Como ser um turista engajado e consciente na hora de viajar

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Férias sustentáveis: como ser um turista engajado e consciente na hora de viajar

Que delícia é o verão! E, junto com ele, o mês de janeiro é sinônimo de férias para muitos brasileiros. Enquanto crianças e adolescentes entram no recesso escolar, famílias decidem os destinos para curtir essa temporada da melhor forma. Mas nem sempre a escolha do lugar é uma tarefa fácil, ainda mais em tempos pandêmicos. Espaços naturais, sem aglomerações, podem ser uma saída.

Alguns turistas mais conscientes já se atentam às práticas sustentáveis de hotéis e agências de turismo na hora de escolher o seu destino, mas esse número ainda é pequeno. Muitos ainda optam por viagens para grandes cidades, marcadas por compras excessivas e pelo conforto de hotéis convencionais.

Mas saiba que para ser um viajante responsável não é preciso abrir mão dos prazeres, tampouco é preciso escolher somente destinos "no meio do mato". É possível ser responsável e consciente dentro de diferentes tipos de viagem, visando impactar positivamente o ambiente natural e a comunidade do local visitado.

De acordo com um artigo publicado na revista Nature em 2018, o setor de turismo é responsável por 8% das emissões globais de gases de efeito estufa, sendo a maior parte resultado da aviação (40%), de outros tipos de transporte (30%) e do consumo de bens e serviços (30%). Além disso, a extensa e massiva presença de turistas em ilhas paradisíacas e conhecidas metrópoles ao redor do mundo também contribui para o aumento de lixo, que, muitas vezes, vem acompanhado de um descarte incorreto, e impacta áreas como dunas, praias e recifes de coral.

A seguir, alguns cuidados que devem fazer parte da cartilha de um viajante consciente:

“Quando falamos em turismo responsável, oferecemos a ideia de que o indivíduo é parte da solução. Quando ele visita um local desconhecido, a sua conduta deve ser de acordo com as leis do local: respeitar os horários, as normas de limpeza, de poluição sonora e de descarte de resíduos, por exemplo", diz Ginessa Correa Lemos, turismóloga e coordenadora da Reserva Natural Salto Morato, mantida pela Fundação Grupo Boticário no litoral do Paraná.

Segundo ela, o turismo comum pode deixar profundas marcas nos lugares visitados. "Sabemos que nem sempre é possível cumprir com todos os requisitos para uma viagem 100% sustentável, mas existe algo, por menor que seja, que sempre é possível fazer”, destaca. Em todos os casos, é preciso estar atento para o risco de greenwashing, a famosa propaganda ou maquiagem verde enganosa.

Para a especialista, com a fixação crescente das redes sociais por lugares mais “instagramáveis”, que os visitantes desejam registrar e postar em suas redes sociais, cair nessa pegadinha ficou mais fácil. “Espaços 'maquiados' sempre vão existir e são esses onde as comunidades locais são mais marginalizadas. Quando você vê um resort na beira da praia, vale refletir que uma população foi literalmente colocada para trás para que os turistas ficassem na frente. Um pensamento válido nesses momentos é se aquele hotel oferece oportunidade de emprego para a população que ali reside”, recomenda.

Nesse sentido, olhar para as questões socioambientais e econômicas pelas quais o destino passa é fundamental para uma viagem mais sustentável. Um ponto positivo, segundo a jornalista Ana Duek, diretora do site Viajar Verde, é quando o hotel oferece, por exemplo, uma colheita coletiva na horta orgânica dos alimentos que serão servidos no restaurante da hospedagem ou se oferece uma visita às comunidades locais "de forma que haja uma troca afetuosa e verdadeira entre ambas as partes, deixando um residual positivo no local por parte dos turistas – e não apenas uma coleção de fotos”.

Ela alerta ainda para os efeitos colaterais que uma visitação mal planejada pode causar nas comunidades. "Estamos indo para um lugar que é a casa de outras pessoas e o comportamento que adotamos ali afetará aquelas pessoas posteriormente. Um exemplo disso é quando pessoas levam Covid-19 para pequenos vilarejos ou ilhas com pouca infraestrutura para lidar com o aumento da doença”, critica.

Outros pontos que valem a atenção são se o hotel faz a separação correta de resíduos, e como realiza a economia de água. “Mesmo que você vá para um hotel luxuoso no meio de uma grande metrópole, você pode repensar a troca diária de toalha, por exemplo, e o uso desenfreado de embalagens descartáveis de xampu e de condicionador. É possível ter consciência com lazer”, ressalta Marcus Nakagawa, professor da ESPM e especialista em sustentabilidade, autor do livro 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo.

Os especialistas recomendam que os turistas fiquem atentos às empresas, agências e hotéis que se dizem sustentáveis ou que fazem uso de selos sustentáveis, mas que não correspondam na prática.

Vontade de estar ao ar livre

Apesar de muitos males que a pandemia do Covid-19 trouxe, um aspecto positivo prevalece para muitas pessoas: a vontade de estar ao ar livre. O Relatório Booking.com de Viagens Sustentáveis 2021 revelou que 78% dos viajantes brasileiros acreditam que a pandemia os incentivou a viajar de maneira mais sustentável. Além disso, de acordo com o relatório da Amadeus Rebuild Travel Survey muitos especialistas acreditam que o turismo só pode prosperar se seguir o caminho da sustentabilidade.

“A busca por áreas abertas e em meio à natureza aumentou, por mais que não seja necessariamente um aumento do ecoturismo, de viagens mais aventureiras", observa Ana Duek. Os benefícios de visitar unidades de conservação, regiões de montanhas e de cachoeiras, são inúmeros. “O impacto positivo é para a saúde do planeta e para a nossa própria saúde também. Existe uma série de estudos que comprovam a redução de ansiedade e de estresse que o contato com a natureza proporciona”, acrescenta a coordenadora da Reserva Natural Salto Morato, Ginessa Correa.

Olhar curioso e questionador

Realizar viagens conscientes é sobre levar para qualquer que seja o destino as práticas sustentáveis que já são parte do dia a dia pessoal. “Não é porque você entrou de férias que deverá deixar de lado o cuidado com os resíduos e com o gasto de água. Você não vai parar de escovar os dentes só porque entrou de férias, então leve consigo seus hábitos básicos por onde quer que passe”, afirma Nakagawa, da ESPM.

De modo geral, o turista engajado e consciente é também aquele que questiona e que mostra um olhar curioso ao longo de toda a jornada fora de casa. A troca verdadeira com a comunidade local, inclusive investindo em artesanatos ao invés de comprar em lojas de souvenires, é um dos caminhos para isso.

Escolher um destino de forma consciente também passa pela escolha do transporte que te levará até o destino. “Caso você opte pelo avião, vale conferir se a sua companhia aérea oferece a opção para compensar a pegada de carbono daquele trecho, por exemplo. Além disso, ser consciente também passa por visitar lugares que façam parte de uma área de preservação ou que beneficiem as comunidades locais e façam a economia da região circular, bem como escolher guias locais para te acompanhar nos passeios”, reforça Nakagawa.

 

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