A perspectiva de quem estará prestes a deslizar do Pão de Açúcar até o Morro da Urca: descida de 755 metros promete 50 segundos de adrenalina e deve ser inaugurada até 27 de outubro. Foto: Brenno Carvalho
Foram retomadas na última segunda-feira as escavações para concluir a implantação da tirolesa que promete 50 segundos de muita adrenalina, numa descida de 755 metros do Pão de Açúcar até o Morro da Urca. Após uma paralisação diante de protestos, a Fundação Instituto de Geotécnica (Geo-Rio), da prefeitura, deu novo parecer favorável à continuidade do projeto, que deve ficar pronto até 27 de outubro, quando o bondinho faz 111 anos. Os visitantes poderão deslizar a até cem quilômetros por hora por quatro cabos. A capacidade é de cem pessoas por hora. Está prevista ainda a construção de uma espécie de plataforma de contemplação, de onde poderão ser vistas as saídas daqueles que vão embarcar na aventura. A novidade, porém, enfrenta resistências de entidades, como a Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio, e de moradores.
Todas as autorizações
O arquiteto Luiz Eduardo Índio da Costa, que coordena o projeto, disse que todas as intervenções para implantar a tirolesa já tinham sido autorizadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), além de terem sido apresentadas ao Conselho Consultivo do Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca (Consemana). No novo despacho, a Geo-Rio informou não se opor à execução do projeto. Mas apresentou algumas exigências, entre as quais a adoção de medidas para evitar a poluição sonora. Além disso, as escavações têm que ser manuais. Os operários nesse processo não poderão empregar explosivos. E as rochas devem ser umedecidas para evitar poeira.
— As escavações em rocha só estão sendo feitas em áreas que já haviam sido urbanizadas ao longo dos anos da operação do teleférico — explicou o designer Guto Índio da Costa, filho e sócio de Luiz Eduardo.
Nesta quinta-feira, a prefeitura explicou que a secretaria municipal de Meio Ambiente vinha acompanhando a execução da obra, em vistorias constantes, mesmo antes dos protestos. Ao identificar as intervenções na rocha, solicitou uma avaliação da Geo-Rio, se teria algum impacto.
Projeto da plataforma de onde vão partir os aventureiros; acima, o espaço para acompanhar quem encara o desafio — Foto: Reprodução
Outra medida anunciada ontem foi o pré-agendamento dos passeios. A intenção é afastar o risco de haver superlotação do cartão-postal.
— A ideia é que, ao chegar ao Pão de Açúcar, o usuário já tenha ingressos comprados pela internet, e tenha optado pelo passeio original ou pelo combinado com a tirolesa — diz Luiz Eduardo.
Como os aventureiros não poderão descer com câmeras e outros objetos em mãos, a concessionária que explora o bondinho adotará recurso semelhante ao de atrações de parques temáticos, como na Disney, nos Estados Unidos. A descida será filmada e fotografada. Ao fim do passeio, as imagens serão vendidas numa lojinha, junto com lembrancinhas da experiência.
Outras intervenções estão sendo planejadas para o Pão de Açúcar, ainda sem data para sair do papel. Para isso, os operadores submeteram ao Iphan a proposta de um plano diretor para reorganizar os espaços internos do parque. E agora aguardam uma orientação para prosseguir no seu desenvolvimento. Entre as propostas está uma reformulação do acesso ao espaço. Hoje, logo ao chegar no ponto turístico, o visitante aguarda o momento de embarcar em toldos instalados na Praia Vermelha. A ideia é fazer obras para remanejar áreas de serviço e criar uma nova área de espera já dentro da estação.
— No Morro da Urca, queremos ampliar o espaço reservado para os turistas no mirante. Para isso, sugerimos ao Iphan que o teatro seja reconstruído mais recuado, em área ocupada hoje por outras instalações — explicou Guto.
Ainda há críticas
A implantação da tirolesa e o desenvolvimento do plano diretor, no entanto, ainda provocam desconfiança entre montanhistas e vizinhos da atração. A presidente da Associação de Moradores da Urca (Amour), Juliana Freire, se diz preocupada com a poluição sonora gerada pelos gritos dos usuários do brinquedo, além de uma possível descaracterização do monumento.
— O Pão de Açúcar é um espaço de contemplação da cidade. Não é para um brinquedo desses. Inexplicável que os órgãos de preservação como o IRPH e o Iphan tenham liberado — disse.
CEO da Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar, Sandro Fernandes informou que foram feitos testes para estimar o nível de ruído propagado para o entorno:
— Nós colocamos caixas de alto-falantes debaixo do bondinho, reproduzindo gritos de mulheres. Lá embaixo, o ruído não passou de 40 decibéis. E haverá um novo teste na semana que vem — explicou.
A Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio (Femerj), por sua vez, prepara um dossiê que questiona não só o projeto da tirolesa, mas detalhes do plano diretor. A entidade enviou vídeos da obra ao Ministério Público Federal.
— A tirolesa é apenas o início de um plano que vai acabar com a identidade do Pão de Açúcar. Vão tratar um monumento que é símbolo do Rio como um parque qualquer. Faltou uma discussão maior com moradores e os usuários — disse o montanhista e ambientalista André Ilha, do Grupo Ação Ecológica (GAE), que denuncia ainda a ampliação da área total construída no monumento.
R$ 50 milhões investidos
Os coordenadores do projeto afirmam que a área construída não será ampliada. Sandro Fernandes rebate a crítica sobre falta de discussão:
— Esse projeto está em desenvolvimento há quase dois anos. Houve reuniões com a população para apresentar o plano. Os montanhistas, inclusive, têm assento no Consemana.
O representante da concessionária que administra todo o parque do Pão de Açúcar acrescentou que as intervenções para instalar a tirolesa e outras melhorias vão custar R$ 50 milhões. O valor do tíquete para usar o brinquedo ainda não foi definido, segundo ele. Hoje, o bilhete inteiro para o bondinho é de R$ 160. Turistas brasileiros pagam R$ 140, e moradores do Rio, R$ 80.