses ou até anos. Olhar para a cozinha sem perceber que ela está dentro de uma casa e que o bujão de gás está do lado de fora demonstra falta de visão estratégica. É mais ou menos isso que está acontecendo em Marataízes.
Para se eleger com 52% dos votos válidos no município, Toninho Bitencourt (Podemos) precisou montar uma base heterogênea de apoio. Nessa arca, coube de tudo, apesar de ser majoritariamente composta por políticos de direita, como é o caso do próprio prefeito.
Isso fez com que seu principal adversário, o ex-prefeito Tininho Batista (PSB), alardeasse pra si – na verdade, para o candidato Luiz Capinzal – o apoio do governador Renato Casagrande (PSB) naquela disputa de 2024. Inclusive, sugerindo que Toninho teria dificuldade para governar Marataízes sem o apoio do Palácio Anchieta.
Eleito, Bitencourt passa então a ter a missão mais importante do início de seu mandato: estreitar as relações com o governador para dissipar qualquer mal-entendido que possa ter havido no calor da disputa eleitoral. Não nos esqueçamos que foi uma campanha com acusações viris de parte a parte.
E ele fez isso em gestos, declarações e muitas viagens à capital, conseguindo não apenas ganhar a confiança de Casagrande, como atrair investimentos fundamentais para Marataízes, que farão toda a diferença para o sucesso de sua gestão.
Todo esse pacote político-administrativo embala ainda uma aliança visando a continuidade do projeto de Renato Casagrande para o Espírito Santo, que passa, necessariamente, pela eleição de Ricardo Ferraço (MDB) a governador.
Dito isso, é de se estranhar que membros do seu secretariado se assanhassem a uma aproximação à órbita de Lorenzo Pasolini (Republicanos), o mais ruidoso adversário de Casagrande e, por tabela, do próprio Ricardo. Foi exatamente o que fez Breno Nilregi, que comandava a pasta municipal de Turismo. O resultado não poderia ser outro: sua exoneração do cargo.
O encontro de Breno com o ex-prefeito cassado de Itapemirim, Thiago Peçanha, “funcionário” de Pazolini, afronta não apenas as relações de Toninho Bitencourt com o grupo de Casagrande, mas também resvala em outro aliado do governador, o prefeito de Itapemirim, Geninho Alves (PDT).
É notória a intenção de Peçanha em também desestabilizar a gestão de Geninho em Itapemirim. Ou seja, Breno fez uma lambança generalizada no afã de se cacifar para uma disputa eleitoral ainda prematura. Esqueceu que um bom padeiro não queima o pão.
Mais precavido foi o Pastor João Batista, que, na esteira da exoneração de Breno, deixou o posto de secretário de Desenvolvimento Social sem atirar pedras no prefeito. Pelo menos por enquanto. Peça importante na eleição de Toninho, quando foi seu coordenador de campanha, o Pastor vinha sofrendo com o chamado fogo amigo.
O mesmo destino teve o ex-secretário de Saúde e vereador, Cleverson Maia (Podemos), a primeira baixa significativa no secretariado de Toninho. Cleverson ameaçou fazer um estardalhaço após ser exonerado, mas, ao que parece, ouviu a voz da razão.
De tudo, ficam duas lições: a primeira é de que Toninho precisa afinar melhor o seu violino, que tem cordas dissonantes na gestão da Prefeitura. A segunda é que, antes de acender o fogão, é sempre bom se certificar que o bujão de gás está na cozinha. E se tiver, verifique se tem gás suficiente pra fazer o almoço.
Até!