Canoa maia achada no México estava em portal do submundo

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Ao lado da canoa, foram encontrados ossos de diversos animais, inclusive, um metatarso humano. Foto: Divulgação/INAH

Pesquisas conduzidas pelo Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) do México, em parceria com outros laboratórios arqueológicos internacionais, chegaram a novas conclusões acerca de uma canoa maia encontrada há dois anos em uma caverna subaquática. Os especialistas sugerem que ela pode ter sido criada como uma oferenda.

A embarcação foi localizada durante as escavações que antecediam um projeto ferroviário nos arredores das ruínas de Chichén Itzá, que um dia foi uma grande cidade maia. O objeto estava dentro de um cenote, um tipo de piscina natural de água doce comum na região, junto de diversas partes de esqueletos animais.

Com 2,15 metros de comprimento, 45 centímetros de largura e 36,5 centímetros de profundidade, a canoa está praticamente intacta, o que facilitou os trabalhos de análise pelos cientistas. Além do material da embarcação, foram estudados os 38 restos ósseos ao seu redor.

Novas observações

Segundo comunicado do INAH, dentre os ossos, foi identificada uma correspondência com exemplares de tatu, peru, cachorro, águia e, até, um metatarso de pé humano. Foi justamente a presença dessa estrutura humana e a preponderância dos restos de tatu que levaram os especialistas a teorizar sobre o uso da canoa maia num ritual.

“Os restos mortais do tatu, cuja habilidade de nadar permite prender a respiração e atravessar corpos d'água, seriam uma alusão à entrada no ‘submundo’. Na concepção maia, cenotes e cavernas inundadas ou semi-inundadas eram portais para esse espaço cosmogônico”, aponta a arqueóloga Alexandra Biar.

O uso ritualístico da canoa também é sustentado pela própria morfologia do barco. Jesús Gallegos Flores, porta-voz do INAH, explica: “A proa e a popa da embarcação são muito pesadas. Essa característica limitaria sua capacidade de navegação em águas mais dinâmicas”.

A partir dessas análises também foi possível identificar, com maior precisão, a idade do objeto. Inicialmente, acreditava-se que datava de 830 a 950 d.C., como a maioria dos achados arqueológicos da região; mas os testes com Carbono-14 mostraram que o material é do século 16.

Isso sugere que as práticas rituais maias associadas aos corpos d'água continuaram a acontecer mesmo durante o tempo de contato com os colonizadores espanhóis. Porém, os especialistas destacam que os dados podem ter sido alterados pela alta concentração de microplásticos no cenote. Por isso, já estão previstos novos mergulhos para colher amostras adicionais.

Em respeito à convenção da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) sobre a proteção de patrimônio subaquático, a canoa não foi levada para a terra. Assim, ainda submersa, todas as investigações conduzidas devem ser feitas in situ ou a partir de modelos 3D.

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