A gastrite é uma inflamação da mucosa interna do estômago que provoca dor intensa, azia e queimação. Perda do apetite, náuseas e vômitos também são sintomas. Os alimentos que são tidos como “proibidos” são aqueles que, no geral, podem piorar os sintomas ou mesmo agravar a inflamação. Para entender melhor a importância da alimentação no tratamento e na melhora da qualidade de vida da pessoa com gastrite, o Eu Atleta conversou com a nutricionista Renata Buzzini e com a médica gastroenterologista Patrícia Marques. Na matéria, ainda sugerimos um cardápio de três dias voltado para quem tem a doença.
A gastrite é uma inflamação da mucosa interna do estômago que provoca dor intensa, azia e queimação — Foto: Istock Getty Images
Alimentos proibidos e seus efeitos
- Café;
- Bebidas gaseificadas;
- Bebidas alcoólicas;
- Para algumas pessoas, frutas e sucos de frutas ácidos;
- Alimentos embutidos, como salsicha, linguiça, bacon, presunto e mortadela;
- Alimentos gordurosos, como os queijos amarelos;
- Frituras;
- Condimentos, como mostarda, pimentas, catchup e molhos prontos;
- Molho de tomate;
- Lácteos, como leite integral, creme de leite, sorvetes e leite condensado;
- Carnes gordas, como costela, cupim e picanha.
Alimentos embutidos são ruins para a gastrite e também para a saúde no geral — Foto: Getty Images
De acordo com Renata Buzzini, a lista de alimentos "proibidos" para quem sofre com gastrite é longa. O café, por exemplo, é um deles, pois a cafeína tem um efeito direto na mucosa do estômago, provocando irritação. Isso piora quando ele é ingerido entre as refeições ou logo como o primeiro item do dia, o que comumente acontece. As bebidas gaseificadas também são vilãs para quem tem gastrite, pois são ácidas e provocam a parede do estômago, além de possuírem cafeína em sua composição. Os sucos ácidos, por sua vez, podem incomodar algumas pessoas, embora nem sempre sejam um problema para todos.
– É válido ressaltar que não é aconselhável tomar líquidos durante as refeições, afinal, o alimento ingerido precisa do ácido do estômago para ser digerido, e ao ingerir o liquido, este ácido fica mais diluído, o que tornará a digestão mais lenta e pode piorar tanto os sintomas de desconforto como a gravidade da gastrite – explica Renata Buzzini.
Ainda de acordo com a nutricionista, outras bebidas contraindicadas são as alcoólicas, pois elas possuem um efeito irritante sobre a mucosa gástrica, aumentando o tempo de esvaziamento gástrico. Se o paciente tem crise aguda de gastrite, pode até mesmo provocar erosão e sangramento do estômago.
E os embutidos são um grupo amplo de alimentos a serem evitados, ruins para a gastrite e para a saúde no geral.
– Possuem quantidades altas de sódio, gordura e aditivos químicos e provocam inflamações no organismo, além de outras doenças, como hipertensão e até mesmo câncer. Dentre eles temos: salsicha, linguiça, bacon, presunto, peito de peru, salame, mortadela. Também sugerimos que alimentos mais gordurosos como os queijos amarelos, frituras e os condimentos como mostarda, pimentas, ketchup e molhos prontos sejam consumidos com moderação. Assim como o molho de tomate, por conta da acidez – indica Renata Buzzini.
Outros dois grupos que entram na moderação são os lácteos, como leite integral, creme de leite, sorvetes e leite condensado, e as carnes gordas como costela, cupim, picanha, entre outras. Algumas pessoas podem ter gases e podem também apresentar intolerância aos alimentos que causam gases, como repolho, brócolis, feijão e couve-flor e, nestes casos, devem diminuir o seu consumo. Além dos alimentos "proibidos", a gastroenterologista Patrícia Marques ressalta que o tabagismo piora o quadro de quem sofre com gastrite.
