O imóvel da empresa Multiteiner, onde o desabamento da laje de um mezanino deixou ao menos nove mortos em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, na terça-feira (20), estava irregular, segundo informações da prefeitura.
Em nota, a administração afirmou que o galpão está em uma área de proteção e recuperação de mananciais e que, por isso, é necessário um licenciamento da Cetesb (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) antes da licença municipal. No entanto, o projeto aprovado pela Cetesb acabou “irregularmente alterado” pelo proprietário.
Assim, a empresa ainda não havia concluído a fase de regularização junto à Cetesb e não tem, portanto, licença municipal. Ainda assim, operava normalmente e recebia até eventos públicos.
A queda da laje deixou ao menos nove mortos, de acordo com informações do Corpo de Bombeiros. Outras 31 pessoas foram resgatadas com vida.
A Multiteiner, localizada na estrada Ferreira Guedes, abrigava no momento um evento para cerca de 70 pessoas. Uma arquibancada montada no mezanino recebeu os visitantes e acabou desabando com o restante da estrutura, quando o evento já estava em seu final, por volta das 9h.
Entre os presentes estavam os candidatos aos cargos de deputado estadual – Jones Donizette , do Solidariedade – e a deputada federal – Ely Santos, do Republicanos. Eles tiveram ferimentos leves e não correm risco de vida.
Na tarde de terça, a ocorrência ainda não havia acabado de ser registrada na Delegacia de Itapecerica da Serra. Procurada, a empresa não se manifestou.
Cetesb
A Cetesb afirmou que realiza a análise das questões ambientais e índices ocupacionais do imóvel – área permeável e edificada – não avaliando as questões estruturais e a utilização do espaço para eventos públicos ou privados. O imóvel onde ocorreu o acidente está inserido em Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais Reservatório da Guarapiranga, sendo necessário, portanto, um alvará da Cetesb.
"A empresa possuía aprovação para o uso do local, porém, atualmente, se encontra em avaliação um pedido de licenciamento com vistas à regularização do empreendimento", relatou a companhia estadual.
Funcionários
Dois colaboradores da empresa Multiteiner afirmaram ao R7 que a estrutura que desabou era nova e servia de auditório. De acordo com um dos profissionais, que preferiu não se identificar, a empresa tinha diversas políticas de segurança e, por isso, em determinados locais era necessário que usassem EPI's (equipamentos de proteção individual). Além disso, havia também técnicos de segurança para a fiscalização.
Entretanto, ainda segundo ele, todo o material que era carregado lá é "muito pesado". "Nós trabalhamos com estrutura metálica pesada, não sei se alguma coisa bateu em alguma parte do auditório para acontecer isso. Nunca vi nenhum indício de que a estrutura estava danificada", disse.
O outro colaborador, que também preferiu não ter o nome divulgado e trabalha na firma há oito anos, diz que houve acidentes anteriormente na empresa, justamente por conta dos metais pesados com que trabalham, "mas não foi nada grave, socorreram e conseguiram fazer um acordo com a pessoa ali mesmo".
Mesmo assim, o homem afirma que sempre ficou na parte de cima do auditório, onde ocorreu o acidente, e nunca notou nem uma rachadura sequer. "Quando dá indícios de que pode haver um acidente, a gente fica em alerta, mas, nesse caso, não tinha nada. Realmente não esperava por isso."