O grupo de brasileiros que tenta deixar a Faixa de Gaza e está em uma escola desde quinta-feira (12) deve ser levado a um novo abrigo neste sábado (14).
Eles sairiam nesta sexta (13) com destino ao sul do território palestino, perto da fronteira com o Egito, mas o ônibus chegou atrasado devido a bombardeios de Israel. Como viajar à noite é pouco seguro, a partida foi adiada. Serão 25 km até a cidade de Khan Yunis.
O grupo será levado ao sul porque Israel determinou nesta quinta a retirada de civis do norte de Gaza, com prazo de 24 horas.
Buscaram abrigo na escola católica 19 brasileiros, sendo 11 crianças.
A jovem Shahed Al-Banna, de 18 anos, que está na escola, relatou na tarde desta sexta (noite em Gaza) que bombardeios atingiram locais próximos à escola. O grupo foi levado ao subsolo do prédio.
Mais cedo, em entrevista à GloboNews, ela fez um relato desesperado da situação em Gaza (veja abaixo), com a ordem de evacuação dada por Israel. Segundo estimativas, o deslocamento envolveria mais de 1 milhão de pessoas. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia consideraram o prazo dado por Israel impossível de ser cumprido.
“Estou desesperada. A situação está difícil, todo mundo está com medo. As crianças estão chorando, estou muito desesperada. Eu estou na escola e a irmã da igreja reuniu com a gente e disse que a escola não é mais um lugar seguro. Não podemos mais ficar aqui. Eu não quero morrer, gente.”
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‘Não quero morrer’, diz jovem brasileira em Gaza.
Colapso em Gaza
Gaza vive um colapso humanitário sob bombardeios de Israel, que também bloqueia o fornecimento de energia e comida em retaliação ao Hamas, que no sábado (7) matou civis em ataques terroristas no território israelense.
O número de mortos no conflito passou de 3 mil. São cerca de 1.800 do lado palestino (metade são mulheres e crianças, segundo autoridades palestinas) e 1.300 do lado israelense.
Crianças palestinas são atendidas em hospital de Gaza, que está sob bombardeio de Israel — Foto: Ali Mahmoud/AP
Desespero e insegurança
Na escola em Gaza, o grupo de brasileiros vive momentos de angústia e apreensão por não conseguir sair da área de conflito. A escola onde eles foram abrigados está na zona de evacuação, ao norte de Gaza.
Desde o momento em que receberam o aviso de Israel para deixarem o norte de Gaza, os brasileiros que aguardavam o resgate na escola se apavoraram.
O governo brasileiro já avisou a Israel que usava a escola como abrigo para seus cidadãos, mas não houve resposta sobre o pedido para o local não ser bombardeado.
Shahed, a jovem que falou à GloboNews, chegou nesta sexta junto com a irmã de 13 anos e a avó, de 64 anos. “Não tem ninguém ferido, mas a gente não pode mais ficar aqui. a gente vai deixar tudo, os alimentos, não vamos conseguir levar nada. Estou há seis dias sem dormir, eu estou tonta, não estou conseguindo mais pensar em nada, eu não sei o que fazer”, contou.
Shahed falou sobre o medo de sair de lá para o sul de Gaza.
“Quando eu falei com o embaixador, ele disse que ele tem dois ônibus para nos levar para o sul, que é onde os israelenses mandaram o povo daqui, e todo mundo está indo para lá. O caminho até lá é muito perigoso. Todo mundo está procurando um lugar no sul pra ir, achar alguém que pode receber a gente daqui. Só que não tem ninguém porque todos da casa estão indo”, explicou.
Pouco depois, a entrevista precisou ser interrompida porque as pessoas foram orientadas a deixar rapidamente a escola – alguns deles saíram. No fim da manhã, Shahed falou que o grupo deixou a escola e foi levado para a cidade de Khan Yunis, no Sul da Faixa de Gaza e fora da área de evacuação, a cerca de 25km. De lá até a passagem de Rafah, único acesso ao Egito, são mais 16km. Mas a fronteira ainda está bloqueada. E por falta de segurança, o grupo que saiu acabou retornando à escola.
Fronteira fechada
Enquanto isso, mesmo sem resposta de quando a passagem será reaberta, um avião foi cedido pela presidência da República para resgatar os brasileiros que estão em Gaza. A aeronave, com capacidade para 40 pessoas, chegou a Roma na manhã desta sexta.
Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV, afirma que sempre que a situação na região se agrava, o Egito, um país árabe, fecha a fronteira com Gaza – algo que acontece há anos. E diz que para obter a reabertura, a negociação é muito complexa.
“Por um lado, a população do Egito obviamente apoia a causa Palestina. Há muita preocupação de moradores no Egito com o que acontece com moradores de Gaza. Ao mesmo tempo, há uma compreensão de que o Egito tem meios muito limitados para receber essas pessoas, ou medo de que uma vez que eles saiam da Palestina eles nunca mais possam voltar, e que aquilo de certa maneira seria uma vitória para Israel, que quer reduzir o número de palestinos em Gaza”, argumentou o especialista.
“Mas ao mesmo tempo o Egito certamente é suscetível à pressão diplomática de outros países, afinal é um país que também depende do apoio econômico e da ajuda financeira de outros países”, analisou.