A expedição científica de Maximiliano de Wied-Neuwied: de Itapemirim a Vitória

Por Arthur Soffiati

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31/10/2023

Arthur Soffiati

Intelectual por vocação e ofício, ecólogo militante, pioneiro da área de História Ambiental no país

Em 1815, o príncipe naturalista alemão Maximiliano de Wied-Newvied empreendeu uma das primeiras excursões científicas no Brasil depois da abertura dos portos, em 1808. Antes dessa data, a entrada de estrangeiros no Brasil era proibida em função de guerras e contrabando. A expedição do príncipe alemão foi cuidadosamente preparada e contou com a presença de dois colegas seus que já estavam no Brasil: Friedrich Sellow e Friedrich Freyreiss. Essa viagem se estendeu do Rio de Janeiro a Salvador entre 1815 e 1817. Maximiliano seguiu o caminho da costa do Brasil, com incursões para o interior. Deixou seu diário de viagem em dois volumes, com o nome de “Viagem ao Brasil”, publicado em 1820-21, além de livros eminentemente científicos que não foram traduzidos para o português. Acompanhamos a excursão ao sair da vila de Itapemirim até Vitória, pois já analisamos suas impressões sobre Itapemirim (rio e vila) em artigo anterior.

Ao deixar a vila de Itapemirim, na margem direita do rio de mesmo nome, Maximiliano notou a presença de pedras, confirmando a existência de um litoral não pedregoso entre os rios Macaé e Itapemirim e reforçando a percepção de uma costa distinta da que lhe fica abaixo e acima desses rios. É o que denominamos de Ecorregião de São Tomé.

O primeiro ponto a nos chamar a atenção nesse trecho da viagem é a Fazenda de Agá, onde o naturalista registrou o plantio de mandioca, algodão e café nas adjacências de “Matas extensas, repletas de toda espécie de animais ferozes.” Dentre eles, menciona a onça. Em seu diário, ele registra: “Perto da fazenda, alta montanha arredondada e solitária, chamada Morro de Agá, levanta-se dentre as florestas circunjacentes.” Aí também ele se depara com o sapo ferreiro (Hyla faber).

Sapo ferreiro. Desenho publicado em Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens

            Continuando a viagem, ele anotou em seu diário: “Passamos, perto de Agá, pela povoação de Piúma, ou Ipiúma, onde um riacho do mesmo nome, navegável apenas por canoas, deságua no mar. Existe, nesse lugar, uma ponte de madeira de trezentos passos de comprimento, assentada no ponto de maior largura do riacho, verdadeira raridade nessas paragens. As margens são cobertas de vegetação densa, e a água escura, cor de café, como a maioria dos córregos de mata e dos pequenos rios da região.” A vegetação densa certamente inclui o manguezal, que ainda hoje é expressivo na foz do rio Piúma ou Iconha.

A caminho de Guarapari, a expedição cruzou o “… escuro riacho Iriri, atravessado por uma pitoresca ponte feita de troncos.” Hoje, ele se transformou na lagoa da Conceição, em torno da qual ergueu-se o balneário de Iriri. No caminho, ele viu tucanos, maitacas e uma aranha caranguejeira, espécie que conheceu no início da viagem.  

Daí ao rio Benevente, o Reritiba tupi, o naturalista escreveu: “Cavalgamos por uma região montanhosa, com matas e campos alternados, e chegamos, à tarde, a uma elevação, à beira do rio Benevente, donde súbito descortinamos formoso panorama (…) Vila Nova de Benevente; à direita, o espelho azul do oceano, e, à esquerda, o rio Benevente, que se espraia como um lago; em derredor, soberbas e sombrias matas e, atrás destas, montanhas rochosas fechando o horizonte (…) A igreja deles e o convento contíguo ainda existem; este, que nos serviu de pouso, é utilizado atualmente como casa da Câmara.” O desenho da foz do rio, deixado por Maximiliano, mostra já grande desmatamento, restando apena o manguezal. Aliás, como ainda hoje. A Vila Nova de Benevente chama-se hoje Anchieta, e o convento continua lá, abrigando atualmente uma casa de cultura.

