Pardos superam brancos e são maioria no Brasil pela 1ª vez, segundo o IBGE
O Censo Demográfico 2022: Identificação étnico-racial da população, por sexo e idade: Resultados do universo, foi divulgado nesta sexta-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Darcy Ribeiro já dizia que a beleza do Brasil é o seu colorido e a sua mestiçagem. Levou algumas décadas após o seu desaparecimento (17/02/1997) para que a população brasileira naturalizasse a sua fala e assumisse que em nossas veias corre o sangue mestiço. O dado saltou do último Censo Demográfico realizado pelo IBGE, em 2022, trazendo à tona uma verdade que o preconceito e a desinformação escondiam e nos foi revelado hoje: 92,1 milhões de habitantes do país – ou seja, 45,3% de todos os brasileiros entrevistados – se declararam pardos.
A aferição da cor da população vem desde o primeiro censo, feito em 1872. Lá estavam as opções: branco, preto, pardo ou caboclo. Mas quem assumiria, em plena escravidão, que não era totalmente branco? Após trezentos e tantos anos de “convivência” com as práticas de humilhação e degredo sobre os pretos – calcula-se que cinco milhões atravessaram o oceano em condições sub-humanas nos porões dos navios que contrabandeavam gente -, o Brasil seguiu adoecido pelo preconceito arraigado. Agora, depois de muitas décadas de trabalho de conscientização e valorização da cultura ancestral dos pretos, pelo Movimento Negro, a população finalmente se revela como preta, parda, e verdadeiramente mestiça.
Já os brancos são um total de 43%, ou 88, 2 milhões. Estão, portanto, em minoria. Quem eram mesmo, as “minorias”, até há pouquíssimo tempo? Cansamos de ouvir inflamados discursos citando os pretos e outros segmentos, como as mulheres (51,5% da população) nesta situação de “minorias”. De acordo com os dados do censo, o aumento de pessoas que se reconhecem, hoje, como preta, subiu 42,3% da população. No recenseamento anterior, os pardos eram 43,1% da população, enquanto os pretos, 7,6%. O número agora dos que se reconhecem como pretos subiu para 10,2%. É importante alertar: são números encontrados por método científico aplicado por recenseadores presenciais.
Um dado significativo é que a população brasileira que se declara branca reduziu 3,1% em 12 anos e, não por acaso, está localizada entre os idosos. Na faixa entre 60 a 74 anos, 50,3% afirmaram ser brancos, 38,8% se auto denominam pardos e 10,2% pretos. Já na faixa jovem, mais afeita às mudanças de conceitos, à transparência e à autenticidade, – na faixa entre 15 a 29 anos, a parcela de pardos subiu de 45,6% em 2010, para 48,7% em 2022, enquanto o número dos que se dizem brancos caíram de 44,8% para 39,4% e pretos, 10,8%. É de se notar que, à medida que o Censo se encaminha para o Sul do país, ele vai ficando mais branco. Está localizada em Morrinhos do Sul (RG), a população mais branca do Brasil. Dos 3071 habitantes, 97,4% se declararam brancos. Daí se entende o posicionamento político mais à direita, quando a pesquisa se encaminha para a região. Há muito trabalho de conscientização a ser feito, contra o preconceito ainda congelado e evidenciado pelo Censo 2022. Mas Darcy tinha razão. O que nos colore e nos significa é o nosso povo e o seu colorido.