O novo estudo sobre lobos-etíopes indicou que o animal, além de caçar, também encontra fonte de energia no néctar de flores — Foto: Divulgação/Adrien Lesaffre
Pesquisadores documentaram pela primeira vez na natureza um curioso comportamento entre os lobos-etíopes (Canis simensis): eles estão se alimentando de néctar encontrado em flores. Segundo os especialistas, alguns indivíduos chegam a visitar em uma única viagem até 30 unidades de Kniphofia foliosa, uma planta avermelhada típica da Etiópia.
Lobos de diferentes matilhas foram avistados comendo néctar. Há também algumas evidências que indicam a busca pelo pólen como um aprendizado social, com os indivíduos mais juvenis sendo levados aos campos de flores na companhia de adultos.
O estudo foi desenvolvido pelo Programa de Conservação do Lobo-Etíope (EWCP). Suas descobertas foram descritas em um artigo no periódico Ecology, publicado no último dia 19 de novembro.
Predador polinizador
Encontrado apenas nas terras altas da Etiópia, o lobo-etíope é considerado a espécie canina selvagem mais rara do mundo. Estima-se que existam hoje menos de 500 indivíduos vivos, os quais estão divididos em 99 matilhas restritas.
De acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o animal está ameaçado de extinção. Tal posição, inclusive, o coloca como a espécie carnívora sob maior risco do continente africano.
Claudio Sillero, fundador do EWCP, conta que soube da existência do néctar quando viu humanos filhos de pastores da região lambendo as flores. Curioso, decidiu provar o material por si próprio e percebeu que era agradavelmente doce. “Quando mais tarde vi os lobos fazendo o mesmo, eu sabia que eles estavam se divertindo, explorando essa fonte incomum de energia”, lembra, em comunicado.
Além disso, a equipe de pesquisa percebeu que, ao buscarem as flores, os focinhos dos lobos ficavam cobertos de pólen. Isso quer dizer que eles poderiam potencialmente transferir esse material de flor para flor enquanto se alimentam – basicamente atuando como agentes polinizadores.
Na prática, essa pode ser a primeira interação planta-polinizador conhecida envolvendo um grande predador. Assim como também pode ser o único registro de um grande predador carnívoro já observado se alimentando de néctar.
“Essas descobertas destacam o quanto ainda temos que aprender sobre um dos carnívoros mais ameaçados do mundo”, destaca Sandra Lai, autora principal do novo estudo. “Elas também demonstram a complexidade das interações entre diferentes espécies, mesmo diante da ameaça de perda e fragmentação do habitat”.