Pesquisadores da Universidade de Toledo (UToledo), no estado de norte-americano de Ohio, desenvolveram uma vacina experimental que vem se mostrando uma promessa na prevenção da artrite reumatoide, uma doença autoimune dolorosa que atualmente não tem cura. As descobertas foram detalhadas em agosto, em artigo na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, e representam um grande avanço.
Uma das enfermidades autoimunes mais comuns, a artrite reumatoide ocorre quando o sistema imunológico ataca e quebra tecidos saudáveis do próprio corpo, principalmente o revestimento das articulações de mãos, pulsos, tornozelos e joelhos. Estimativas sugerem que ela afeta 1% da população global. “Apesar da prevalência, não há cura e não se sabe inteiramente qual a causa. E isso é verdade para quase todas as doenças autoimunes, o que torna o tratamento ou a prevenção delas tão difícil”, destaca a autora principal do artigo, Ritu Chakravarti, professora assistente da Faculdade de Medicina e Ciências da Vida da UToledo, em nota. “Se conseguirmos comprovar clinicamente essa vacina com sucesso, será revolucionário”.
Estudo identificou papel de proteína por acaso
A pesquisadora estudou durante anos uma proteína chamada 14-3-3 zeta e seu papel em patologias imunológicas, como aneurismas da aorta, e na interleucina-17, uma citocina associada a distúrbios autoimunes. Com base no trabalho anterior de Chakravarti, o grupo de pesquisa se concentrou na proteína como um gatilho potencial para artrite reumatoide.
Mas eles descobriram o oposto. Em vez de prevenir, remover a proteína por meio da técnica de edição genética causou artrite precoce severa nos animais-modelo. Passaram então a trabalhar com essa nova teoria de que a zeta 14-3-3 protege contra a doença.
A equipe, enfim, desenvolveu uma vacina baseada em proteína usando a zeta 14-3-3 purificada cultivada em uma célula bacteriana. Os resultados iniciais mostraram uma resposta forte imediata — e duradoura — do sistema imunológico inato do corpo, fornecendo proteção contra a doença. “Para nossa surpresa, a artrite reumatoide desapareceu totalmente nos animais que receberam a vacina”, explica Chakravarti. “Às vezes, não há maneira melhor do que o acaso. Aconteceu de chegarmos a um resultado errado, mas acabou sendo o melhor. Esses tipos de descobertas científicas são muito importantes nesse campo”.
Importância terapêutica
Além de suprimir o desenvolvimento de artrite, a vacina melhorou significativamente a qualidade óssea — uma descoberta que sugere haver benefícios a longo prazo após a imunização.
Atualmente, a artrite reumatoide é tratada principalmente com corticosteroides, drogas imunossupressoras feitas em larga escala, ou produtos biológicos mais novos e direcionados que têm como alvo um processo inflamatório específico. Embora essas drogas terapêuticas possam aliviar a dor e retardar a progressão da doença, também podem tornar os pacientes mais vulneráveis a infecções e, no caso de produtos biológicos, podem ser caros.
“Há muitos anos não fazemos grandes descobertas para tratar ou prevenir a artrite reumatoide”, ressalta Chakravarti. “Nossa abordagem é completamente diferente. Essa é uma estratégia baseada em vacina a partir de um novo alvo que esperamos poder tratar ou prevenir a doença. O potencial aqui é enorme.”
Os pesquisadores solicitaram uma patente da descoberta e estão procurando parceiros na indústria farmacêutica para apoiar os estudos de segurança e toxicidade na esperança de estabelecer um ensaio pré-clínico. Ainda tem muito chão pela frente.