Em 2017, quando era colunista em outro site de finanças pessoais, eu escrevi um texto exatamente com este título – só acrescentei dessa vez o “respire”. Na ocasião, o que me chamou muito a atenção foi uma entrevista que uma colega, Aline Scherer, fez com a psiquiatra britânica Tara Swart.
Sabe aquele momento em que parece que vamos explodir (ou implodir) a qualquer momento? Que tudo parece estar contra a gente? Que a gente passa a pensar em jogar tudo para o alto e ir vender o famoso coco na praia ou mandar alguém catar o tal do coquinho? Nesses momentos, Tara Swart diz que estamos em nosso “modo de sobrevivência”. O que ela quer dizer com isso?
Entramos no “modo de sobrevivência” a que ela se refere quando somos submetidos a períodos prolongados de incertezas e temos de conviver com a sensação, por bastante tempo, de falta de controle sobre suas vidas. Alguma carapuça serviu aí?
Isso acontece, disse na ocasião a psiquiatra, porque nesses momentos, de estresse e vigilância contínuos (a gente não sabe o que acontecerá, então nos mantemos alertas) nosso organismo produz uma quantidade maior de cortisol, hormônio do estresse. Quando esse quadro se prolonga, o corpo entra no chamado “modo de sobrevivência” – o cérebro responde ao perigo percebido extraindo o sangue de todas as funções que não julga estritamente necessárias para a sobrevivência.
Quais as consequências?
A primeira característica é que, neste estado, temos uma diminuição da nossa capacidade de sermos empáticos, de regular nossas emoções, tomar decisões bem pensadas e sermos criativos.
“Além disso, é comum ter aquela voz negativa em sua cabeça que diz coisas como ‘eu deveria ir embora do país’, ‘minha empresa vai quebrar’, ‘não confio em minha equipe ou em meu chefe’”, disse Tara à Aline na ocasião. É comum também pessoas neste estado comerem e dormirem mal, o que ajuda a atrapalhar ainda mais a situação.
Quando li este meu artigo, percebi o quão atual ele é, afinal, o que foi a pandemia se não um grande estimulador de incertezas, um grande provocador de estresse? Todos nós fomos obrigados a sair de nossa zona de conforto, testar outros formatos de reunião, de relação, de contratação, de educação e tantos outros “ãos”. O medo de lidar com algo que não conhecíamos nos colocou em estado de alerta constante. O estado de alerta nada mais é do que nosso corpo jogando na nossa veia um monte de hormônio estimulante para estarmos prontos para correr a qualquer momento.
Adicionado a isso, muitas pessoas passaram por mudanças grandes em suas vidas, positivas e negativas neste um ano e meio. Algumas terminaram relacionamentos de anos, outras começaram um mais sólido; algumas foram demitidas e outras promovidas; algumas tiveram perdas irreparáveis na família e círculo de amizades e outras ganharam novos integrantes na família (ou só a minha timeline do Instagram que está recheada de bebês e grávidas????).
Por isso, resolvi trazer também as dicas que a Tara dá para passarmos por essa confusão mental, pela incerteza que não acaba, pelas transformações que ainda não conseguimos absorver em nossa mente e rotina.
E já alerto aqui: só há um caminho: dar ao cérebro 1) descanso, 2) combustível, 3) hidratação, 4) oxigenação e 5) adotar um padrão de hábitos de “simplificação”.
E como fazer isso?
- Ter um sono de qualidade é o primeiro passo (daqueles em que você não acorda várias vezes durante a noite).
- Comer bem e de forma saudável – o cérebro usa de um quarto a um terço da energia que a gente come. Foi comprovado, por exemplo, que juízes costumam tomar decisões mais severas em relação aos réus quanto mais distantes estavam do horário em que haviam feito uma refeição. Portanto, comer de três em três horas não é apenas papo de regime! As sugestões são: peixes gordurosos (como o salmão), ovos, abacate, nozes, sementes e bons óleos, como o de coco e o azeite de oliva.
- Beber meio litro de água para cada 15 quilos de peso corporal.
- Fazer curtos exercícios físicos, como caminhadas e subidas de escada já ajudam a oxigenar o cérebro. Esporte que goste, dança na frente na TV, corrida na esteira do prédio, vale TUDO para mexer o corpo. Respirar, meditar e praticar "mindfulness" também ajuda muito nisso.
- Simplificar a vida e a rotina. Ou seja, reduzir o número de escolhas que precisam ser feitas todos os dias. Tem gente que pode fazer isso usando a mesma roupa todo dia (Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, por exemplo) ou encomendando as marmitinhas para não ter que escolher o que comer e pensar em cozinhar. Tem gente que precisa aprender a falar mais “nãos” e não querer abraçar o mundo com as perdas (eu, por exemplo). O importante é cada um ter seu método próprio para “limpar” mais a mente e varrer o excesso de escolhas e opções do dia a dia.
“Parece algo anedótico, quase caricato, mas tem uma função: preservar seu poder de decisão para o que realmente interessa ou fará a diferença naquele momento”, diz Tara. “Aos que têm filhos e trabalham, sugiro escolher suas roupas e a dos filhos na noite anterior, no momento em que o poder de seu cérebro está baixo, de qualquer forma.”
É isso, pessoal! Espero que tenha sido útil. Queria aproveitar e deixar uma dica de um documentário que eu achei bem interessante e que fala um pouco sobre a libertação dos excessos e a busca pelo que, no fim de tudo, é o que estamos procurando sempre: a tal da felicidade.