Agricultor desenvolve variedade inédita de gengibre com produção na Região Serrana capixaba

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TV Gazeta

Alexandre Abelz melhorou geneticamente o gengibre produzido em sua proreidade. — Foto: TV Gazeta

O agricultor Alexandre Abelz, de Santa Leopoldina, na Região Serrana do Estado, usou da própria observação para desenvolver uma nova espécie de gengibre orgânico em sua propriedade, onde colheu mais de meia tonelada só na última safra do produto.

A reportagem com a descoberta da nova espécie de gengibre orgânico foi trazida por uma equipe da TV Gazeta para o programa Globo Rural.

Em busca de aumentar a sua produção, o agricultor iniciou, no ano passado, o cultivo de uma nova variedade da raiz, batizada de Imigrante, descoberta por ele mesmo após observações diárias no campo.

Ano após ano e safra após safra, o produtor foi observando as melhores plantas que se desenvolviam naturalmente em sua propriedade. Ele começou a selecionar as mudas que se adaptavam melhor ao terreno e produziam mais. Essas mudas é que eram escolhidas para a produção seguinte. E foi assim que ele acabou criando uma nova variedade, naturalmente mais resistente.

Com essa variedade inédita, o produtor conquistou o primeiro e inédito Registro de Proteção de Cultivar (RPC) de gengibre no Brasil.

O Espírito Santo é o maior produtor e exportador de gengibre do país e a novidade promete ser uma aliada importante para o setor, por se tratar de uma raiz mais forte e produtiva.

A variedade Imigrante apresenta características marcantes, como plantas mais altas e rizomas mais desenvolvidos. Os rizomas, que funcionam como caules subterrâneos responsáveis por captar água e nutrientes, garantem um crescimento mais robusto.

Gengibre da variedade Imigrante é produzido em Santa Leopoldina, na Região Serrana do Espírito Santo. — Foto: TV Gazeta

Gengibre da variedade Imigrante é produzido em Santa Leopoldina, na Região Serrana do Espírito Santo. — Foto: TV Gazeta

Alexandre contou que o processo de desenvolvimento genético foi feito de forma empírica, sozinho na lavoura.

“Observando as plantas, trabalhando no meio da lavoura, acompanhando os processos de plantio, vendo as plantas mais vistosas, mais bonitas, fui marcando e deixando mudas para o próximo ano, observando se iam seguir o padrão. E realmente algumas continuaram com o padrão mais vistoso”, explicou Alexandre.

O Registro Nacional de Cultivares (RNC) do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) é responsável por habilitar novas cultivares para a produção, beneficiamento e comercialização de sementes e mudas, garantindo confiabilidade e segurança ao adquirir material de propagação.

Interesse de instituições de pesquisa

O trabalho do Alexandre despertou o interesse os pesquisadores do Ifes. — Foto: TV Gazeta

O trabalho do Alexandre despertou o interesse os pesquisadores do Ifes. — Foto: TV Gazeta

O trabalho de Alexandre despertou a atenção do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) de Alegre, no Sul do Espírito Santo, que se envolveu na pesquisa da nova variedade.

Segundo a professora Ana Paula Candido Gabriel Berilli, que coordena a pesquisa “Melhoramento participativo em gengibre visando aspectos produtivos e de resistência a doença”, do Fortalecimento da Agricultura Capixaba (FortAC), não havia sequer descritores no Mapa para que fosse registrado.

“Para nossa surpresa, quando investiguei quais parâmetros avaliar na espécie de gengibre, vi que não existia nenhuma cultivar registrada no país. Então, seremos os pioneiros, o que trouxe bastante alegria e destaque para o Espírito Santo”, completa a pesquisadora.

Ifes estudou o gengibre produzido em Santa Leopoldina. — Foto: TV Gazeta

Ifes estudou o gengibre produzido em Santa Leopoldina. — Foto: TV Gazeta

Na avaliação dela, com a parceria foi possível aliar os saberes práticos com o rigor científico e alcançar esse registro inédito no país.

“O Alexandre vinha mantendo sua própria seleção genética das plantas, no entanto, apesar de possuir os saberes práticos, essa seleção estava sendo feita sem o rigor científico necessário. Se o estado já é considerado o maior produtor de gengibre nacionalmente, agora, com esse material que tem mais qualidade, a gente espera aumentar a produtividade das lavouras capixabas, dando maior ênfase à capacidade produtiva do estado”, analisou a pesquisadora.

Além do Ifes, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) passou a acompanhar o agricultor.

Segundo o pesquisador Galderes Magalhães, a nova variedade se destaca em comparação com outras cultivadas no Espírito Santo.

“A Imigrante apresenta um desenvolvimento inicial e final muito maior, especialmente na parte aérea da planta. Enquanto a produtividade média no estado é de 59 toneladas por hectare, essa variedade apresentou 140 toneladas por hectare”, afirma Magalhães.

Maior exportador de gengibre do Brasil

Espírito Santo é o maior produtor e exportador de gengibre do Brasil. — Foto: TV Gazeta

Espírito Santo é o maior produtor e exportador de gengibre do Brasil. — Foto: TV Gazeta

Com o registro da Imigrante no Sistema Nacional de Cultivares, o pesquisador do Incaper falou sobre o planejamento a próxima etapa.

“Agora vamos registrar a unidade de produção, com um responsável técnico que vai acompanhar a produção da muda, garantindo que ela chegue com qualidade ao produtor rural. O produtor rural, implantando esse material já registrado, sabendo o que ele está plantando, com certeza vai ter ali um aumento de produtividade, segundo todos os parâmetros recomendáveis para o desenvolvimento da cultura”, apontou Magalhães.

O Espírito Santo é o maior produtor e exportador de gengibre do Brasil, com expectativa de alcançar 84 mil toneladas em 2024. A nova variedade desenvolvida promete elevar ainda mais esses números nos próximos anos.

O gengibre é plantado entre julho e agosto e colhido durante todo o ano. — Foto: TV Gazeta

O gengibre é plantado entre julho e agosto e colhido durante todo o ano. — Foto: TV Gazeta

O gengibre é plantado entre julho e agosto e colhido durante todo o ano, seja verde ou maduro.

Este ano, as condições climáticas favoráveis contribuíram para a qualidade da safra. Após a colheita, o gengibre passa por um processo rigoroso de limpeza e secagem para garantir que não haja problemas durante o transporte.

Depois de seco, o gengibre é encaixotado em pacotes de 15 kg e levado ao porto, de onde segue de navio para a Europa, com destino a países como Holanda, Alemanha, França, Áustria e até mesmo Rússia.

“A carreta chega com o contêiner, que é lavado e segue para o navio com destino à Europa, nosso principal mercado”, finalizou Alexandre.

 

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