Em meio à volta da fome no Brasil, os grandes frigoríficos nacionais geram retornos bilionários a seus acionistas. A disparidade foi acentuada nos últimos dias, em um contexto em que surgem cada vez mais relatos de pessoas em desespero, disputando ossos e pelancas. É o que aponta levantamento realizado pelo economista Eduardo Moreira em seu canal no YouTube.
"É o dado que melhor ilustra a que ponto chegamos como sociedade", disse o economista no vídeo. Ele comentou a foto da capa da edição desta quarta-feira (29) do jornal Extra, que mostra três homens "garimpando" por ossos bovinos dispensados por um açougue. O registro repercutiu amplamente, como um símbolo da miséria criada pelo governo Jair Bolsonaro.
"Mais de 110 milhões de pessoas no Brasil vivem em situação de insegurança alimentar e mais de 20 milhões em fome", lembrou Edurado Moreira. "Logo depois de ver essa foto, alguns dados começam a se repetir".
O economista mostrou relatório do dia 28/09 das ações na Bovespa que mais subiram. Enquanto a Bovespa subia apenas 0,27%, ações da MRFG3 (Marfrig) subiam 7,15%. A BRFS3, da Brasil Foods, registrou alta de 7%.
No dia seguinte, prosseguiu, a bolsa brasileira caiu 3,05%. Nesta data, 87 ações tiveram queda e apenas 4 fecharam em alta. Estas são: MRFG3, BRFS3 e BEEF3 (Minerva) e JBSS3 (JBS).
"Nos mesmos dias onde a fome é o destaque, as empresas que produzem carne são as que mais sobem na bolsa", resumiu Eduardo Moreira.
"Valor das empresas explodiu"
O economista apontou que, em comparação com o desempenho do Ibovespa no último ano, as médias dos ganhos das empresas do setor de proteína "explodiram".
"Seja na média ponderada, seja na média aritmética, o valor das empresas produtoras de carne no Brasil explodiu", resumiu o economista. "Isso significa que principalmente por causa dos ganhos das últimas semanas, ao longo do último ano, essas 4 empresas aumentaram R$ 63 bilhões nos últimos 12 meses, sendo 18 bilhões apenas no último mês".
"Os 18 bi representam metade do valor do auxílio emergencial para a população, que custa R$ 40 bilhões", observou ainda Eduardo Moreira, enaltecendo ainda mais a desigualdade brasileira.