Ao menos 39 pessoas morreram em um incêndio na noite desta segunda-feira (27) em um centro de detenção de imigrantes em Ciudad Juárez, na fronteira do México com os Estados Unidos, agravando a crise humanitária na região em meio ao recorde histórico de pessoas em busca de asilo.
O incêndio começou às 22h de segunda no local que abrigava 68 homens, todos eles das Américas do Sul e Central, segundo o Instituto Nacional de Migração (INM) mexicano, que administra o local. O órgão afirmou ainda que 29 pessoas estão em estado grave e foram levados a quatro hospitais da região.
Dados da agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) apontam que, de janeiro a dezembro de 2022, mais de 3 milhões de migrantes foram interceptados tentando ingressar em território americano sem permissão legal, um aumento de 33% em relação aos 2,7 milhões registrados no ano anterior. No topo da lista de nacionalidades flagradas estão migrantes de México, Cuba, Nicarágua, Guatemala, Honduras e Venezuela.
Um relatório recente da Organização Internacional para as Migrações (OIM) apontou que desde 2014 cerca de 7.661 migrantes morreram ou desapareceram a caminho dos Estados Unidos. Destas, 988 faleceram em acidentes ou por viajar em condições subumanas.
Ainda não se sabe a nacionalidade dos imigrantes mortos no incêndio de segunda. O INM afirmou que está "em contato com autoridades consulares de diferentes países" para identificar os mortos. O governo da Guatemala afirmou que 28 vítimas são guatemaltecas.
Vizinha de El Paso, no Texas, Ciudad Juárez é uma das principais portas de entrada nos Estados Unidos e acumula milhares de migrantes nas ruas à espera de resposta para cruzar para o país.
São muitas as tensões com os agentes federais na região e na véspera o INM havia realizado uma operação para retirar das ruas pessoas que aguardavam na cidade. Segundo o presidente, Andrés Manuel López Obrador, o incêndio começou após detidos colocarem fogo em um colchão ao saberem que seriam mandados de volta a seus países.
A situação na região se agravou após duas políticas da era Donald Trump. A mais importante foi a chamada política "Permaneça no México", que forçava os imigrantes, mesmo aqueles que tinham outras nacionalidades, a aguardarem do lado mexicano da fronteira a resposta aos pedidos de asilo. A política foi suspensa depois pelo atual presidente, Joe Biden, mas em dezembro um juiz federal ordenou que fosse retomada até que processos que os estados abriram na Justiça contra o governo fossem julgados.
A segunda política é a chamada "Título 42" que, sob a justificativa de conter a circulação da Covid-19, permitiu a expulsão de migrantes que sem que eles possam pedir asilo no país, usando do argumento sanitário para avançar na agenda republicana. Biden tentou derrubar a medida, mas a Suprema Corte a manteve em vigor.
Biden, embora tenha sido eleito e ainda repita discurso favorável à imigração, tem dados sinais controversos ao relançar políticas anti-imigratórias do seu antecessor. Em fevereiro, propôs uma nova regra que pressupõe como inelegíveis para a concessão de asilo pessoas que entrarem de forma irregular no país, a não ser que provem que tiveram o asilo negado em outras nações antes de cruzarem a fronteira.
"Na ausência de tal medida, o número esperado de migrantes viajando aos Estados Unidos sem autorização deve aumentar significativamente, a um nível que pode comprometer a habilidade dos departamentos [de Segurança Interna e de Justiça] de pôr em prática de forma segura, efetiva e humana a lei imigratória dos EUA", diz projeto da norma, que entrou em consulta pública.
Apesar das ações do governo Biden, a crise na fronteira com o México está no centro do discurso republicano hoje. Em comício no sábado (25) em Waco, no Texas, Trump, em pré-campanha à Casa Branca, prometeu promover deportações em massa se reeleito. "Vamos usar todos os recursos necessários estaduais, locais, federais e militares para promover a maior operação de deportação da história dos Estados Unidos", afirmou.