Bombardeios continuam entre Israel e Gaza apesar de negociações por cessar-fogo

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Bombardeios continuam entre Israel e Gaza apesar de negociações por cessar-fogo

Embora os movimentos diplomáticos em direção a um cessar-fogo tenham ganhado força após o pedido de Joe Biden por uma diminuição imediata do conflito entre Israel e Hamas, os bombardeios continuaram nesta quinta-feira (20), o 11º dia da pior crise na região em anos.
Os ataques com foguetes foram interrompidos por cerca de oito horas, mas, na madrugada, Israel deu início a uma nova sequência de ataques aéreos em Gaza, visando o que os militares disseram ser uma unidade de armazenamento de armas na casa de um oficial do Hamas e estruturas militares nas casas de outros comandantes do grupo islâmico.

Do lado israelense, os moradores começaram seus dias de trabalho sem o som habitual das sirenes de alertas, mas ela voltaram a soar no sul do país, embora nenhum dano ou vítima tenha sido relatado pelas autoridades.

Moussa Abu Marzouk, membro do braço político do Hamas, disse nesta quarta (19) acreditar que os esforços para chegar ao fim do conflito serão bem-sucedidos. "Espero que um cessar-fogo seja alcançado dentro de um ou dois dias, e será baseado em um acordo mútuo", disse.

Em entrevista a uma rádio, o ministro da Inteligência israelense, Eli Cohen, foi questionado se o país pretendia declarar trégua nesta sexta-feira (21). "Não. Definitivamente, estamos vendo uma pressão internacional muito significativa", disse. "Terminaremos a operação quando decidirmos que atingimos nossos objetivos."

Segundo a agência de notícias AFP, o gabinete de segurança do governo israelense deve se reunir ainda nesta quinta para avaliar a viabilidade de um cessar-fogo.

Autoridades médicas palestinas disseram que 230 pessoas, incluindo 65 crianças e 39 mulheres, morreram nos 11 dias de bombardeios aéreos que destruíram estradas, prédios inteiros e outras estruturas da Faixa de Gaza, o que agravou a escassez de alimentos, água potável e remédios, aumentou o risco de disseminação de Covid-19 e outras doenças e forçou mais de 52 mil palestinos a deixarem suas casas.

Do lado israelense, as autoridades contabilizaram 12 mortos, incluindo duas crianças, e 336 feridos. O país possui um avançado sistema de defesa contra mísseis e foguetes inimigos que, segundo os números oficiais, interceptou quase 90% dos cerca de 4.000 projéteis disparados de Gaza e minimizou os danos do conflito.

Civis de ambos os lados estão exaustos de medo e tristeza. "As pessoas em Gaza e em Israel precisam urgentemente de um descanso das hostilidades ininterruptas", disse Fabrizio Carboni, diretor regional para o Oriente Médio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Segundo diretores regionais da Organização Mundial da Saúde, a gravidade das lesões dos feridos palestinos está sobrecarregando um sistema de saúde que lidava com cenários de precariedade. Além disso, o fechamento dos pontos de passagem de Gaza para pacientes e equipes de saúde e as restrições à entrada de suprimentos médicos estão piorando a crise.

A entidade fez um apelo de emergência para levantar US$ 7 milhões (R$ 37,05 milhões) para financiar a entrega de suprimentos nos hospitais palestinos pelos próximos seis meses. A ONG Médicos Sem Fronteiras também fez relatos semelhantes, alertando inclusive para a falta de bolsas de sangue para transfusões.

Um comboio da ONU com ajuda humanitária, incluindo 10 mil doses de vacinas contra o coronavírus, estava pronto para entrar em Gaza assim que recebesse permissão, disse Rik Peeperkorn, diretor da OMS para Cisjordânia e Gaza. "Até que haja um cessar-fogo acordado, todas as partes no conflito devem concordar com uma pausa humanitária para garantir o acesso".

De acordo com o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gabi Ashkenazi, no entanto, o Hamas quem estaria deliberadamente impedindo a entrada de ajuda de Israel no território palestino.

Nesta quarta, o presidente dos EUA, Joe Biden, acusado por seu próprio partido de falta de firmeza com Israel, falou por telefone com o premiê Binyamin Netanyahu pela quarta vez desde o início da crise atual e "comunicou ao primeiro-ministro que esperava uma desaceleração significativa hoje no caminho para um cessar-fogo".

Netanyahu, por sua vez, disse que aprecia o apoio de Biden ao direito de defesa de Israel, mas que vai "continuar esta operação até que seu objetivo seja alcançado: trazer de volta a paz e a segurança aos cidadãos de Israel".

A Assembleia Geral das Nações Unidas deve se reunir nesta quinta-feira para discutir o conflito israelense-palestino, mas as expectativas por ações concretas são baixas. Isso porque, apesar da declaração de Biden, os EUA vêm se opondo a resoluções no Conselho de Segurança da ONU que pedem o fim da violência por as considerarem inoportunas e ineficazes para acalmar a crise. Segundo a Casa Branca, a estratégia americana é baseada em "discussões silenciosas e intensas nos bastidores".

Nesta quinta, o Conselho de Direitos Humanos da ONU anunciou que fará uma sessão especial na próxima quinta (27) para abordar "a grave situação dos direitos humanos no Território Palestino Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental". O encontro, segundo o órgão, foi convocado em conjunto pelo Paquistão, no papel de coordenador da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), e pelo Estado da Palestina."

Embora possa encerrar a fase de hostilidades entre Israel e Gaza, é improvável que qualquer cessar-fogo aborde as questões fundamentais dos conflitos entre israelenses e palestinos.

O Hamas começou a disparar foguetes contra Israel no último dia 10 em retaliação ao que chamou de abusos dos direitos israelenses contra palestinos em Jerusalém durante o mês do ramadã, sagrado para os muçulmanos.

Os ataques com foguetes seguiram-se a uma série de confrontos entre as forças de seguranças israelense e grupos palestinos na mesquita de al-Aqsa e a uma decisão judicial em primeira instância que pode expulsar famílias palestinas de um bairro de Jerusalém Oriental alvo de disputas desde que foi anexado por Israel em 1967.

A sequência de violência entre Hamas e Israel é a mais grave desde 2014. O último grande confronto durou 51 dias e devastou a Faixa de Gaza, provocando as mortes de pelo menos 2.251 palestinos, a maioria civis, e de 74 israelenses, quase todos soldados.

O conflito atual também serviu de combustível para acirrar as hostilidades internas em cidades israelenses que antes eram vistas como símbolos da convivência entre árabes e judeus. Houve centenas de prisões e autoridades locais decretaram estados de emergência e toques de recolher.

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