Paradigmas e concepções a serem quebradas

Por Helio Barboza

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04/03/2021

Helio Barboza

Editor de O JORNAL

O brasileiro tem disso. A cada dois anos, a população se converte em uma imensa ‘torcida de futebol’. Cada qual pega sua bandeirinha, veste sua camisa e vai para as arquibancadas (ruas e redes sociais), para torcer pelo seu “time”.

 

Pode-se dizer que esta é uma comparação um tanto quanto esdrúxula, mas dado a circunstância, pode sim ser utilizada, tendo como pano de fundo a política, razão desta comparação.

 

Recebi de um amigo, pelo zap, a sacramentação simplista de que, “Mas, na real, o prof pt presidente, foi o pior gestor q Sampa já Teve”.

É mais ou menos desse jeito que a coisa funciona, independente do grau de conhecimento que as pessoas têm, vale mais é militância ou a ojeriza que nutrem por um ou outro candidato.

Não há um aprofundamento para se conhecer a fundo o que este ou aquele candidato representa. Esquecem de que existe uma história que permeia a vida e as lutas de cada um, que deve ser avaliada e colocada na balança, mas isso passa a ser questão secundária ou até mesmo completamente irrelevante. O que vale é a bandeirinha e a camisa a ser estereotipada.

 

A memória coletiva tem as suas fraquezas e potencialidades. Quem foi o pior prefeito de São Paulo? Quem lembra da cidade quando Gilberto Kassab era prefeito? Do caos de Celso Pitta e de tantos outros antecessores ou sucessores dos aqui mencionados?

 

Na última eleição nacional a pauta sobre projeto para as cidades voltou à tona com a candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad. O petista estaria ou não preparado para governar o Brasil? Foi mesmo o pior prefeito da cidade de São Paulo?

 

Provocado, me ative em buscar melhores informações sobre esses tempos idos. Pesquisei em jornais tradicionais, em publicações de centro de estudos e estatísticas e em opiniões de cientistas políticos durante este período.

 

Sempre tive uma ideia sobre o assunto em tela, mas confesso que nunca havia me aprofundado.

 

Críticas e contestações sempre hão de existir, por fazerem parte do jogo. É lógico que, numa megalópole como a cidade de São Paulo, problemas é que não faltariam, nem faltam e nem deixarão de faltar…isto é a lógica, pois sempre existe a questão dos interesses, principalmente por parte dos barões do sistema que nunca irão ficar satisfeitos em verem suas regalias e privilégios ameaçados.

 

Em um país com formação e vocação colonial, onde a escravidão foi a mais longeva da história do mundo moderno, é fácil a manipulação das massas. É muita novela, programas de auditórios, circo. Como diria um amigo meu, ‘o Brasil é o único país em que as formigas torcem para o tamanduá’.

 

O que afirmo no parágrafo anterior, é uma autocrítica sobre o papel da grande mídia, que acaba por contaminar não só o alvo, que é o público, mas também seus afins, a pequena mídia, aquela que propala nos rincões o interesse do patrão (o capital).

 

Voltando a questão sobre a gestão Haddad, por meio do que pude apurar, pincelei algumas ações implementadas, que podem dar uma noção um pouco mais exata de como foi sua passagem pelo executivo, quebrando gelo e lutando contra as adversidades e paradigmas.

Pude ver que desde sua campanha para prefeito da capital paulistana, ele fez questão de fazer a discussão para tornar a cidade mais humana, acolhedora para fazer com que tanto as empresas, mas acima de tudo, as pessoas não deixassem a cidade.

 

Uma cidade com ruas abertas aos finais de semana. Com corredor de ônibus e um sistema de transporte com outros modais, além do velho e confortável carro. Por que não?

 

A cada medida enviada à Câmara ou sancionada os paulistanos passaram por intenso debate. Regulamentar o Uber ou garantir o ensino de história da África nas escolas, por exemplo, foram medidas que renderam notícias e matérias contrárias à gestão do ex-prefeito.

 

Mas como ser um gestor sério e não falar da função da propriedade, do combate à especulação imobiliária predatória? A resposta de Fernando Haddad foi transformar mais de 2,3 milhões de m2 de imóveis sem uso em moradias sociais e atividades para cidade.

 

Será que o pior prefeito daria aos estudantes carentes o passe-livre para estudar? Wifi livre em mais de 120 praças? Cinema de graça nos Centros de Educação Unificada (CEU’s)?

 

Discutir o Plano Diretor pensando no ordenamento da cidade é um prefeito ruim? Reduzir a velocidade como forma de diminuir as mortes e prevenir acidentes, o que significa aproximadamente 60 leitos hospitalares liberados por dia é a chave para o prêmio de pior prefeito?

 

Abrir duas creches por semana, 32 UniCEUs com ensino superior gratuito, merenda orgânica é sinal de péssima qualidade de gestor?

 

São essas medidas que fazem de Haddad o pior prefeito?

 

Talvez, seja o carnaval que fez com que as ruas ficassem cheia de foliões com seus confetes e serpentinas.

 

Se você ainda tem dúvida, ainda há outras 13 medidas políticas adotadas pela gestão de Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo:

 

Abertura de duas novas creches por semana porque lugar de criança é na escola e não na fila. (Mais de 400 novas creches abertas até o final de 2016)

 

32 UniCEUs: ensino superior gratuito (graduação, especialização e mestrado).

 

423 km de faixas exclusivas de ônibus: economia de 4 horas livres por semana porque de ônibus você chega mais rápido.

 

334 km de ciclovias: mais mobilidade, mais segurança, mais saúde e menos trânsito para os paulistanos.

 

Cota de 20% para negros na administração municipal: reparação histórica por meio da garantia de oportunidades para afrodescendentes trazendo mais diversidade e qualidade ao serviço público.

 

Passe Livre: a Prefeitura pagando R$ 1,4 bilhão para que 651 mil estudantes de baixa renda e idosos possam andar de ônibus, o quanto quiser, de graça pela cidade.

 

Mínimo de 50% de mulheres nos conselhos municipais: Construção de cinco Centros de Referência e cinco Centros de Cidadania da Mulher.

 

Formalização de 22.500 Micro Empreendedores Individuais (MEI): a economia do dia-a-dia tem aqui seu direito garantido e reconhecido.

 

Também apurei que São Paulo conquistou, durante sua gestão, nota 10 na Escala Brasil Transparente da CGU: primeiro lugar e única capital do Brasil em transparência e combate à corrupção.

 

Merenda Orgânica e Educação Alimentar: compra de alimentos de pequenos produtores e alimentação saudável para as crianças todos os dias.

 

Livro didático “O que você sabe sobre a África?”: mais de 33 mil professores ensinando sobre a história do continente e dos afro-brasileiros;

 

Regulamentação do Carnaval de Rua: organizando os foliões de São Paulo pra todo mundo aproveitar bem o carnaval na cidade.

 

Implantação de 29 Ruas Abertas: uma Paulista aberta em cada canto da cidade. Wifi Livre SP: internet de graça em mais de 120 praças da cidade.

 

Talvez eu envie este artigo para responder ao meu estimado e querido amigo. Sei de sua predileção política e respeito, como também sei que estas ponderações não irão mudar seu voto, mas também sei que ele tem um enorme senso cognitivo e, inteligente como é, irá refletir que sua avaliação inicialmente simplista nada tem a ver com o que de fato foi a administração de Fernando Haddad na cidade de São Paulo.  

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