Estilo de vida capaz de reduzir o risco do Alzheimer, indica psiquiatras

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Giulia Vidale - O Globo

O Alzheimer é a principal causa de demência, nome dado ao declínio de funções cerebrais como memória, raciocínio e linguagem, e um os maiores desafios da medicina. Até hoje, ainda não se sabe ao certo o que causa a doença. O consenso é que não há uma única resposta.

No Brasil, são cerca de 1,2 milhão de pacientes, com 100 mil novos casos a cada ano. Para abordar esse assunto tão importante, O GLOBO traz essa semana o especial Por Dentro da Mente, com cinco reportagens, que se encerram hoje, abordando a prevenção.

Muitos fatores de risco desempenham um papel no desenvolvimento do Alzheimer e de outras demências.

De acordo com a Alzheimer’s Association, o maior fator de risco conhecido para Alzheimer e outras demências é o avanço da idade. A maioria dos pacientes tem 65 anos ou mais. Após essa idade, o risco dobra a cada cinco anos. Após os 85 anos, chega a quase um terço das pessoas.

No entanto, é preciso ressaltar que esses distúrbios não são uma parte normal do envelhecimento. Embora a idade aumente o risco, ela não é causa direta do Alzheimer.

Outro fator de risco importante é o histórico familiar. Evidências indicam que aqueles que têm um dos pais, irmão ou irmã com Alzheimer, têm maior probabilidade de desenvolver a doença. E, ainda, fatores genéticos, como o alelo APOE4.

Mas existe um terceiro fator muito importante nessa equação que são os nossos hábitos e estilo de vida. E, embora idade, histórico familiar e hereditariedade sejam condições que não podemos mudar, pesquisas mostram que podemos diminuir as chances por meio de uma vida saudável e do controle da saúde.

Isso é importante porque representa algo que está ao alcance de qualquer um para tentar prevenir ou postergar ao máximo essa doença cuja prevalência só amenta.

— Vários artigos têm demonstrado que o estilo de vida é muito importante e que se tivéssemos hábitos saudáveis, poderíamos prevenir ou retardar o surgimento de várias demências — diz a psiquiatra Rita Cecilia Ferreira, do Programa Terceira Idade/Proter do IPq – Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP.

Um dos estudos mais recentes sobre o assunto, publicado na revista científica The Lancet no ano passado, descobriu que quase metade (45%) dos casos de demência, incluindo Alzheimer, poderiam ser prevenidos por meio da eliminação de 14 fatores de risco — no Brasil, a prevenção poderia alcançar até 60% dos casos.

São eles: perda de visão, poluição do ar, isolamento social, álcool em excesso, obesidade, hipertensão, tabagismo, diabetes, sedentarismo, trauma cerebral, depressão, colesterol alto, perda de audição e educação deficitária.

— Se eu diminuir o fator de risco, vou levar a uma redução dos casos de Alzheimer ou ainda, mesmo que a pessoa desenvolva, isso irá acontecer mais tardiamente e ter menos impacto. Uma coisa é uma pessoa ter o quadro de Alzheimer aos 60 anos, e outra ele começar aos 75, 80 anos — diz a psiquiatra e psicogeriatra Tania Correa de Toledo Ferraz Alves, diretora do corpo clínico do IPq HCFMUSP.

Por épocas

Há diferentes fases da vida em que é possível atuar mais efetivamente na prevenção de demências.

— A primeira época é a infância, por meio da escolaridade. Temos bastante evidência mostrando que baixa escolaridade aumenta risco de demência — diz Jerusa Smid, neurologista do Einstein Hospital Israelita

A educação formal é importante pois contribui significativamente para a reserva cognitiva, termo usado para descrever recursos neurais acumulados com o tempo na realização de atividades diárias como leitura, estudos e trabalhos que demandem altas cargas cognitivas, e que ajudam a proteger o cérebro e prevenir ou ao menos postergar demências.

Outra maneira importante de construir e manter a reserva cognitiva ao longo da vida é procurar sempre aprender coisas novas e realizar atividades mentalmente desafiadoras, como começar a pintar, aprender um novo idioma ou jogar dominó.

Na idade adulta vem os fatores que estão principalmente associados à diminuição de morbidade cérebro-vascular, como o controle de pressão alta, obesidade, diabetes, colesterol alto. Identificar essas condições e mantê-las sob controle já ajuda na prevenção.

Outros hábitos fundamentais são evitar álcool e fumo (qualquer tipo), tentar prevenir o estresse, cuidar da saúde mental (em especial da depressão), tratar a perda auditiva precocemente e praticar atividade física regularmente.

Diversas evidências mostram que paciente com depressão não tratada tem mais chance de evoluir para Alzheimer. Em relação à perda auditiva, além de ser uma fonte de estímulo que o cérebro perde, também contribui para o isolamento social, que é outro fator de risco.

Já na terceira idade, algumas alterações também trazem diminuição das demências, como evitar o isolamento social, a exposição à poluição do ar e cuidar da acuidade visual.

Outros fatores que também impactam no risco de Alzheimer são sono adequado e alimentação saudável. Estudos brasileiros associaram o consumo de alimentos ultraprocessados e mais recentemente, de adoçantes, ao aumento do declínio cognitivo.

— Outra coisa muito importante é o sono. Quando dormimos, nosso cérebro faz uma faxina para retirar todas as toxinas acumuladas quando nosso cérebro trabalha. Se não se dorme bem, as toxinas se acumulam e isso contribui para a neurodegeneração— diz Rita Ferreira, psiquiatra do Programa Terceira Idade/Proter do IPq .

Quanto mais bons hábitos forem adotados, melhor. Mas se tiver que começar por apenas um aspecto, a recomendação é o exercício físico.

— A grande mudança, se formos escolher uma, é a atividade física porque ela vai melhorar as outras coisas — diz Jerusa.

Por exemplo, fazer atividade física é um fator importante no controle da hipertensão, do colesterol, do peso, da depressão, além de ajudar na adoção e manutenção de outros hábitos saudáveis, como sono e alimentação. E não é só isso. A atividade física por si só tem um impacto positivo na saúde cerebral ao contribuir para a neurogênese (processo de geração de novos neurônios) e para o aumento das sinapses.

Sempre é tempo

Quanto mais cedo essas alterações no estilo de vida forem realizadas, maior seu impacto na prevenção do Alzheimer. Por outro lado, é importante ressaltar que nunca é tarde para começar. E elas podem, inclusive, ajudar quando os primeiros sinais da doença já se instalaram.

— Prescrevemos para pessoas que já têm alguma fase inicial de demência porque isso vai ajudar e evitar que as coisas piorem mais rapidamente — completa Rita.

Por fim, mas não menos importante: é fundamental procurar ajuda assim que os primeiros sinais de problema de memória aparecerem.

— No envelhecimento, é comum as pessoas ficarem mais lentas, mais desatentas e esquecerem temporariamente coisas que não são importantes. No Alzheimer, a pessoa começa a ter perdas de memória de fixação, ou seja, coisas que ela deveria guardar, e não guarda — diz Tania.

Embora o Alzheimer ainda não tenha cura, há tratamentos e qualquer intervenção, mesmo no estilo de vida, tem mais chance de resultado quanto antes iniciada.

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