Um trecho do discurso do ministro do Meio Ambiente do Brasil nesta quarta-feira no plenário da COP26, a conferência do clima da ONU em Glasgow, causou controvérsia entre ambientalistas. Ao listar ações que o país estaria fazendo no setor, Joaquim Leite disse que "temos que reconhecer que, onde há muita floresta, há muita pobreza". A frase foi proferida quando o ministro defendia o programa Floresta+, anunciado pelo governo com o foco em PSA (pagamentos por serviços ambientais), no qual pequenas propriedades que preservam proporções razoáveis de cobertura vegetal recebem compensação.
A declaração também dá a entender que o desmatamento é uma atividade que ajuda a movimentar o PIB, uma noção ultrapassada entre economistas. Segundo estudos mais recentes, o desmatamento é impulsionado por uma dinâmica de especulação fundiária, gera ativos de duração transitória e promove concentração de renda.
Ambientalistas são em geral favoráveis a ações de PSA, mas a medida é vista como uma ferramenta para corrigir distorções no sistema econômico quando este não zela pelo bem comum, e não como um sinal de que o desmatamento favorece o desenvolvimento.
— Essa é uma frase infeliz e desatualizada — afirmou André Gonçalves, diretor-executivo do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), classificando a fala como uma "confissão de culpa". — O que acontece no Brasil é que a sociedade brasileira e o estado brasileiro foram incapazes de criar as condições para poder valorizar as populações, regiões e pessoas que convivem com a floresta em pé.
Como benefício da dúvida, pode-se dizer que a frase de Leite teve a intenção de promover uma política apoiada por ambientalistas.
— Para promover o desenvolvimento sustentável da região, criamos o Programa Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais Floresta+, que busca fomentar o mercado de serviços ambientais, reconhecendo e remunerando quem cuida de floresta nativa — afirmou o ministro no discurso.