População de Israel sai às ruas furiosa com premiê Benjamin Netanyahu

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O Globo

Premiê israelense enfrenta protestos e greve geral em Israel por um acordo com o Hamas para libertar os sequestrados que ainda estão vivos

“Netanyahu: Chega de desculpas. Chega de enrolação. Chega de abandono.” O apelo, feito pelo Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos, simboliza a fúria coletiva de israelenses contra o primeiro-ministro, após o resgate de seis corpos de reféns, assassinados com tiros em Gaza.

Multidões inundaram as ruas das principais cidades, e uma greve geral foi convocada para esta segunda-feira pelo sindicato Histradut, que representa milhares de funcionários públicos. A paralisação é acatada também pela federação de empresários.

A pressão popular sobre o premiê pelo cessar-fogo em Gaza e um acordo para a libertação dos reféns tornou-se ainda mais vigorosa com a divulgação de notícias de que os reféns foram executados de 48 a 72 horas antes da descoberta dos corpos por militares, num túnel a 20 metros de profundidade. Ou seja, teriam sido mortos numa tentativa do Hamas de impedir que fossem resgatados.

Quatro dos seis sequestrados, que tinham entre 23 e 40 anos, estariam numa lista para serem libertados numa primeira etapa, caso Israel e Hamas chegassem a um acordo.

“Estamos recebendo sacos com cadáveres em vez de um acordo. Cheguei à conclusão de que somente nossa intervenção pode mover aqueles que precisam ser movidos”, resumiu o líder sindical Arnon Bar-David.

A mensagem direta a Benjamin Netanyahu tem também uma palavra de ordem que equivale a um ultimato: “Agora”, gritavam os manifestantes.

O premiê israelense, no entanto, apresentou uma lógica própria aos israelenses para mais este fracasso na devolução dos prisioneiros: “Quem assassina reféns não quer um acordo”. E reafirmou a promessa de caçar terroristas, acertar contas com o Hamas e perseguir a erradicação do grupo terrorista.

É essa a embromação a que as famílias dos reféns se referem no apelo divulgado no domingo (1º). O premiê é responsabilizado por postergar e bloquear as negociações com exigências que dividem o seu próprio Gabinete. A mais recente é a manutenção de tropas israelenses no Corredor Filadélfia, uma zona-tampão de 14 quilômetros de extensão na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito. Netanyahu esclareceu que não está disposto a fazer concessões neste item.

O ministro da Defesa, Yoav Gallant, e o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Herzi Halevi, se opõem à medida e asseguram que o corredor não é uma necessidade de segurança, como alegam o premiê e seus ministros da ala radical.

Conforme ponderou a jornalista Noa Landau, colunista do jornal “Haaretz”, Netanyahu busca apresentar à sua base política uma equação populista, segundo a qual as únicas opções sobre a mesa são um acordo para libertar os reféns e o fim da guerra – ou a segurança pessoal de todos os outros cidadãos de Israel.

“Ele está declarando que um acordo para salvar os reféns comprometeria a segurança nacional. Então, como primeiro-ministro, ele acha que deve tomar o caminho mais nobre: sacrificá-los pelo bem maior imaginário”, acrescenta Landau.

Os protestos deste domingo se equiparam aos que mobilizaram a sociedade israelense quando, no ano passado, Netanyahu tentou impor uma reforma judicial no país. Seus críticos creditaram o projeto a uma manobra para lhe assegurar a imunidade nos processos criminais em que é réu. A pressão das ruas suspendeu a reforma.

Nos 11 meses que se seguiram ao massacre de israelenses perpetrado pelo Hamas em solo israelense, Netanyahu também vem sendo acusado de agir em benefício próprio: ao adiar o fim da guerra em Gaza, ele posterga as investigações sobre as falhas de segurança no ataque que causou a morte de 1.200 pessoas.

De “Senhor Segurança”, o premiê passou a ser chamado de “Senhor Morte”. Em apenas duas semanas, 12 corpos de reféns foram recuperados. O Exército israelense conseguiu resgatar apenas oito dos 256 sequestrados pelo Hamas. Este é o maior indicativo de que somente um acordo político trará de volta ao país os que conseguiram sobreviver, após 11 meses de cativeiro.

*Por Sandra Cohen – Especializada em temas internacionais

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