A primeira onda de frio do ano fez as temperaturas despencarem no Brasil, com a sensação térmica ficando abaixo de zero no Sul do país, enquanto no Sudeste e no Centro-Oeste os termômetros também registraram queda acentuada. Nesses dias de frio intenso, a atenção com bebês e crianças deve ser redobrada. Afinal, eles sofrem bastante com as alterações de temperatura e é quando apresentam maior índice de gripe, resfriado, tosse e coriza, em razão do aumento das doenças respiratórias, que se propagam mais facilmente com o tempo seco e pelo fato de as pessoas manterem os ambientes mais fechados. Para garantir que os filhos fiquem protegidos e quentinhos nessa época do ano, selecionamos alguns cuidados que os pais devem ter com os pequenos — e com a casa. Confira a lista abaixo:
1. Na hora do banho
Uma dica importante é não deixar o bebê por muito tempo na água. Antes de começar o banho, deixe o chuveiro ligado para vaporizar o ambiente e evitar o choque térmico entre a água e a pele do bebê. Isso traz uma sensação mais agradável para a criança. Nessa época do ano, os banhos têm de ser rápidos — não leve brinquedos para o banheiro, pois isso distrai a criança e deixa o momento mais demorado. Além disso, os banhos não devem ser muito quentes e não se deve usar bucha na pele da criança, porque ela retira o fator de hidratação que temos naturalmente na pele. O melhor horário é entre às 15h e 16h, com a água em torno de 37ºC. "Se a casa estiver muito fria, melhor secar e trocar os pequenos dentro do banheiro, que deve estar quentinho", recomendou a pediatra e colunista da CRESCER, Ana Escobar em uma postagem realizada em seu perfil nas redes sociais. Ela também sugere que os pais tenham cuidado com os cabelos molhados. "A cabeça das crianças é uma região intensamente vascularizada e muito sensível à mudança de temperatura. Os cabelos molhados 'esfriam' a cabeça e, consequentemente, o corpo. Isso faz com que as defesas da mucosa respiratória fiquem prejudicadas, favorecendo a entrada e agentes agressores", afirmou a especialista.
2. Com a pele do bebê
Durante o inverno, o frio leva à diminuição na transpiração corporal e é isso que faz com que a pele fique mais seca, tanto em adultos, como em crianças. Por isso é tão importante o reforço da hidratação. As bochechas e as pernas dos bebês são as áreas mais afetadas pelo ressecamento, segundo o dermatologista Claudio Wulkan, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Assim, para evitar o problema, vale caprichar na hidratação desses locais. Já o hidratante mais adequado para cada criança e cada fase depende da recomendação do pediatra ou de um dermatologista. No geral, a pele ressecada não costuma causar maiores problemas, porém, em alguns casos, podem surgir pequenas lesões, permitindo a entrada de germes e bactérias. Nesses casos, vale consultar o pediatra para evitar infecções e passar pelo inverno sem grandes problemas.
3. Ao escolher as roupas
A melhor opção é vestir o bebê em camadas. Você pode colocar um body por baixo, uma calça e um macacão por cima. Opte por aquelas de algodão — sobretudo na primeira camada, que fica em contato direto com a pele — pois a lã pode dar alergia e ressecar a pele. Já o náilon não é adequado para baixas temperaturas. Como os bebês perdem muito calor nas extremidades, mãos, pés e couro cabeludo ficam mais gelados. Portanto, ao sair, coloque na criança luvas, meias e gorros. Existem também alguns modelos de macacões que vêm com um acabamento no punho que permite dobrá-lo por cima da mãozinha, funcionando como uma espécie de luva. Pode ser mais prático! Vale lembrar que é importante sempre ficar de olho na temperatura da criança, que deve estar entre 36,5 e 37,2 graus. Se o bebê começar a transpirar ou se mostrar irritado sem motivo, por exemplo, pode ser que esteja com calor. Nesses casos, retire uma camada das roupas. Para as maiores, que começam a testar sua automia e podem ficar mais resistentes a usar determinadas roupas, "os pais podem dar mais do que uma opção para o filha escolher, de acordo com o que eles julgam adequado. Assim, mesmo com essas limitações, a criança sente que tem uma participação na escolha", orienta Denise de Sousa Feliciano, psicanalista.
4. Ao sair de casa com o bebê
O ideal é evitar lugares aglomerados pelo menos até os dois primeiros meses, quando o recém-nascido toma a vacina Pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, infecções causadas por Haemophilus influenzae tipo b e hepatite B). Passeios antes das 10h e depois das 17h não são bons, pois nesses períodos do dia as temperaturas estão mais baixas, com mais vento. Evite, também, sair com a criança após dar banho nela. Mas, ao fazer qualquer passeio, vale lembrar que os carrinhos disponíveis no mercado são, em geral, bem adaptáveis às baixas temperaturas. Escolha um que tenha protetor para chuva e frio ou compre um protetor individual que se adapte ao modelo que você já tem. Só cuidado para não sufocar a criança! Os protetores devem sempre ter aberturas nas laterais para a circulação do ar. Mesmo as crianças maiores também devem estar bem agasalhadas e, em tempos de coronavírus, é sempre bom lembrar que o ideal é evitar aglomerações. "Quem estiver dentro de transporte público pode abrir um pouco os vidros para que o ar circule com mais facilidade", lembra a pediatra Ana Escobar, também em postagem feita nas redes sociais.
