O mundo prendeu a respiração na terça-feira (15) depois que um míssil atingiu uma fazenda polonesa perto da fronteira com a Ucrânia, matando duas pessoas. Autoridades ucranianas imediatamente acusaram Moscou, enquanto seus patronos ocidentais invocavam o artigo do Tratado da OTAN sobre defesa coletiva. Logo descobriu-se que o míssil era ucraniano.
O apoio ocidental ao governo de Zelensky está mostrando sinais de tensão, com a insistência de Kiev de que o míssil de defesa aérea S-300 que caiu na vila de Przewodow, no sudeste da Polônia, era russo, apesar das evidências que apontava para o contrário, acrescentando insulto à injúria.
"Isso está ficando ridículo. Os ucranianos estão destruindo a confiança neles. Ninguém está culpando a Ucrânia e eles estão mentindo abertamente. Isso é mais destrutivo do que o míssil", disse um diplomata não identificado de um dos Estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) à Financial Times depois que o presidente da Ucrânia reiterou que Moscou foi responsável pelo incidente.
O presidente Zelensky chegou a afirmar que não tinha motivos para desacreditar do relatório elaborado pela Força Aérea ucraniana que informava que a explosão não teria sido causada por mísseis ou ataques do regime de Kiev e exigiu que a Polônia desse acesso ao local do incidente aos investigadores ucranianos. De acordo com ele, não poderia simplesmente aceitar a palavra de Varsóvia.
"Se, Deus me livre, alguns destroços mataram essas pessoas, temos que nos desculpar. Mas, desculpe, primeiro uma investigação, acesso, os dados que você tem — nós queremos ter isso", afirmou o Zelensky.
Ainda na quarta-feira (16), o chefe da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, após reunião do Conselho do Atlântico Norte em Bruxelas, afirmou durante coletiva de imprensa que não existiam indícios de que o incidente na Polônia significasse um ataque russo ao bloco.
"Uma investigação sobre este incidente está em andamento e precisamos aguardar o resultado, mas não temos indicação de que isso foi resultado de um ataque deliberado", disse Jens a repórteres após a reunião.
Posteriormente Stoltenberg veio à público desmentir a tese de que o incidente era resultado de disparos deliberados da Rússia, mas não sem apoiar a retórica Ocidental de que Moscou é culpada pelo conflito sem responsabilizar, com isso, as ações hostis do bloco militar em sua expansão para o Leste.
"Nossa análise preliminar sugere que o incidente provavelmente foi causado por um míssil de defesa aérea ucraniano disparado para defender o território ucraniano contra ataques de mísseis de cruzeiro russos. Mas deixe-me ser claro, isso não é culpa da Ucrânia. A Rússia tem a responsabilidade final enquanto continua sua guerra ilegal contra a Ucrânia", disse Stoltenberg.
Entre os aliados europeus da OTAN, Alemanha e Hungria pediram calma e uma investigação séria a ser realizada antes de qualquer acusação. "Em um assunto tão sério, não devem haver conclusões precipitadas sobre o curso dos eventos antes de uma investigação cuidadosa", disse o chanceler alemão Olaf Scholz, na quarta-feira.
"Na situação atual, o mais importante é manter a calma", recomendou o ministro da Defesa húngaro, Kristof Szalay-Bobrovniczky, na terça-feira, após convocar o Conselho de Defesa de seu país. "Também estamos nos exortando a ter muito cuidado para não tirar conclusões de longo alcance dessa avaliação neste momento", disse ele.
Nas redes sociais, as reações foram menos contidas. Diversos críticos do regime de Kiev, apontaram Zelensky como um "completo maníaco" tentando puxar o Ocidente para uma conflagração mundial, como tuitou o ex-congressista do Texas, Ron Paul.
"Lembra de ontem quando um míssil ucraniano atingiu a Polônia e Zelensky imediatamente culpou a Rússia e usou o incidente para tentar puxar os governos ocidentais para uma guerra nuclear global?", tuitou o comentarista político Matt Walsh.