Cacho de cobra-verde é flagrado no Rio Grande do Sul; entenda o fenômeno

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O fenômeno registrado é chamado cientificamente de agregação reprodutiva - Foto: Telmo L. L. Santos

O fenômeno registrado é chamado cientificamente de agregação reprodutiva — Foto: Telmo L. L. Santos

“O fenômeno registrado é chamado cientificamente de agregação reprodutiva. Ocorre justamente no período reprodutivo e o objetivo é o sucesso da reprodução da espécie por meio da cópula”, explica a bióloga especialista em répteis, Karina Banci.

Cobra-verde (Philodryas olfersii) é espécie amplamente distribuída na América do Sul - Foto: Otávio Marques

Cobra-verde (Philodryas olfersii) é espécie amplamente distribuída na América do Sul — Foto: Otávio Marques

“As fêmeas secretam pela pele hormônios sexuais chamados feromônios. Por meio do olfato, os machos são atraídos até a fêmea, conseguindo, inclusive, seguir as trilhas de feromônios que as fêmeas vão deixando por onde passam. Eventualmente muitos machos são atraídos ao mesmo tempo por uma fêmea só, o que faz com que eles se agreguem em volta dela, tentando copular”, detalha.

De acordo com a especialista apenas um ou poucos machos conseguem efetivamente copular. “Isto acontece porque, ao terminar a cópula, o macho secreta uma substância gelatinosa, chamada ‘plug copulatório’, que acaba bloqueando a cloaca da fêmea por algumas horas ou poucos dias, tempo suficiente para os outros machos dispersarem. Dessa forma, garantem a paternidade – ainda que paternidade múltipla seja bem comum em serpentes”, completa.

O comportamento foi descrito em uma nota científica de história natural  - Foto: Reprodução/Herpetological Review

O comportamento foi descrito em uma nota científica de história natural — Foto: Reprodução/Herpetological Review

Fenômeno inédito para a espécie

Silara Batista, bióloga e autora da nota científica junto à Karina, destaca que há relatos de agregações reprodutivas com duração de uma hora até alguns dias e que o caso mais clássico desse comportamento é com a cobra-liga-comum, uma espécie norte-americana que costuma hibernar no inverno. “Quando chega a primavera os machos saem primeiro e, na saída das fêmeas, se agregam na tentativa de copular”, detalha a bióloga, que indica ser o primeiro registro do fenômeno entre cobras-verde (Philodryas olfersii) no Brasil.

“Apesar da riqueza de serpentes no País há relatos de agregação reprodutiva em poucas espécies, como a sucuri, a coral-verdadeira e, agora, na cobra-verde – descrita nesse trabalho”, diz.

Que vença o melhor

De acordo com Silara, a hipótese é de que o fenômeno aumenta as chances de sucesso reprodutivo da espécie. “Ao promover uma agregação de machos em volta de si a fêmea induz, indiretamente, uma seleção sexual. De acordo com a teoria, ela escolhe machos com maior ‘fitness’ reprodutivo, ou seja, indivíduos maiores, mais vistosos e mais saudáveis”.

“O benefício para a espécie é que as fêmeas produzirão filhotes de machos que têm maior probabilidade genética de gerar filhotes saudáveis e adultos com sucesso reprodutivo”, completa a especialista.

Espécie registrada

As serpentes registradas por Telmo são cobras-verde (Philodryas olfersii), espécie amplamente distribuída na América do Sul. “Apesar de não ser considerada peçonhenta, é uma serpente de interesse médico, pois há relatos de acidentes ofídicos com a espécie de gravidade baixa a moderada”, explica Karina.

Ciência Cidadã

Graças à curiosidade e preocupação de Telmo para descobrir do que se tratava aquele flagrante as cientistas puderam contribuir com informações técnicas que, depois de publicadas, servem de referência para pesquisas e ações de conservação das serpentes. “Muitos dos registros de história natural de serpentes são feitos a partir de fotos ou vídeos gravados por cidadãos comuns. Infelizmente nem sempre essas pessoas têm interesse ou acesso a um cientista que possa informá-la e orientá-la corretamente. Contudo, quando isso acontece, eventos interessantes e fundamentais para o estudo da fauna são realizados, como neste caso”, finaliza Karina.

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