– Na maioria dos casos, na fase aguda, recomendamos que sejam eliminados da dieta os alimentos muito ácidos, gordurosos, frituras, refrigerante, condimentados, embutidos e carne vermelha em grande quantidade. Afinal, esses são alimentos relacionados aos sintomas na maioria dos pacientes e de difícil digestão, dificultando a completa recuperação da inflamação da mucosa gástrica . Recomendamos que sejam feitas refeições leves e em pequena quantidade, as quais devem ser fracionadas várias vezes ao dia – explica a médica.
Alimentos recomendados
A maçã pode ter um papel importante para quem sofre com gastrite — Foto: Istock Getty Images
Nem tudo está proibido! De acordo com as profissionais, há uma lista de alimentos que podem e devem ser ingeridos. Sendo eles, basicamente, alimentos cozidos, de fácil digestão e naturais, como frutas não ácidas, carnes magras, vegetais e legumes. Vamos conferir a lista completa:
- Legumes e verduras cozidos, pois facilitam a mastigação e a digestão, dando uma aliviada nas funções do estômago;
- A maçã, para algumas pessoas, dá a sensação de alívio dos desconfortos gástricos, por conta de seu efeito antiácido;
- As frutas vermelhas possuem flavonoides, compostos antioxidantes que possuem o poder anti-inflamatório e cicatrizante;
- Muitas pessoas se sentem bem com as frutas cozidas sem casca, amassadas e até mesmo geleias feitas sem açúcar;
- Os peixes ricos em ômega-3 (maioria de água fria), que é um "óleo do bem", responsável por reduzir a inflamação do estômago e impedir o crescimento da bactéria H. pilory, principal causa da gastrite crônica.
Dicas para melhorar a qualidade de vida
A seguir, a nutricionista Renata Buzzini e a gastroenterologista Patrícia Marques listam algumas ações que visam melhorar a qualidade de vida dos pacientes com gastrite, confira:
- Coma devagar e se alimente várias vezes ao dia em menor quantidade;
- Não fique de jejum por mais do que 4 horas, pois o jejum prolongado pode aumentar a produção do ácido gástrico que impede a cicatrização da mucosa gástrica. O ideal é se alimentar de 3 em 3 ou no máximo de 4 em 4 horas;
- Evite se alimentar até 3 horas antes de dormir;
- Crie um diário alimentar para evitar um aumento da produção do suco gástrico, o que é absolutamente o que não se quer quando o objetivo é tratar uma gastrite. Nele, registre todos os alimentos e bebidas consumidos durante o dia, juntamente dos sinais ou sintomas de dor, refluxo, intensidade e função intestinal. Dessa forma, é possível identificar mais facilmente os alimentos responsáveis por causar ou piorar os sintomas e, assim, evitá-los;
- Prepare os alimentos com uma consistência mais suave, tipo purê, sendo importante também mastigar bem para que o estômago consiga digerir mais facilmente a comida.