Rio Benevente. Desenho de Maximiliano de Wied-Neuwied. Desmatamento em ambas as margens, restando apenas o manguezal na margem direita.

Continuando a fazer comentários sobre a vila, ele acrescentou: “Os jesuítas reuniram aí, a princípio, seis mil índios, fundando a maior aldeia dessa costa. A maioria, entretanto, abandonou-a por causa do duro trabalho exigido pela coroa, e devido à maneira tirânica por que eram tratados; espalharam-se por outras paragens, de modo que todo distrito de Vila Nova, incluindo colonos portugueses, não possui mais de oitocentos habitantes, dos quais cerca de seiscentos são índios (…) Vila Nova, propriamente, é um lugar pequeno, com algumas boas casas, mas anima-se aos domingos, porque os moradores dos arredores vão aí assistir à missa.” Nesse ponto caçou macacos, um exemplar de saí-açu e uma surucucu.

Sauí-açu. Desenho publicado em Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens

Adiante, ele se referiu ao rio Guaraparim: “Campos alagadiços e lamaçais se sucedem próximo à praia litorânea, alternando com pequenas moitas, ao lado dos quais, às vezes se juntam, para deleitar o viandante, trechos de mata virgem. Ouvíamos continuamente o rugido do oceano, cujo litoral montanhoso era coberto de matas. As ramarias tapavam o caminho escuro; orlavam-no árvores majestosas e seculares, que tinham os troncos cobertos de um mundo de plantas, e os galhos, de fungos e liquens; coqueiros novos, embaixo, se entrelaçavam com trepadeiras, cuja tenra folhagem, de lindos matizes vermelhos e verde-brilhante, despontava; ao passo que, muito acima de nossas cabeças, o penacho das comas de velhas palmeiras ondeavam no espaço, e os estipes se curvavam, estalando, para a frente e para trás.”

Surucucu. Desenho publicado em Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens

Não existe rio com esse nome. Maximiliano fará um esclarecimento sobre a confusão entre baía e rio. Certamente, no ponto em que se encontra, ele deveria estar vendo a grande lagoa de Maimbá, que se conecta ao presumível rio Guarapari. Nesse ponto, encontrou exemplares de pica-pau de topete amarelo (Picus flavescens) e pica-pau de cabeça e pescoço vermelhos (Picus robustus)

Logo adiante, ele passou pela “… povoação de Obu, constituída de algumas cabanas de pescadores, a duas léguas de Vila Nova.” Trata-se do atual Ubu, onde se pode ver a lagoa Maimbá. Ele estava perto de Guarapari quando passou por “Uma povoação (vila sem igreja) denominada Miaipe, ocupada por sessenta ou oitenta famílias de pescadores.” Nesse ponto, desemboca o riacho Meaípe, hoje muito poluído e com margens muito desmatadas.

“Perto de Miaipe, fica a vila de Guaraparim, aonde se vai ter por um caminho sobre montes rochosos, que entram pelo mar. Próximo da vila, um braço de mar, de água salgada, corre para o interior; é chamado Guaraparim, e muitas vezes se fala dele como de um rio (…) A vila tem cerca de 1.600 habitantes, sendo, portanto, um tanto maior que a Vila Nova de Benevente; o distrito inteiro contém mais ou menos três mil almas. As ruas não são pavimentadas, tendo apenas medíocres calçadas junto das casas, que são pequenas e quase todas de um só andar. O lugar é, de modo geral, pobre; na vizinhança, porém, existem grandes fazendas. Uma delas, com quatrocentos escravos negros, é denominada Fazenda de Campos, e outra, com duzentos negros, Engenho Velho.”

As formações pedregosas que mergulham no mar formam, em seus intervalos, formam as praias de Dairaquara, Bracutia, Peracanga e Guaibura. Hoje, de Meaípe a Guarapari, já se pode falar numa conurbação que se liga a Vitória.

Em Guarapari, ficou o naturalista sabendo de rebeliões e fuga de escravos, que formavam quilombos nas matas. Numa fazenda onde ocorrera uma rebelião de escravos, um padre assumiu a direção em nome dos donos: “… os cabeças dos escravos mataram-no na cama, armaram-se e formaram, nessas florestas, uma república negra, que não foi fácil submeter.”

