Criança que está em estado grave foi mostrada em reportagem do fantástico. — Foto: Alexandro Pereira/Rede Amazônica
Mais uma criança Yanomami morreu neste sábado (20) na Terra Indígena Yanomami. A vítima tinha sintomas de malária, desnutrição e pneumonia, conforme relato do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Condisi-YY).
O óbito foi em Xaruna, mesma comunidade onde há três dias uma outra criança, de 3 anos, também morreu. Nos dois casos, o Condisi-YY afirma que não houve atendimento por parte do Distrito Sanitário Yanomami (Dsei-Y), órgão que responde à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ligada ao Ministério da Saúde.
Procurada, a assessoria do Ministério da Saúde informou que apura o caso.
Xaruna é a mesma comunidade em que a reportagem do Fantástico (TV Globo) e o g1 registrou a grave situação da saúde na Terra Yanomami. Foi nesta localidade onde a equipe encontrou uma das piores situações dentro da reserva indígena, com dezenas de crianças desnutridas e com sintomas de malária.
"Recebi a informação sobre a criança às 11h55. Os próprios Yanomami da comunidade Xaruna me informaram que tinha falecido mais uma criança, mas não fui informado se é masculino ou feminino, e nem a idade", disse o presidente do Condisi-YY, Júnior Hekurari Yanomami.
Além da morte deste sábado, o presidente do Conselho informou que há uma criança, de 2 anos, em estado grave aguardando por atendimento em Macuxi Yano, comunidade também localizada na Terra Yanomami. A menina é uma das crianças que apareceu na reportagem do Fantástico no último domingo (14).
No dia da visita da reportagem do Fantástico, a criança, que é da comunidade Macuxi Yano, já estava bastante debilitada e foi levada pela mãe para Xaruna em busca de atendimento, o que não ocorreu até este sábado.
Espaço com paredes de madeira e chão de terra no polo de Surucucu que funciona como enfermaria onde os Yanomami são internados em redes — Foto: Valéria Oliveira/g1
Segundo Júnior Hekurari, ao saber da situação da criança, ele solicitou e o Dsei-Yanomami autorizou que ela fosse removida de Xaruna para o posto de Surucucu, referência na região por ser a maior unidade de atendimento dentro da terra indígena, mas que se resume a um barracão de madeira de chão batido e com estrutura precária.
"Ligaram pra mim por videochamada dizendo que essa criança está muito ruim, com desnutrição, suspeita de malária e estão solicitando urgentemente uma equipe médica ou remoção. A própria mãe da criança pegou um telefone emprestado e fez essa chamada de vídeo pedindo socorro", explicou.
O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana acredita que, após ser avaliada em Surucucu, a criança deve ser removida para Boa Vista. "O helicóptero vai levar para o Surucucu, onde a equipe vai avaliar ela e aí com certeza vão remover a criança para Boa Vista e vai ter outro pedido de autorização para remoção", explicou.
Comunidade Xaruna, na Terra Yanomami, fica às margens do rio Parima, e vizinha a garimpo — Foto: Alexadro Pereira/Rede Amazônica
Xaruna fica às margens do Rio Parima e é vizinha a um a garimpo ilegal, onde os invasores tem internet e, muitas vezes, a quem os Yanomami recorrem para pedir socorro. A comunidade é originalmente atendida pelo posto Parima, mas, não há combustível para o deslocamento das equipes.
"Me informaram que tem muitas crianças doentes lá [Xaruna] e essas crianças estão sem atendimento desde o início desse mês. A equipe médica que está em Parima está sem combustível para se deslocar até a comunidade", relata o presidente do Condisi-YY. A falta de combustível foi o mesmo motivo relatado para a falta de atendimento no caso do menino que morreu há três dias.
Ainda não se sabe a idade e o sexo da criança que morreu neste sábado (20). Júnior disse que o Condisi-YY tenta um voo para a comunidade Xaruna para obter mais detalhes do caso, mas ainda não recebeu uma reposta por parte do Distrito Sanitário Yanomami (Dsei-Y) sobre a viagem.