Cardápio para quem tem gastrite
Não ficar muito tempo de jejum é importante para quem sofre de gastrite — Foto: Getty Images
De acordo com Renata Buzzini, a dieta para gastrite e úlcera pode variar de uma pessoa para outra, já que a tolerância aos alimentos não é igual para todos. Por isso, é importante que o nutricionista seja consultado para que seja feita uma avaliação geral e seja possível indicar um plano alimentar adaptado às necessidades de cada um. A seguir, a nutricionista passa um cardápio de três dias para quem tem gastrite, com sugestões mais generalizadas, com o intuito de ilustrar um pouco e dar uma breve orientação a quem necessita. Confira:
Dia 1
Café da manhã:
- 1 xícara de chá de gengibre
- 1 ovo mexido com 1 colher de sopa de ricota amassada
- ã1 torrada multigros
- 1 colher de sobremesa de geleia de frutas caseira sem açúcar
Lanche da manhã:
- 1 unidade de maçã cozida
- 1 colher de café de canela em pó
- 1 colher de sopa de amêndoas filetadas
Almoço:
- 1 porção de sobrecoxa asada sem pele
- 1 porção de arroz cozido com espinafre e cenoura
- 1 porção de vagem
Lanche da tarde:
- 1 xícara de mingau de aveia feito com leite vegetal e banana
Jantar:
- 1 posta de peixe
- 1 porção de legumes cozidos como brócolis e couve flor
- 1 porção de purê de abobora
Ceia:
- 1 xícara de chá de camomila
- 1 bolacha de arroz
- 1 colher de chá de queijo cottage
Dia 2
Café da manhã:
- 1 xícara de chá de alecrim
- Bolacha integral de aveia
- 1 fatia grossa de queijo minas
Lanche da manhã:
- 1 laranja Lima
Almoço:
- 1 filé de peixe grelhado
- Purê de abobora
- Escarola refogada
Lanche da tarde:
- 1 vitamina de leite de amêndoa batido com abacate
Jantar:
- 300ml de caldo de feijão coado com aveia em flocos finos
Ceia:
- 2 damascos com 2 castanhas do Pará
Dia 3
Café da manhã:
- 50ml de suco de aloe vera
- Pasta de amendoim natural
- Pão de forma de abóbora
Lanche da manhã:
- 1 iogurte rico em lactobacilos
Almoço:
- Cuscuz marroquino
- Sobrecoxa
- Aspargos
Lanche da tarde:
- 1 goiaba
- 1 fatia grossa de queijo ou coalhada firme
Jantar:
- 1 fritatta de ovo com repolho e tomate
Ceia:
- 50ml de suco de aloe vera
Causas da gastrite
A queimação é um dos principais sintomas de quem sofre com gastrite — Foto: Istock Getty Images
Segundo a gastroenterologista, a gastrite é uma doença caracterizada pela inflamação do revestimento interno do estômago. Vários são os fatores envolvidos como causa da gastrite. A infecção pela bactéria Helicobacter pylori (H. pylori) é a principal causa de gastrite crônica. Outras causas são: uso de anti-inflamatórios não esteroides, abuso de álcool e drogas e a causa autoimune. O estresse é um fator de risco.
– Já em casos de grande estresse para o organismo (cirurgias extensas, queimaduras de alta gravidade, infecções generalizadas e múltiplas fraturas), o paciente pode apresentar erosões na mucosa do estômago, gerando também gastrite erosiva – explica Patrícia Marques.
Sintomas
Em relação aos sintomas, a médica aponta que o paciente com gastrite pode não apresentá-los. Mas quando apresenta, são sintomas dispépticos como dor na região superior do abdome, tais como:
- Náuseas;
- Vômitos;
- Perda de apetite;
- Sensação de empachamento (peso) após a alimentação;
- Queimação.
Diagnóstico e tratamento
De acordo com Patrícia, o diagnóstico é realizado com endoscopia com biópsias e análise histopatológica (biópsia). Em relação ao tratamento, além da dieta, os medicamentos inibidores da bomba de prótons (pirazóis) e antibióticos, no caso da infecção pelo H.pylori, devem ser utilizados.
A médica ainda ressalta que a prática de atividade física ajuda no tratamento de gastrite de forma indireta, levando principalmente à redução do estresse, o qual pode piorar os sintomas dispépticos, além de fazer com que haja uma melhora no funcionamento do trato gastrointestinal.
Fontes:
Renata Buzzini é nutricionista especializada em Saúde da Mulher pela Faculdade de Saúde Pública (USP) e Especializada em Adolescência pelo Departamento de Especialidades Pediátricas da Universidade Federal de São Paulo/ Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM). Atua na área em sua clínica, a Cardapioterapia (@cardapioterapia), ministra cursos, aulas e workshops.
Patrícia Marques é médica gastroenterologista e endoscopista digestiva. Fez residência médica pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), fez especialização em ecoendoscopia pelo CFBEUS/Institute Paoli Calmettes Marselha França e possui título de especialista em endoscopia digestiva pela SOBED. É preceptora da residência médica de gastroenterologia da UERJ e médica da equipe de endoscopia dos hospitais Copa Dor e Quinta Dor.