Nas densas matas, havia o pau de óleo, nada mais que a copaíba. “No dia seguinte atravessamos o rio [uma baía], não longe da vila. Serpeia ele, pitorescamente, entre mangues (Conocarpus) de um verde suave, e é limitado, à distância, por verdejantes colinas; na margem norte há uma vila habitada por pescadores. Cavalgamos através de grandes charcos, cheios de moitas da linda Rhexia de flores violetas, e por belas colinas silvestres cobertas de airi e outros coqueiros, muitos dos quais foram motivo de insaciável curiosidade para nós (…) perto de Perocão, e atravessamos um riacho por uma ponte de madeira. Seguimos a praia até a Ponta da Fruta, onde várias casas, à sombra de pequeno bosque, formam uma aldeia dispersa, cujos habitantes, descendentes de negros portugueses, receberam-nos bem.”

            A expedição percorreu o caminho hoje ocupado pela Rodovia do Sol (ES-060). Na Baía de Guarapari, desembocam alguns pequenos rios. O aporte de água doce cria uma espécie de estuário com condições para o desenvolvimento de um manguezal. Nele, o autor encontrou Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia racemosa. Em ponto nenhum do manguezal, avista-se algum exemplar de Conocarpus. Cada vez mais, conclui-se que Maximiliano e o botânico Sellow não tinham muita intimidade com manguezal. O outro lado da baía, onde havia apenas uma colônia de pesca, hoje é intensamente ocupado por uma urbanização desordenada em torno da Praia do Morro. A expedição cruzou o rio Perocão, considerando-o um riacho. Mais adiante, serpenteia o pequeno rio Una, não registrado pelo príncipe.

Já perto de Vitória, ele anotou: “Sucediam-se florestas, campos, cerrados e extensos caniçais brejosos (…) Na relva, na margem arenosa de uma lagoa, descobri a cobra cipó verde (Columber bicarinatus), que deve o nome a sua forma esguia e flexível (…) embora completamente inofensiva, os brasileiros a matam onde quer que a encontrem, porque antipatizam com todas as serpentes (…) Não longe do pequeno rio Jucu, sobre o qual passa comprida ponte arruinada, que é preciso atravessar com precaução, encontramos, na costa, uma aldeia de pescadores; continuamos, em seguida, através de bela floresta secular e, por fim, atingimos a vila do Espírito Santo, à beira do rio do mesmo nome.”

Cobra cipó verde. Desenho publicado em Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens

Finalmente, a expedição de Maximiliano de Wied-Neuwied chegou ao coração da Capitania do Espírito Santo. Depois de passar pelo rio Jucu, ele alcançou Vila Velha, que não lhe causou boa impressão: “Vila Velha do Espírito Santo, pequena e miserável vila aberta, construída quase numa praça.” Ele confundiu a baía de Vitória com um rio, confusão desfeita posteriormente. Logo depois de sua partida para Salvador, a vila de Vitória ganhou o estatuto de cidade.

Os membros da expedição galgaram a colina de Nossa Senhora da Penha. Lá do alto, ele descreveu a paisagem no seu estilo panorâmico e romântico: “domina-se a imensa superfície oceânica, e, do lado da terra, veem-se belas cadeias de montanhas, com vários picos e vales intermediários, donde surge pitorescamente o largo rio. A vila é formada de baixos casebres de barro e decai à meia distância. Esta é um lugarejo gracioso, e foi elevada à categoria de cidade depois de minha partida (…) A cidade de Nossa Senhora da Vitória é um lugar limpo e bonito, com bons edifícios construídos no velho estilo português, com balcões e rótulas de madeira, ruas calçadas, uma câmara municipal razoavelmente grande, e o convento dos jesuítas, ocupado pelo governador, que tem, a sua disposição, uma companhia de tropa regular (…) Além de vários conventos, há uma igreja, quatro capelas e um hospital. A cidade é, entretanto, um tanto morta, e os visitantes, sendo raros, são objeto de grande curiosidade. O comércio marítimo não é desprezível (…) As fazendas vizinhas produzem muito açúcar, farinha de mandioca, arroz, bananas e outros artigos, que são exportados ao longo da costa. Vários fortes protegem a entrada do belo rio Espírito Santo: um, logo na foz; o segundo, construído de pedra, um pouco acima, com oito canhões de ferro; e ainda um pouco mais acima, numa colina entre o último e a cidade, um terceiro forte com dezessete a dezoito canhões, alguns dos quais de bronze. A cidade está edificada, um tanto desigualmente, sobre colinas aprazíveis, e o rio, que lhe passa atrás, corre entre altas encostas, em parte rochosas e em muitos lugares nuas e cobertas de liquens. A bela superfície do grande rio é semeada de numerosas ilhas verdejantes, e a vista, aonde quer que lhe siga o curso através da região, encontra sempre um pouso ameno em altaneiras e fragrantes montanhas vestidas pela mataria.”