5. Com a ingestão de líquidos
Normalmente, mães e pais se preocupam em manter as crianças hidratadas no verão, mas se descuidam durante o inverno. É claro que o risco de desidratação durante as altas temperaturas é maior, uma vez que o calor faz com que as pessoas transpirem mais e, consequentemente, eliminem mais água do organismo. Porém, no inverno, a transpiração também acontece, só que por meio de outros mecanismos. “Quando a criança fica muito agasalhada em uma temperatura que não está tão baixa, ela também vai suar e desidratar”, alerta a pediatra Neuma Kormann, do Hospital Pequeno Príncipe (PR).
Também por conta da diminuição das temperaturas, é necessário haver um maior esforço metabólico para manter o calor do corpo, o que aumenta o consumo de água do organismo. Por isso, para saber se a criança está bem hidratada durante os dias frios, a melhor maneira é observar a urina, avaliando a cor, o volume e a frequência com que seu filho vai ao banheiro. O ideal é que o xixi seja claro, abundante e eliminado muitas vezes ao longo do dia. Outro sinal é observar a mucosa da boca: “A saliva tem que estar fluida, líquida, não espessa, como um chiclete”, diz Neuma. Olho encovado (conhecido como “olho fundo”) com pouco brilho e choro sem lágrimas também servem de alerta. Para evitar esse quadro, ofereça o líquido regularmente ao longo do dia e deixe sempre uma garrafa d’água à mão: seja na bolsa, no carro, na sala de brincar ou no quarto da criança.
6. Na hora de dormir
Vista seu filho em camadas, como já mencionado aqui anteriormente. Coloque primeiro o body, depois o pagão e por cima um pijama bem quentinho no bebê. Os macacões de flanela são ótimas opções. Nada de cobrir seu filho com cobertor, manta ou edredom para evitar que ele sufoque. Segundo o pediatra Felipe Monti Lora, do Hospital Infantil Sabará, de São Paulo, as ocorrências de morte súbita costumam ocorrer com mais frequência no inverno. "E o mais curioso é que, embora as mães se preocupem bastante com o frio, ele não está diretamente relacionado aos casos. Na verdade, o excesso de agasalhos e cobertores é que expõe as crianças a um risco maior. Isso porque, além do aumento excessivo na temperatura corporal — quando o sistema ainda não está maduro o suficiente para se regular rapidamente —, estes objetos facilitam a asfixia", diz o pediatra. Como os bebês mais novos ainda não têm autonomia sobre os movimentos, se as peças, por algum motivo, cobrem o nariz ou a boca, eles não conseguem se livrar sozinhos. Por isso, se estiver muito frio, você pode recorrer aos sacos de dormir. Eles são uma espécie de saco mesmo com a parte de cima parecendo uma regata e têm um zíper na frente para fechar, o que facilita a troca da fralda durante a noite.
7. Com o uso do aquecedor
Eles podem ajudar a manter os ambientes confortáveis para uma boa e relaxante noite de sono, mas também podem ser vilões, ao ressecar o ar e oferecer riscos para as crianças. Por isso, o ideal é sempre manter uma bacia com água ou uma toalha molhada próxima ao aquecedor e usar o aparelho apenas para elevar a temperatura do quarto, evitando deixá-lo ligado a noite toda. “A associação dos aquecedores com umidificadores de ar pode ser útil”, reforça o otorrinopediatra Rodrigo Guimarães Pereira, do Hospital Pequeno Príncipe (PR). “O ideal é ligar próximo do horário de adormecer, o que também ajuda no relaxamento do organismo, e, logo em seguida, desligar o aquecedor, pois o quarto vai ficar fechado e não vai haver renovação do ar. A pouca umidade [do ambiente] pode trancar o nariz e causar um despertar durante a noite”, acrescenta o otorrinopediatra Vinicius Ribas, da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (ABOPe) e do Hospital Otorrinos Curitiba.
8. Com a casa
Não se esqueça de que, mesmo com baixas temperaturas, é importante abrir a casa todos os dias, ventilar os ambientes e manter os cômodos sempre limpos. De acordo com a pediatra Ana Escobar, o ideal é arejar o quarto das crianças pela manhã e antes de dormir. Além disso, ela também indica que as famílias evitem elevadores cheios. "Certifiquem-se, enfim, de que seus pequenos estão respirando o ar mais “puro” que puderem", escreveu a médica em seu perfil nas redes sociais.
9. Para evitar doenças respiratórias
As doenças respiratórias mais comuns desta época do ano são transmitidas praticamente da mesma forma: em ambientes fechados e aglomerados, através da tosse ou espirro do infectado, ou por conta da não higienização das mãos. A prevenção, portanto, deve seguir a mesma linha de cuidados que aprendemos durante a pandemia. “A primeira coisa é não levar para a escola crianças com qualquer sintoma. Dor de garganta, febre… Além disso é importante evitar ambientes fechados, arejar os espaços, e manter o que aprendemos para a covid-19: distanciamento, higiene das mãos, evitar compartilhamento de itens…”, lembra Camila Almeida, infectologista do Hospital e Maternidade Santa Joana. A alimentação saudável também ajuda muito. "Uma criança bem alimentada e que dorme bem vai ter mais imunidade”, completou.