A criança é a quarta a morrer por malária e o sexto caso em três meses na Terra Indígena Yanomami. Em setembro, duas crianças indígenas — uma delas tendo seis meses de idade — morreram também na comunidade de Xaruna. No dia 4 de novembro, uma adolescente indígena, de 17 anos, morreu na comunidade Yaritopi, que estava em estado grave de malária falciparum. Em 1º de outubro, um pajé da comunidade Makuxi Yano, de 50 anos, morreu sem atendimento.
STF pede providências
Na última quarta-feira (17), o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o governo federal preste esclarecimentos em até cinco dias sobre a situação do povo Yanomami.
No último fim de semana, o Fantástico (TV Globo) e o g1 mostraram que as crianças Yanomami estão sofrendo com desnutrição, malária e falta de atendimento médico (veja no vídeo abaixo).
O partido Rede Sustentabilidade acionou o STF pedindo que o governo Jair Bolsonaro seja obrigado a adotar as medidas necessárias para garantir a proteção da vida, da saúde e da segurança da população indígena.
Pela determinação de Barroso, o governo deverá informar: situação nutricional, acesso a água potável, serviços de saúde e medicamentos.
O Ministério Público Federal em Roraima recomendou, nesta segunda-feira (15), que o Mistério da Saúde faça um plano de reestruturação da assistência básica que possa reverter o cenário. Foi dado um prazo de 90 dias para a reposta, e, caso ela não ocorra, foi sugerido intervenção.
Terra Yanomami
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem cerca de 28 mil indígenas que vivem em mais de 370 aldeias. Alvo frequente de garimpeiros, desde o dia 10 de maio, a região enfrenta tensão na comunidade de Palimiú em razão de ataques armados de garimpeiros.
A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.
Em 2020, o ano da pandemia, o garimpo ilegal avançou 30% na Terra Yanomami. Só o rio Uraricoera concentra 52% de todo o dano causado pela atividade ilegal.
A criança é a quarta a morrer por malária e o sexto caso em três meses na Terra Indígena Yanomami. Em setembro, duas crianças indígenas — uma delas tendo seis meses de idade — morreram também na comunidade de Xaruna. No dia 4 de novembro, uma adolescente indígena, de 17 anos, morreu na comunidade Yaritopi, que estava em estado grave de malária falciparum. Em 1º de outubro, um pajé da comunidade Makuxi Yano, de 50 anos, morreu sem atendimento.
STF pede providências
Na última quarta-feira (17), o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o governo federal preste esclarecimentos em até cinco dias sobre a situação do povo Yanomami.
No último fim de semana, o Fantástico (TV Globo) e o g1 mostraram que as crianças Yanomami estão sofrendo com desnutrição, malária e falta de atendimento médico (veja no vídeo abaixo).
O partido Rede Sustentabilidade acionou o STF pedindo que o governo Jair Bolsonaro seja obrigado a adotar as medidas necessárias para garantir a proteção da vida, da saúde e da segurança da população indígena.
Pela determinação de Barroso, o governo deverá informar: situação nutricional, acesso a água potável, serviços de saúde e medicamentos.
O Ministério Público Federal em Roraima recomendou, nesta segunda-feira (15), que o Mistério da Saúde faça um plano de reestruturação da assistência básica que possa reverter o cenário. Foi dado um prazo de 90 dias para a reposta, e, caso ela não ocorra, foi sugerido intervenção.
Terra Yanomami
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem cerca de 28 mil indígenas que vivem em mais de 370 aldeias. Alvo frequente de garimpeiros, desde o dia 10 de maio, a região enfrenta tensão na comunidade de Palimiú em razão de ataques armados de garimpeiros.
A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.
Em 2020, o ano da pandemia, o garimpo ilegal avançou 30% na Terra Yanomami. Só o rio Uraricoera concentra 52% de todo o dano causado pela atividade ilegal.