 Se, de fato, o braço da baía entre o continente e a ilha fosse um rio, ele superaria o Paraíba do Sul, até esse ponto o maior que a expedição havia cruzado. Mas eram grandes as evidências de que se tratava de um braço de mar para os integrantes da expedição o confundissem com um rio. Ao mesmo tempo, é intrigante que nenhum morador do continente ou da ilha tenha informado tratar-se de mar.

 Como em Campos dos Goytacazes, Maximiliano voltou a se sentir um pouco em casa, recebendo notícias da Europa. “Tivemos de novo notícias da Europa, porque existe um serviço de correio, por terra, do Rio de Janeiro até a cidade em questão, não continuando, porém, para o norte.” Deve-se presumir que houvesse um serviço de correio autônomo em Salvador, ponto final da expedição.

 Não conseguindo hospedagem para tão grande número de pessoas e animais, Maximiliano e seus companheiros foram alojados em Barra do Jucu, por onde já haviam passado. Lá, eles se hospedaram na casa do rico fazendeiro de sobrenome Falcão. Em suas palavras, “Barra do Jucu é uma pequena aldeia de pescadores à beira do rio Jucu, que aí desemboca no mar, depois de um percurso cheio de coleios através das florestas, desde as grandes fazendas de Coroaba e Araçatiba. O peixe é abundante, e perto das margens há muitos lugares de agreste pitoresco. As casas dos pescadores de Barra do Jucu ficam mais ou menos dispersas; no meio delas, próximo da ponte sobre o rio, está a casa do coronel Falcão.” Além de partes altas afastadas da costa, havia também muitos banhados, drenados no século XX sobretudo pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento. O dreno de um desses brejos desboca hoje na foz do Jucu e se denomina canal do Congo.

Em suas caçadas, Maximiliano e membros da expedição conseguiram enriquecer a coleção de fauna com um sauim desconhecido (Jacchus leococephalus), porco espinho de rabo preênsil, saíra (Tanagra elegans), saí (Procnias cyanotropus) e veados.

Sagui caçado nos arredores de Vitória. Publicado em Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens

A expedição foi visitar a fazenda de Araçatiba, do coronel Falcão. O deslumbramento com a paisagem mereceu registro do naturalista: “… primeiro passávamos através de grandes várzeas arenosas, repletas de plantas palustres as mais diversas; subíamos depois morros, onde tufos de palmeiras novas e outras belas árvores ofereciam sombra densa. Uma espécie de gramínea parecida com o junco cobre os lugares escampos, em que o pequeno tentilhão cor brilhante de aço é muito comum (…) A imponente selva de Araçatiba era um ermo solene; por toda a parte os papagaios esvoaçavam com alarido, e a vozeria dos macacos saí-açu se ouvia em todo o redor. Trepadeiras, ou cipós, das espécies mais belas e variadas, entrelaçavam-se nos troncos gigantescos, formando impenetrável mataria: as esplêndidas flores das plantas carnudas, os pendentes festões dos fetos, enrolados nas árvores, vicejavam luxuriantemente; em toda parte, coqueirinhos novos adornavam o mato baixo, sobretudo nos pontos úmidos; aqui e ali, a Cecropia peitata, de caule anelado cinzento-prateado, formava moitas distintas. Dessa majestosa penumbra passamos inesperadamente para um trecho escampo, e tivemos grata surpresa quando, de súbito, descortinamos o grande edifício branco da fazenda de Araçatiba, com as suas duas torres pequenas, situada numa linda planura verde, ao pé do altaneiro Morro de Araçatiba, montanha rochosa coberta de mata. Araçatiba foi a maior fazenda que encontrei durante a minha viagem.”

