Uma foto do esqueleto SK3870 no local das escavações em York Barbican. Foto: Divulgação/Universidade de Sheffield
Um novo estudo arqueológico no sítio onde outrora foi a Igreja de Todos os Santos, em York Barbican, na Inglaterra, conseguiu identificar uma anacoreta que viveu reclusa durante o século 15. Os ossos de Lady Isabel German foram descobertos em 2007, junto de uma coleção de mais de 600 esqueletos escavados, e os resultados da análise foram publicados no periódico Medieval Archaeology.
Em comunicado, os pesquisadores indicam que o esqueleto (catalogado como SK3870) não foi encontrado no cemitério ao lado dos outros achados, e sim dentro das fundações da igreja, em uma pequena sala atrás do altar. Diferentemente dos demais, o corpo foi enterrado em posição agachada, com os joelhos próximos ao peito.
Segundo os especialistas, apenas os membros do clero ou os muito ricos eram enterrados dentro das igrejas nesse período histórico. Dessa forma, a localização dos ossos aponta SK3870 como um possível candidato a ser Lady German.
A análise de laboratório mostrou que a mulher enterrada na Igreja de Todos os Santos apresentava artrite séptica e sífilis venérea avançada. Os cientistas acreditam que essas condições teriam levado-a a viver com sintomas graves e visíveis de infecção afetando todo o corpo, além de, posteriormente, declínio neurológico.
Lauren McIntyre, pesquisadora responsável pelo estudo, aponta que, no período histórico em que viveu Lady German, havia uma forte associação entre as doenças e o pecado. Assim, “é tentador sugerir que alguém com doenças desfigurantes seria evitada ou quereria se comprometer a viver como uma anacoreta, de forma a se esconder do mundo”. Mas a pesquisa mostrou que esse pode não ser o caso.
Antes só do que mal acompanhada
"Os novos dados do estudo nos permitem explorar as possibilidades que Lady German escolheu para se dedicar a uma vida de solidão como forma de permanecer autônoma e no controle de seu próprio destino”, sugere McIntyre. Para ela, tornar-se uma anacoreta era uma alternativa às expectativas sociais da época.
No século 15, era esperado e imposto que as mulheres se casassem e, nesse processo, abrissem mão de sua autonomia para se tornarem "propriedade’" do marido. Assim, o estilo de vida religioso e recluso permitia manter-se solteira e ascender em um ambiente dominado pelos homens (como era a Igreja).
“Esse estilo de vida a teria tornado uma figura altamente significativa dentro da comunidade local. Por isso, ela teria sido vista quase como uma profeta viva”, descreve a cientista.