Molécula melittina destrói 100% das células dos tipos mais agressivos em menos de uma hora, com pouca toxicidade a células saudáveis
Pesquisadores na Austrália identificaram na melittina, componente principal do veneno da abelha (Apis mellifera), um potencial terapêutico para o tratamento do câncer de mama. Em testes in vitro, a substância foi capaz de eliminar completamente células de câncer de mama triplo-negativo e HER2-enriquecido em menos de 60 minutos, preservando quase totalmente as células saudáveis.
O estudo, publicado na revista npj Precision Oncology, revelou que a melittina impede a ativação dos receptores de crescimento celular EGFR e HER2, interrompendo cascatas de sinalização como PI3K/Akt, essenciais à sobrevivência das células tumorais. Conforme os resultados, o tempo de resposta para destruição celular foi rápido, com bloqueio de vias de crescimento já aos 20 minutos e morte total das células em até uma hora .
Além disso, pesquisadores testaram uma versão modificada da melittina com um motivo RGD (uma sequência de aminoácidos que aumenta a aderência da molécula a células tumorais), o que aumentou ainda mais a especificidade sem prejudicar células normais .
Testes em modelos animais também apresentaram resultados promissores: a combinação da melittina com a quimioterapia docetaxel reduziu significativamente o crescimento tumoral em camundongos .
Da natureza à medicina moderna
A descoberta segue tradições antigas de uso medicinal de venenos e substâncias naturais — como o uso de ipeca no século XVII. Hoje, a melittina desponta como um componente biotecnológico capaz de gerar tratamentos mais seletivos e de baixo custo, especialmente em regiões remotas .
Desafios e perspectivas futuras
Apesar dos resultados animadores, diversos obstáculos ainda precisam ser superados:
- Escalabilidade: produzir melittina em larga escala, seja sintética ou biológica;
- Segurança: definir doses seguras e prevenir efeitos colaterais em ensaios clínicos com humanos;
- Regulação: obter aprovação de autoridades como FDA e Anvisa;
- Entrega: criar sistemas de administração seletiva e minimamente invasivos.
Se esses desafios forem vencidos, poderemos estar próximos de novas terapias personalizadas e menos tóxicas para o câncer de mama – um cenário comparável à precisão de um artesão que lapida uma joia única.