Bolsonaristas expulsaram a tiros agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Novo Progresso, no sudoeste do Pará, nesta segunda-feira (7). Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que há oito dias bloqueiam trecho da BR-163, dispararam contra os policiais, que abandonaram o local com suas viaturas. Uma criança sofreu intoxicação pelo uso de gás e precisou ser socorrida. Os golpistas feriram um agente. O atirador entre os bolsonaristas armados ainda não foi identificado.
Nova Progresso tem cerca de 25 mil habitantes e a área abrangida pelo município tem 38 mil quilômetros quadrados. Para se ter ideia, a área é 25 vezes a da cidade de São Paulo (de 1.500 km² e 12,3 milhões de habitantes).
É um município que, segundo o coordenador de Comunicação do Observatório do Clima, Claudio Angelo, “come, bebe e respira crime ambiental”. “É difícil encontrar um estabelecimento comercial ou uma porteira de fazenda sem uma bandeira do Brasil na fachada”, escreveu em artigo Vai ter guerra na Amazônia, publicado no Blog da Companhia e reproduzido em fevereiro pela RBA (leia mais no final da reportagem).
Bolsonaristas armados atiraram pedras e objetos
Pelo vídeo, que mostra o confronto, há pelo menos quatro viaturas da PRF sendo atacadas. Os bolsonaristas armados atiram também pedras contra os veículos da polícia, que percorrem a rodovia em alta velocidade.
No vídeo ouvem-se também muitos gritos e palavrões proferidos pelo grupo bolsonarista contra os agentes de segurança, destacados para desbloquear o trecho. Em um momento, um bolsonarista atira uma cadeira de plástico contra a viatura, enquanto há disparos de armas de fogo. Conforme comando da PRF, a ação visa a desbloquear trecho da rodovia federal BR-163, que está sendo obstruído por “manifestantes”.
Novo Progresso respira crime ambiental, segundo especialista
O local de interdição é na mesma cidade que deu a Bolsonaro no segundo turno 83% dos votos válidos. É também onde os desmatadores derrubaram uma árvore em risco de extinção para bloquear a estrada. O jornalista, escritor e coordenador de Comunicação do Observatório do Clima Claudio Angelo já alertava para a peleja. Em artigo publicado em fevereiro, sobre guerra na Amazônia, se referia a Novo Progresso como cidade que “come, bebe e respira crime ambiental”.
Angelo – seu texto é de fevereiro – conta que é difícil encontrar no município dominado por bolsonaristas um estabelecimento comercial ou uma porteira de fazenda sem uma bandeira do Brasil na fachada. E que adesivos do “mito” já adornavam carros naquela época, ainda distante do pleito. Além disso, uma loja de caça e pesca exibia orgulhosa banners de “não é pelas armas, é pela liberdade”.
Novo Progresso vive seu “grande momento”, observa o jornalista. Em restaurantes lotados, uma pizza já era vendida a R$ 130 naquela época. E em suas concessionárias de pás carregadeiras e lojas de motosserras, em seus silos e frigoríficos, tudo não deixa dúvida de se tratar, ali, de um lugar onde “está correndo dinheiro”.
Larga margem de votos a Bolsonaro em outubro
‘Dinheiro de garimpo clandestino, de venda de terra grilada, de gado criado dentro de uma área protegida vizinha à cidade, de soja colhida onde antes era o gado e antes do gado era o grileiro e antes do grileiro era a mata. Novo Progresso e as vizinhas Castelo dos Sonhos (um distrito de Altamira), Trairão e Itaituba reelegerão Jair Messias Bolsonaro por larga margem em outubro deste ano”, diz trecho do artigo.
Conforme destacou, Bolsonaro deu a Novo Progresso, além de outras cidades amazônicas, “exatamente o que prometera na campanha” de 2018. E que convergia para os desejos da ampla maioria de sua população: “liberdade” total. E mais: “Seu governo arrancou o superego do chamado ‘setor produtivo’ ao assegurar que o Estado, na forma do Ibama, da Polícia Federal, da Agência Nacional de Mineração e outras, não mais perturbaria o trabalho honesto e suado dessas ‘pessoas de bem’. Em janeiro deste ano, gabou-se do serviço bem feito ao dizer que ‘reduzimos em 80% (sic) as multagens (sic)’ no campo”, lembrou o autor em outro trecho.