Depressão não está relacionada com baixos níveis de serotonina, o hormônio da felicidade

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Médicos explicam como a depressão se desenvolve nas diferentes etapas da  vida - Revista Galileu | Saúde

Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (20) na revista "Molecular Psychiatry" aponta que a depressão não está necessariamente ligada a baixos níveis de serotonina, um neurotransmissor conhecido com um dos principais hormônios da felicidade. Essa descoberta pode ampliar o leque de tratamentos aplicados para a doença, já que atualmente a maioria é fundamentada por essa lógica.

A abordagem tradicional envolve o uso de medicamentos chamados de inibidores de recaptação da serotonina, responsáveis por aumentar a presença desta substância no corpo. No entanto, o estudo afirma que é "hora de reconhecer que a teoria serotoninérgica da depressão não é empiricamente fundamentada".

A investigação publicada na "Molecular Psychiatry" foi liderada por Joana Moncrieff, da divisão de Psiquiatria do University College London, Reino Unido. Feita com base na revisão das 17 principais linhas de pesquisa sobre o assunto, revela que nem todos os pacientes diagnosticados com depressão possuíam baixos níveis desse neurotransmissor.

Outro aspecto que corrobora essa revelação foi a comparação com indivíduos que fizeram usos de métodos para reduzir a serotonina, o que não induziu um quadro depressivo.

"A teoria do desequilíbrio químico da depressão ainda é apresentada por profissionais, e a teoria da serotonina, em particular, formou a base de um considerável esforço de pesquisa nas últimas décadas. A ideia de que a depressão é o resultado de um desequilíbrio químico também influencia as decisões sobre tomar ou continuar a medicação antidepressiva e pode desencorajar as pessoas a descontinuar o tratamento, potencialmente levando à dependência dessas drogas ao longo da vida", afirmam os pesquisadores.

Comparação com dor de cabeça e aspirina

Sem ter participado diretamente do estudo, Christian Kieling, psiquiatra e diretor do Programa de Depressão na Infância e na Adolescência (ProDIA) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, afirma que "dizer que a depressão é causada por déficit de serotonina é quase como dizer que dor de cabeça é falta de aspirina".

O médico conta ainda que dentro do meio acadêmico a notícia não soa como novidade, uma vez que nunca houve embasamento científico sólido para atestar que a diminuição desse neurotransmissor ocasione a doença.

Os métodos para estudar o cérebro são limitados, já que não é possível realizar procedimentos como uma biópsia, e exames de imagem como tomografia e ressonância magnética surgiram há poucas décadas.

"O que esse estudo nos traz de maneira valiosa é que a causa da depressão não é simples assim", avalia o psiquiatra. Sendo produto de uma interação complexa, afirma o pesquisador, a doença precisa ser abordada de maneiras diversas, assim como são várias as possíveis causas de seu surgimento.

No entanto, o médico reitera a eficácia desses remédios, que não devem ser descontinuados sem a orientação de um profissional. "Pelo menos dois terços dos pacientes que tomam apresentam uma melhora, o que não é pouco tendo em vista que a depressão afeta 300 milhões de pessoas no mundo", diz Kieling.

A psiquiatra Luciane Ikeda do Hospital Albert Sabin vê a conclusão do estudo com ressalvas.

"O que se sabe que em doenças em que realmente há falta da produção de serotonina há sim a apresentação de sintomas psiquiátricos depressivos e psicóticos. A mente humana é complexa a sua expressão é oriunda de vários componentes. Os neurônios se comunicam pelos neurotransmissores e a deles a longo prazo sempre causa anormalidades no cérebro, visto doenças genéticas raras como Hartnup, fenilcetonúria e etc", explica a médica, que não participou do estudo.

Kieling conta que ao prescrever o remédio, o médico não o faz olhando para possíveis causas da depressão, como um evento traumático ou o suposto "desequilíbrio químico", mas sim porque existem ensaios clínicos bem conduzidos que comparam resultados de quem tomou placebo e de quem não, comprovando que o remédio é evidentemente eficaz.

Assim, o caminho sugerido por essa nova pesquisa indica que tratamentos não farmacológicos devem ser considerados tão relevantes quanto os remédios e a abordagem médicas devem ser tão diversas quanto as possíveis causas da doença.

"Se a depressão fosse um déficit, bastaria corrigir, e esse pensamento simplista faz as pessoas não buscarem outras estratégias para o manejo da depressão, como psicoterapia. Temos evidências robustas mostrando os benefícios da atividade física. O mecanismo a gente não entende, mas sabemos que melhora. Assim, podemos ter uma visão de saúde pública e poder desenvolver movimentos de prevenções, olhando para ela como um fenômeno mais amplo", finaliza o psiquiatra.

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