Ouriço caçado nas cercanias de Vitória. Publicado em Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens

A principal lavoura das fazendas do coronel Falcão era a cana, para a produção de açúcar. Aí, Maximiliano consegui abater uma cobra caninana.

Caninana caçada nas imediações de Vitória. Publicado em Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens

Os integrantes da expedição científica liderada por Maximiliano de Wied-Neuwied sofreram mais o assédio de pequenos animais do que dos grandes. Ninguém foi atacado por onças, mas vários deles ou todos foram atacados por mosquitos, bichos-de-pé e cobras. Nas imediações de Vitória, Maximiliano deu notícia da mosca que chamamos atualmente de varejeira: “Os cordeirinhos, que os meninos apanharam, mostravam frequentemente, no umbigo ainda mal cicatrizado, uma porção de larvas, para matar as quais esfregavam mercúrio no lugar. Essas larvas são um mal bastante comum nos países quentes; onde quer que haja uma ferida, as moscas estão prontas para desovar. Existe no Brasil outro inseto que deposita os ovos no tecido muscular ou debaixo da pele, até do próprio homem; depois da picada deste animal sobrevém uma pequena dor local, o lugar começa a inchar, até o momento em que os naturais, perfeitamente conhecedores desta nociva praga, extraem uma pequena larva branca e alongada, cicatrizando-se depois a ferida.” O outro inseto a que o príncipe se refere deve ser a pulga hoje conhecida cientificamente com o nome de Tunga penetrans ou popularmente bicho-do-pé. A diferença entre a pulga e a mosca varejeira é que a fêmea da pulga, não conseguindo pular tão alto quanto à pulga mais conhecida, sua parenta, ataca as partes baixas dos membros inferiores, até a altura do joelho. Já a mosca não penetra na pele do hospedeiro. Apenas deposita seus ovos em feridas de animais, ovos esses que gerarão a larva conhecida por berne.

Ao partir de Vitória, Maximiliano fez um desenho da Pedra de Jucutuquara, certamente redesenhado na Europa para ilustrar “Viagem ao Brasil”.

Pedra de Jucutuquara. Desenho de autor desconhecido com base em desenho original de Maximiliano. Em Viagem ao Brasil

Sua intenção era passar bastante tempo na região de Vitória, mas os planos foram mudados, e a expedição continuou seu itinerário para o norte, passando pelo Rio Maruim ou da Passagem, onde ele registrou a presença de manguezais (sempre Rhizophora, Conocarpus e Avicennia), e pousando em Praia Mole. Aqui deixamos de acompanhá-lo.

O que a expedição de Maximiliano nos mostra é os ecossistemas do Brasil, em 1815, eram mais pujantes que atualmente. O desmatamento a drenagem e a urbanização destruíram paulatinamente o domínio da mata atlântica. A postura reinante no mundo ocidental e ocidentalizado da época era a de uma natureza inesgotável. A destruição ainda não havia alcançado o ponto de engendrar uma crise ambiental e de requerer a criação de unidades de proteção ambiental. O comportamento do próprio Maximiliano e de seus colegas de expedição era o de retirar o que desejasse da natureza, embora ele se encantasse com rios, lagoas e florestas. Seu relato escrito há dois séculos mostra que existe uma tendência, hoje globalizada, a marchar do bom para o ruim, do belo para o feio, do melhor para o pior nas relações das sociedades humanas com o ambiente. A crise ambiental da atualidade já estava em marcha naqueles longínquos anos. Poucas figuras, como José Bonifácio de Andrade e Silva e Auguste de Saint-Hilaire, alertaram sobre o perigo que representava a destruição da natureza.  

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