Nessa coluna, às sextas-feiras, postarei no site de notícias O JORNAL textos antigos que considero importantes, sejam crônicas, historietas, contos ou artigos que possam contribuir para evitar que repitamos velhos equívocos. O passado pode ser um bom professor.
Em meio a esta celeuma provocada pela demissão em massa de professores DTs pela Prefeitura de Cachoeiro, recebi muitas mensagens. Algumas extremamente indignadas, outras elogiando a coragem do prefeito Vítor Coelho de tomar uma atitude tão difícil nesse momento de incerteza pelo qual todos passamos.
Como me faltam dados (números) mais precisos para formar juízo de valor sobre a ação do prefeito, manifesto aqui minha total solidariedade para com a dor daqueles que perderam seu emprego. Reproduzo, então, inaugurando essa “COLUNA RETRÔ”, um texto escrito pela saudosa professora Sonia Coelho, há 16 anos. Ela não fala de demissão, mas de Educação.
“Ler é melhor que estudar”
Este pensamento do escritor Francisco Aurélio Ribeiro, aparentemente, é uma incoerência, mas se analisarmos com profundidade, veremos que passamos toda a nossa vida lendo, quer conheçamos ou não as letras. Lemos nos olhos de nossos pais, nas expressões de amigos ou adversários, no semblante de uma criança, nas declarações dos políticos, enfim, as nossas ações e reações dependem das leituras de mundo que fazemos. Essas leituras direcionam até planos de governo. Paulo Freire já nos ensinava esta verdade.
Minha opção profissional foi a Educação, para falar a verdade, o Magistério, a sala de aula. E nesse mister aprendi muito com as leituras que fiz dos olhares e gestos de meus alunos, principalmente das escolas públicas. Em 1983, quando aceitei o desafio de assumir a Secretaria Municipal de Educação, havia um Plano de Governo que priorizava o ser humano, e um prefeito que acreditava no poder da Educação proposta por Paulo Freire, pois era e é um leitor de livros e do sentimento do mundo.
Assim, apoiada, deixamos em 1988, ao final do mandato, um Projeto de Leitura implantado, com muita determinação. Era um projeto novo e ousado, requerendo, pois, uma formação sólida para os professores. Aqui esteve conosco uma expoente em literatura e leitura, a professora Eliana Yunes, da PUC-RIO e UNESCO, para nos assessorar nessa missão.
Mas só isso não bastava, era preciso valorizar o professor, e Roberto Valadão cuidou pessoalmente dessa parte. Cachoeiro, então, pôde assistir à maior valorização do magistério que o município já teve. Os maiores beneficiados com o “Projeto Ler é um Prazer” foram os alunos. Alguns, pela primeira vez, tiveram em suas mãos um livro de literatura de qualidade, para iniciar seu caminho através de leituras prazerosas que lhes descortinariam outros mundos e outros saberes.
A literatura chegou às nossas escolas, nos bairros de periferia e zona rural. Foram mais de 8.000 livros adquiridos até 1988, quando a Rede Municipal ainda era muito pequena, e os recursos financeiros dos municípios muito escassos. Não havia Fundef e nem Fundeb. Os desdobramentos de um projeto de leitura é enorme, e quem trilhou esse caminho sabe o que significa saber ler, letras, gestos, olhares. Saber ler é estar instrumentado para conhecer, criticamente, todos os saberes da humanidade.
O prefeito Roberto Valadão fez a sua parte como chefe do Executivo e homem preocupado com a qualidade da educação em nosso município. Em 2005, os projetos de leitura retornaram dentro do que o momento exigia e proporcionava.
Por Sonia Coelho (in memoriam) – 2005